Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Baixaria pré-eleitoral (notas sobre o jornalismo declaratório)

Alberto Dines

 

O

repórter deve apenas ler para o entrevistado as perguntas que tirou do bolso ou também deve fazer perguntas sugeridas pelas respostas?

O repórter é um agente passivo ou dinâmico?

Uma entrevista é comandada pelo entrevistado ou pelo entrevistador?

A questão está exemplarmente exposta na matéria de capa de IstoÉ (1º de abril, 1998) com a entrevista de Itamar Franco.

A certa altura, falando sobre o governador Antônio Britto, disse o ex-presidente: "…Há coisas que vou levar para o túmulo. Tem até mulher no meio, gente convidada pelo meu governo…"

Qual a atitude correta do repórter – deixar no ar as insinuações, tal como queria o entrevistado, ou cobrar detalhes no fim da sentença? Se o entrevistado declara que vai levar um segredo para o túmulo e, mesmo assim, ardilosamente, arma um clima de suspeição sobre a vida privada de homens públicos, pode o repórter contentar-se com este jogo da fonte?

O repórter, como representante do leitor, não pode submeter-se aos interesses ou emoções de uma das partes da questão.

A prova de que aquela passagem deveria ter sido obrigatoriamente explicitada ou então suprimida na edição foi dada pelo próprio Itamar Franco, dias depois, quando tomou a iniciativa de esclarecer pública e inequivocamente que o governador gaúcho é um "honrado chefe de família".

Então por que não levou tudo para o túmulo?

Quando a Newsweek recusou publicar parte da história de Monica Lewinsky porque não possuía todos os elementos para comprovar sua veracidade estava simplesmente recusando-se a veicular intrigas ou jogadas. Sua credibilidade estava em jogo, e não a da fonte.

Veículo passivo é cúmplice da difamação emitida pelo entrevistado.

 

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