Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

AP refaz a história, acusa Fair

ELEIÇÃO NA FLÓRIDA

A Fair (Fairness & Accuracy In Reporting, ou clareza & precisão na reportagem), sítio de crítica da mídia com sede em Nova York, deu forte puxão de orelha na Associated Press em 3/9. "Numa referência à disputada eleição presidencial de 2000, a AP reescreveu a história ? história essa que a própria AP ajudou a fazer", diz o texto.

Diz a Fair que, em matéria de 25 de agosto, sobre livro de Katherine Harris ? a secretária de Estado da Flórida, que desempenhou papel fundamental na controvertida eleição ?, a AP fez a seguinte contextualização: "Recontagens não-oficiais pagas por consórcios de agências de notícias mostraram que Bush venceu por margens variadas."

"Como a AP integrava o principal consórcio de mídia entre os que fizeram a revisão dos votos, tudo o que a agência precisava para contar direito a história era rever matéria dela mesma, de 11/11/2001", diz a Fair. "Eis como o telegrama da agência resumiu a questão na época: ?Uma recontagem completa em nível estadual de todos os votos poderia ter apagado a vitória de Bush por 537 votos e posto Gore na frente pela margem mínima de 42 a 171 votos, dependendo da definição de voto válido."

Prossegue a Fair: uma revisão menos rigorosa dos votos, feita pelo Miami Herald e o USA Today, produziu um resultado ainda mais ambíguo. Segundo outro telegrama da AP, de 11/12/01, a revisão mostrava que "Bush estaria à frente sob padrões mais estritos de avaliação dos votos, enquanto Gore lideraria sob padrões mais complacentes."

O resultado da recontagem dos votos válidos na eleição da Flórida é obviamente uma questão histórica importante, porque o estado determinou o resultado da eleição presidencial, defende a Fair. "A AP tem a obrigação de citar a história como ela realmente ocorreu."

A Fair, como de praxe, não fica no puxão de orelha: convoca os leitores a escreverem à AP exigindo a correção da frase na matéria de 25/8, de que a revisão promovida pela grande mídia na verdade "mostrou Gore vencendo na recontagem dos votos em todo o estado da Flórida". Para os interessados, o e-mail da AP: <feedback@ap.org>. O site da Fair fica em <www.fair.org>, e a íntegra da reportagem de 25/8 da AP pode ser lida em <www.cnn.com/2002/ALLPOLITICS/08/26/harris.book.ap/>.

ISRAEL-PALESTINA

A União de Jornalistas Palestinos declarou que os profissionais da imprensa estão proibidos de tirar fotos ou gravar imagens de crianças palestinas carregando armas ou participando de atividades de militantes. "Decidimos proibir qualquer filmagem de crianças armadas porque consideramos isto uma violação dos direitos da criança e pelos seus efeitos negativos sobre o povo palestino", disse Tawfik Abu Khousa, vice-presidente do sindicato. Além de prejudicar a causa palestina, diz o comunicado, as imagens comprometem a credibilidade dos jornalistas e servem "aos interesses de Israel". A união também ameaça boicotar grupos militantes que usam crianças e homens mascarados em suas atividades.

A ordem vale para jornalistas palestinos que trabalham para veículos locais e estrangeiros; o sindicato avisa que pode entrar com processo disciplinar contra os que desobedecerem à proibição. Segundo a AP [26/8/02], repórteres que se chocaram com autoridades palestinas no passado já chegaram a ter credenciais suspensas, o que impede o acesso a eventos oficiais. A Foreign Press Association disse estar preocupada com a decisão do sindicato e a ameaça de sanções contra os jornalistas. "Embora compartilhemos do desejo de defender os direitos das crianças, limitar a cobertura de eventos noticiosos legítimos e elementos da história não é uma maneira adequada de alcançar este objetivo."