Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Aumenta a violência contra jornalistas

REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS

Jornalistas ao redor do mundo enfrentaram maior número de prisões, agressões, ameaças e censura em 2001 do que no ano anterior, denuncia o grupo Repórteres sem Fronteiras. Levantamento divulgado em 2 de janeiro mostra que o número de detenções praticamente dobrou, e as ocorrências de ataques e ameaças cresceram 40%.

Foram 31 jornalistas mortos no ano passado (um a menos do que em 2000), 15 deles por grupos armados ou milícias; em pelo menos três casos as autoridades tiveram alguma responsabilidade. Dez colaboradores de mídia ? entre técnicos e equipe administrativa ? também perderam a vida [100 profissionais de mídia foram mortos em todo o mundo no ano de 2001, segundo a a International Federation of Journalists ? remissão abaixo].

A Ásia foi o continente mais perigoso para repórteres, com 14 mortos. No Afeganistão, a baixa foi de oito correspondentes. Em um dos muitos casos tenebrosos relatados pela organização, o chinês Feng Zhaoxia, do diário Gijie Daobao, foi encontrado morto com a garganta cortada. Apesar dos protestos, a polícia rapidamente concluiu que ele havia cometido suicídio. Zhaoxia acabara de publicar artigos revelando a conivência de líderes políticos com a máfia local.

Pela primeira vez desde a década de 60, um jornalista foi morto na Irlanda do Norte. Martin O?Hagan, que trabalhava para o semanário Sunday World, foi acusado pelo grupo terrorista Defensores da Mão Vermelha de "crimes contra os legalistas", e morto em frente a sua casa. As poucas boas notícias vêm da África e do Oriente Médio, onde nenhum profissional da imprensa foi morto em atividade.

A impunidade ainda é regra ? quase nenhum assassinato foi solucionado. Em Burkina Faso, mais de três anos após a morte de Norbert Zongo, diretor do L’Indépendant, a investigação não avançou. O irmão do presidente do país, François Compaoré, seriamente envolvido no caso, só foi interrogado pela primeira vez em janeiro do ano passado. Casos semelhantes são relatados no Haiti, no Sri Lanka e na Ucrânia.

Em 2001, 489 jornalistas foram detidos; até 1? de janeiro deste ano, 110 permaneciam na prisão por sua atividade profissional. Quase a metade (50) está no continente asiático; 18 estão detidos no Irã, 12 na China, oito na Eritréia e sete no Nepal. Outros 716 sofreram ataques ou ameaças. Praticados por autoridades, bandos armados ou criminosos, esses casos nunca são investigados a sério. Em Bangladesh, mais de 130 jornalistas foram agredidos por ativistas de partidos políticos da situação; 30 colombianos foram alvo de ameaças ou ataques de grupos armados e, nos territórios ocupados por Israel, oito repórteres foram baleados e feridos ? segundo apuração da RSF, o exército israelense esteve por trás da maioria das ocorrências.

A censura atingiu 378 veículos de comunicação no ano passado (em 2000, foram 295). Na Turquia, mais de uma centena de emissoras de TV, estações de rádio e agências de notícias foram temporariamente fechadas pelo governo. Na maioria dos casos, a imprensa é acusada de "incitar a violência" ou "infringir a segurança do Estado" após criticar o regime ou cobrir certos movimentos de extrema-direita.

Em setembro, a Eritréia ordenou a suspensão de toda a mídia independente, tornando-se um dos raros países do mundo sem imprensa privada. No mesmo dia, oito jornalistas foram detidos e outros desapareceram ou fugiram do país. Já na Tunísia não há censura, simplesmente porque não há imprensa independente. Os poucos repórteres que tentam divulgar notícias na internet ou trabalham para órgãos internacionais têm suas linhas de telefone sistematicamente bloqueadas, grampeadas ou cortadas. A imprensa estrangeira é constantemente vigiada em muitos países. No Zimbábue, três correspondentes foram expulsos, enquanto o governo tenta aprovar lei que obriga os veículos a contratar funcionários nativos.

O documento conclui que uma das terríveis conseqüências do 11 de setembro para a imprensa foi a adoção de leis contra o terrorismo que enfraquecem o princípio básico de circulação livre da informação. No Canadá e nos EUA, algumas medidas questionam a proteção das fontes e aumentam a vigilância sobre a internet. O excesso de zelo acabou se mostrando agressivo no Cazaquistão, onde as forças armadas do Ministério do Interior ocuparam a estação de TV independente KTK, interrompendo temporariamente as transmissões. A explicação dada foi que, no contexto do conflito, todas as instalações estratégicas deveriam ser monitoradas pelo governo.

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