Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bernardo Ajzenberg

CRÍTICA DIÁRIA

"Crítica Interna", copyright Folha Online (www.folha.com.br)

07/11/2001 – Empate em dois nas opções de manchete dos principais jornais hoje. Folha (?Câmara aprova limite a imunidade?) e ?Globo? (?Câmara acaba com a imunidade parlamentar?) dão primazia à histórica, embora não definitiva, decisão dos parlamentares. ?JB? (?Juro de 2% nos EUA é o mais baixo em 40 anos?) e ?Estado? (?EUA cortam juro para 2%, o mais baixo em 40 anos?) saem com a decisão, também histórica, do Federal Reserve. Só o ?Globo? deixa de trazer na capa foto da seleção brasileira, que tem hoje jogo decisivo.

Suposto, não

É elogiável qualquer tentativa do jornal de não sentenciar pessoas nem dar como certas acusações feitas por terceiros. Mas há casos em que isso, curiosamente, pode e deve ser dispensado. A retranca ?Oposição precisa de um nome para CPI? (Brasil, pág. A4), dentro do material sobre o caixa dois do PFL no PR, fala do caso com expressões como ?suposta existência de um caixa dois…?, ?suposto caixa dois?, ?gastos supostamente irregulares…?. Ora, a reportagem publicada ontem na Folha foi inapelável e clara. O jornal afirma que houve caixa dois e o demonstra com documentos. Nesse sentido, o uso dessas expressões cautelosas, nesse caso, sem intenção, paradoxalmente, acaba por criar dúvida sobre o material bancado pela própria Folha.

Sísifo

1) A reportagem ?Emenda tenta reabilitar verba do TJ? (Brasil, pág. A6) menciona ?precatórios alimentares?, sem explicar do que se trata;

2) Faltaram as idades da filha e do pai no side ?Sou do partido de Roseana, diz Sarney? (Brasil, pág. A11).

Nova guerra

1) Corretamente, o jornal havia abandonado como principal a qualificação de ?milionário saudita? para se referir a Osama bin Laden. Nos últimos dias ela voltou a aparecer com destaque, como hoje em ?Para Londres, Al Qaeda agirá sem Bin Laden? (Mundo, pág. A12). Seja ele milionário ou não, não é essa a forma mais apropriada para definir o terrorista saudita;

2) Registro para o fim de caderno especial à parte para Mundo/Guerra sem limites, um mês após o início dos bombardeios no Afeganistão, quase dois meses após os atentados.

Pataxós

A cobertura da Folha hoje no julgamento dos réus do caso do índio Galdino, ao contrário da de ontem (conforme apontei na crítica interna) e da de outros veículos hoje, está equilibrada. Peca, no entanto, por outro erro: burocratismo. Nada traz sobre o ?clima? do evento (a juíza, por exemplo, é mesmo, ao que tudo indica, personagem no mínimo curiosa e controvertida). Em acontecimentos como esse, os detalhes de comportamento e dos entornos da ação principal ganham importância e, ao lado da busca do equilíbrio, fazem a diferença.

Glória Trevi

A Folha tem subestimado o curioso caso da cantora mexicana que engravidou ?misteriosamente? no presídio da Papuda. Ela prestou depoimento ontem à PF, mas o jornal não trouxe nenhum registro.

Números

A retranca ?Imposto de Renda da Pessoa Física responde por 12,5% da arrecadação? (capa de Dinheiro) registra que a arrecadação de IR deverá chegar a R$ 25 bi neste ano. Já ?Tributo pode subir para apenas 820 mil? (mesma página) afirma que anualmente se obtêm R$ 16,6 bilhões com esse tributo. Mesmo que este último texto não se refira explicitamente a este ano, a diferença é muito grande. A verificar.

Edição

1) Um detalhe de acabamento: informações sobre a Transbrasil colocadas ao pé de retranca sobre a Varig (Dinheiro, pág. B5) deveriam estar no abre da página, que trata justamente da Transbrasil;

2) Em texto-legenda na mesma página, traduz-se a palavra ?état? (francês), de um cartaz de protesto, por ?governo?. Fica distorcida, assim, a idéia do protesto de funcionários da Sabena, de que o Estado (e não o governo) deveria retomar o controle da companhia aérea belga em crise;

3) Na página B7, a primeira linha do lide de ?Venda de suínos a vizinho será investigada? registra ?importação? quando deveria escrever ?exportação?.

