Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bate-boca na Folha desvenda parcialidades

OMBUDSMAN EM QUESTÃO

Alberto Dines

A Folha de S.Paulo no domingo, 15/9, à p. A-6, além da
coluna semanal do Ouvidor apresenta uma cena surpreendente: uma grande cotovelada
assinada pelo editor de Brasil, a respeito de comentários do "defensor
do leitor" no domingo anterior. Além do Ombudsman, o jornalão
hoje tem o ombudsman do ombudsman.

Fernando de Barros e Silva reclamou das reclamações de Bernardo
Ajzenberg contra um excessivo "serrismo" do noticiário em detrimento
das legítimas pretensões do "cirrismo" ou "lulismo".

Os dois certamente têm razão e razões. Esse é o
problema.

O jornal, apesar do centralismo decisório e dos equipamentos deontólogicos
a serviço de uma pretendida eqüidistância, é uma reunião
de capitanias com as respectivas subjetividades. Impõe-se aquela que,
no momento, dispõe de mais poder de fogo (ou destaque).

O resultado é que, em vez da neutralização das preferências,
o jornal dança de um lado para o outro. E como sai todos os dias, esta
alternância produz diferentes inclinações e, obviamente,
diferentes críticas. Caso explícito de esquizofrenia.

A grande verdade é que a Folha até
o momento não conseguiu convencer seus leitores a respeito da sua imparcialidade.

** Não quer Serra porque representaria
uma vitória de FHC (por mais que o jornal apoiasse as mesmas restrições
do ex-ministro da Saúde à política econômica).

** Não quer Lula para ser coerente com
as restrições pessoais que culminaram no famoso bate-boca com
o candidato quando este foi convidado para almoçar com a direção.

** Não quer Garotinho por razões
óbvias.

** Quer Ciro Gomes. Não porque imagina
que vá ganhar mas justamente porque sua vitória é improvável
e, neste caso, o jornal exibiria a posteriori uma cobertura independente, desinteressada
e insuspeita. "Bagunçar o coreto" com uma coligação
que vai de ACM a Oscar Niemeyer e de quebra dando um tremendo empurrão
na Força Sindical rende mais barulho do que uma alternância de
um grande grupo político para outro.

O alternativo Ciro Gomes é um queridinho às avessas: pelo estrago
que, mesmo derrotado, pode causar aos "esquemões" políticos
do PT e do PSDB. Como se o New York Times tivesse preferido Ralph Nader
nas últimas eleições americanas só para contrariar
o elefante e o burrinho dos democratas e republicanos.

A edição de terça-feira (17/9) é uma comprovação
desta opção dialética:

** Na primeira página ao alto, a foto de
uma ir-re-sis-tí-vel Patrícia Pillar, assediada pelo carinho dos
gaúchos, já sem o marido. Deixou de ser cabo eleitoral para substituir-se
ao candidato.

** E na página 2 a unanimidade nacional
que se chama Mangabeira Unger rasgando a fantasia de pensador político
e fazendo ostensiva propaganda do afilhado.

Breve, a coluna do Ouvidor da Folha terá que converter-se em
caderno.

Em tempo: Na edição da mesma terça-feira, 17/9,
o Painel do Leitor da Folha (pág. A3), numa atitude inusual, publicou
apenas duas longas cartas: uma de Arnaldo Malheiros, advogado de José
Serra e outra de José Dirceu, presidente do PT. Ciro Gomes não
teve do que reclamar. (A.D.)