Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Artur Xexéo

ROSINHA vs. O GLOBO

“O que foi que ela disse?”, copyright O Globo, 13/10/02

“Essa dona Rosângela Matheus é danada mesmo. Nem assumiu ainda e já descobriu que seu grande inimigo é… O GLOBO. ?Olha, eu creio que quem tá começando com mentiras e deturpando o que eu falo é o jornal O GLOBO?, disse a governadora eleita, tentando explicar a confusão que produziu ao mostrar que não está segura da necessidade de os presídios cariocas utilizarem bloqueadores de celular. ?Eu acho que a imprensa, O GLOBO, tem que ter um pouco de responsabilidade e não querer intrigar a gente com a sociedade ou deturpar o que nós falamos?, acrescentou a ex-primeira-dama. ?Espero que O GLOBO não comece cedo contra mim?, concluiu.

Tenho certeza de que, quando dona Rosângela acusa O GLOBO de mentiroso, intrigante e deturpador, não está se referindo a minha humilde pessoa. Eu, como todo mundo sabe, não tenho nada contra ela. Acho mesmo que dona Rosângela está trazendo de volta um pouco do glamour de que o Rio anda tão precisado. Aquele cabelo esticadinho, aqueles terninhos sempre em tom pastel… É praticamente uma Jacqueline Kennedy tropical.

Nada de Evita, como os maldosos se referem a ela. Evita gostava de peles, tiaras de brilhantes. Em comum com Evita, talvez, só mesmo a cintura marcada. E sei que não é fácil para dona Rosângela manter o peso. Ela faz a dieta da proteína, só toma refrigerante diet, cafezinho com adoçante… É dura a vida da revelação política das últimas eleições. O que só faz aumentar minha admiração por ela.

Desviando um pouco do assunto que motiva esta coluna, há, no entanto, algo estranho na dieta de dona Rosângela. Quanto mais ela emagrece, mais engorda seu marido, o ex-governador Garotinho. Não deve ser fácil determinar o cardápio na casa do casal 20 fluminense. Olha só, dona Rosângela tem tantas questões para resolver no comando de nosso estado e ainda tem que se preocupar com um cardápio que, ao mesmo tempo que engorde seu marido, a faça emagrecer. A dupla jornada, no caso de dona Rosângela, ganha uma inesperada conotação.

Já estava me esquecendo das camisetas. Nem Jacqueline, nem Evita ousaram tanto. ?Jesus é meu senhor?, diz uma; ?Jesus é 10?, mostra outra; ?Jesus me completa?, garante uma terceira. Dona Rosângela, definitivamente, é superfashion. E não se fala mais nisso.

Mas por que dona Rosângela está com tanta raiva do GLOBO? Porque precisou desmentir a notícia de que iria desativar o bloqueador de celular recém-instalado em Bangu I. Opa, dona Rosângela, então, está desmentindo o que ninguém disse que ela disse. O que foi que dona Rosângela disse? Repitamos:

– Nós estamos estudando porque a informação que eu tenho, e eu preciso confirmar, é que o bloqueador não vai bloquear só o sistema penitenciário, vai bloquear toda a região. Quem mora na região vai poder usar o celular?

Bem, isso foi o que a dona Rosângela disse. E o que foi que O GLOBO disse? Repitamos: ?Rosinha admite retirar de Bangu bloqueador de celular.? (Aqui é preciso explicar: Rosinha é como O GLOBO trata a governadora eleita. Eu, que não minto, não faço intrigas, não deturpo, só a chamo de Rosângela. Enfim, Rosinha e dona Rosângela são a mesma pessoa. Ou não?)

Dona Rosângela não gostou de ler que ela admite retirar o bloqueador. Mas não está certo? Se ela não admitisse, por que então estaria estudando? Está estudando o quê? Manter o bloqueador? E precisa? Só pode estar estudando retirá-lo, uai. Para quem já tinha dito que ia interromper os serviços do dirigível, é muito natural que se interprete sua declaração como quem admite retirar também o bloqueador de celular. Dona Rosângela detesta as iniciativas do ainda atual governo nas questões de segurança.

Eu sou totalmente a favor de que dona Rosângela estude sempre. Estude tudo. Estudar só faz bem. Mas, sinceramente, ela está pisando na bola na área de segurança. Não faz ainda nem uma semana que foi eleita e já deu duas declarações polêmicas, justamente nesta setor. Não me conformo com o fato de dona Rosângela não querer manter o dirigível que nos protege. Sem nem mesmo estudar a questão.

Será que ela sabe que, na captura de Elias Maluco, todo o mapeamento do Complexo do Alemão foi realizado a partir das filmagens feitas pelo dirigível? Será que ela não percebe que o dirigível aumenta… ahnn… como é mesmo que se diz?… ah, a sensação de segurança da população? Por que cargas d?água a governadora eleita implicou tanto com ele? É caro, eu sei. Mas e o custo/benefício?

O importante é que dona Rosângela está tirando uns dias de férias, em local incerto e não sabido, e, por alguns dias pelo menos, não corre o risco de fazer mais nenhuma declaração desastrada. É melhor assim. Espero que ela aproveite esta temporada para estudar. Estudar o dirigível, o bloqueador de celular, o orçamento do estado e o que mais for importante para a missão a que ela se propôs.

***

Ilka Soares jura que nunca morou no número 63 da Domingos Ferreira. A associação ficou menos bonita.”

 

CAPITAL ESTRANGEIRO

“Conselho de Comunicação quer estudar MP”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 14/10/02

“Em reunião durante toda a tarde desta segunda-feira (14/10), o Conselho de Comunicação Social decidiu criar uma comissão para analisar a Medida Provisória que regulamenta a entrada de capital externo nas empresas jornalísticas. A idéia é subsidiar as decisões do Congresso sobre a pauta. Embora os representantes das empresas no Conselho tenham se manifestado contrários à proposta, que partiu do conselheiro Daniel Herz, a maioria aprovou a criação da comissão, cujo coordenador será Paulo Machado Carvalho, representante das empresas de rádio.

O conselheiro Roberto Wagner, representante das emissoras de TV, declarou que o Conselho deve apoiar a MP. Carlos Chagas, representante da Associação Brasileira de Imprensa, rebateu afirmando que um assunto tão sério como este não pode ser tratado por medida provisória. Chagas ganhou o apoio de Herz, que lembrou um acordo de lideranças com o governo federal garantindo que a regulametação seria fruto de um projeto de lei, o que permite maior debate sobre o tema.

Entre os assuntos já discutidos esta tarde está a proposta da conselheira Regina Festa, representante da sociedade civil. Ela propõe que as empresas de Comunicação Social divulgem seus balanços ao CCS para mostrar as dificuldades financeiras pelas quais vêm passando. Quem não concordou com a idéia foi Paulo Cabral, representante da Associação Nacional de Jornais e presidente do Correio Braziliense. Ele afirma que a medida seria inútil, já que todas as companhias jornalísticas publicam anualmente seus balanços nos jornais, conforme determina a lei. Ele afirmou também que a situação de crise é crítica e que não cabe ao Conselho exercer posição controladora.

Não haverá debate dos presidenciáveis com os conselheiros

A desistência está relacionada às informações de que poderá haver apenas um debate na TV, como defende o candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva.

O CCS aguarda resposta da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados sobre ofício enviado ao órgão pedindo informações sobre o prázo máximo de 90 dias para que as empresas de radiodifusão enviem o pedido de renovação de concessões.

Comunicação Multimídia

O CCS vai encaminhar à Mesa do Senado recomendação para que seja entregue à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sua posição contrária à resolução sobre o Serviço de Comunicação Multimídia. O Conselho defende que as concessões tenham continuidade depois que a subcomissão de Tecnologia Digital do CCS conclua análise sobre a introdução da TV Digital no país.

Carvalho mostrou reportagem do jornal O Globo sobre a concessão de 113 pedidos para o serviço. Ele se diz preocupado com a geração de conteúdo sem nenhum tipo de controle.

Controle só se for classificatório

Entre as decisões do CCS está a de que qualquer controle sobre TVs e rádios deverá ser apenas classificatório. O Conselho considera qualquer outra tentativa censura aos veículos de Comunicação.”

 

JORNALISMO POR FREI BETTO

“Frei Betto diz que sua vocação sempre foi escrever”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 8/10/02

“O religioso dominicano Carlos Alberto Libânio Christo – o Frei Betto -, afirmou, em entrevista publicada no último número do jornal Marco, jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da PUC-MG, que sua vocação sempre foi escrever. Escritor e jornalista, ele diz que escrever ?antecedeu minha opção pela vida religiosa?. Em entrevista aos alunos Daniel Camargos e Maria Cecília Guimarães, do 6? Período, Frei Beto disse também que, caso houvesse alguma incompatibilidade entre ambas as alternativas, ?eu escolheria escrever, pois isto, para mim, é tão vital como respirar?. E completa: ?entrei para a vida religiosa, mas nunca deixei de ser jornalista?.

Autor de 48 livros, o último deles, ?Alfabetto – autobiografia escolar?, foi lançado em setembro passado e nele Frei Betto, nascido em 1944, faz um resgate da história do país sob a visão de sua geração, a partir de sua própria vida como estudante. Na entrevista, ele fez uma avaliação dos novos jornalistas brasileiros, formados ou em véspera de conseguir o diploma.

?Os novos jornalistas estão menos preparados do ponto de vista político e social, com menos sensibilidade ao contato com o público?, constata o religioso. ?Estão ainda muito mal domesticados pela parafernália eletrônica, como se fosse possível fazer bom jornalismo sem sair da redação, pela internet ou usando o telefone?.

Para Frei Betto, o jornalismo brasileiro atual ?ficou um pouco de salto alto, para meu gosto. O jornalista tem aquela pretensão de ser neutro, o que é uma grande bobagem?. Acrescenta que tem por costume forjar a seguinte frase: ?já que o jornalismo não pode alcançar a isenção, que pelo menos não caia no risco da omissão?.

?É grave quando a pretensão da isenção é somada com a omissão, quando o jornalismo deixa de abordar determinados temas por corporativismo, achando que vai encher a bola de não sei quem ou mesmo por preconceito, como é o caso do Movimento dos Sem Terra, o MST?, revela. E conclui constatando que ?o jornalismo brasileiro, hoje, tem uma mentalidade predominantemente elitista?.”