Casa dos Artistas

Não vi na Folha a notícia de que a prefeitura paulistana deu ordens formais ontem para a desativação do ?estúdio? de gravação do programa do SBT, que ocuparia local em área residencial.

Aviso

Por motivos de procedimento médico, não haverá crítica interna amanhã e sexta-feira.

06/11/2001 – Raro clima de otimismo toma conta das manchetes dos dois principais diários paulistas hoje. Folha: ?Dólar cai a R$ 2,60; Bolsa sobe 6,82%?; ?Estado?: ?Em dia de euforia, Bolsa sobe 6,82% e dólar cai a R$ 2,60?. No Rio, o assunto priorizado foi a ?nova guerra?. ?JB?: ?Guerra põe Brasil sob pressão?; ?Globo?: ?Enfraquecidos, talibãs pedem socorro à ONU?. A Folha destaca na capa, corretamente, importante reportagem investigativa sobre ?caixa 2? do PFL no PR.

Erramos do Erramos

Está errado o segundo Erramos da edição de hoje. A informação equivocada sobre a morte do ex-ditador Somoza não fora publicada no texto ?Conflito Israel-palestinos sacrifica jovens?, mas sim em reportagem, claro, sobre as eleições na Nicarágua, no domingo.

Sísifo

1) A nota ?Exame de candidato?, no Painel (Brasil, pág. A4), sobre check-up que Tasso Jereissati fará, exigia a informação da idade do governador cearense. É uma questão de bom senso;

2) Faltou a idade de Mário Lopes Filho, do comitê financeiro da campanha de Cassio Taniguchi, em entrevista à pág. A7. Esta é, aliás, a única (e pequena) observação que teria a fazer sobre a boa e bem sustentada reportagem investigativa referente ao ?caixa 2? do PFL no PR;

3) Faltaram dados básicos de perfil (nacionalidade, idade) no pingue-pongue com o Nobel de Economia Joseph Stiglitz (Dinheiro, pág. B5);

4) Faltou a idade do atacante em ?Problema de Ronaldo tem fundo emocional, diz Inter? (Esporte, pág. D2).

Nova guerra

1) O abre do caderno (?EUA atacam Cabul com helicóptero?, pág. A11) afirma no lide que a guerra começou no dia 7 de outubro (data do primeiro ataque ao Afeganistão). Na verdade, conforme avaliação do jornal, ela começou em 11 de setembro, dia dos atentados nos EUA (lembra do ?Guerra na América??). Pode parecer detalhe bobo, mas por trás disso há, evidentemente, uma avaliação política. Ao fazer afirmações desse tipo, é preciso ter em conta o valor documental dos textos jornalísticos;

2) Quatro jornais (?JB?, ?Globo?, ?Estado? e ?Valor?) trazem hoje, inclusive com factual, diferentes reportagens sobre eventuais vínculos de Bin Laden ou grupos terroristas no Brasil ou na chamada tríplice fronteira. Destaque para a entrevista do jornal econômico com o biógrafo do terrorista saudita. A Folha, não entendo por qual motivo, está deixando a cobertura desse assunto de lado. Pode sofrer grandes surpresas.

Sem serviço

A reportagem ?Maioria não sabe que FGTS terá correção? (Dinheiro, pág. B4) exigia um quadro do tipo ?perguntas e respostas?, de serviço, sobre como será a reposição das perdas de 89 e 90. É um dos assuntos mais importantes do dia, mexendo com o bolso dos leitores.

Erramos disfarçado

A Panorâmica ?Senadora não está sujeita a corte de luz? (Dinheiro, pág. B4) desmente informação publicada pelo jornal na sexta-feira envolvendo senadora do PT. Por que o jornal não publica um Erramos no devido espaço nobre, em vez de esconder o erro ao pé dessa página? Não dá para entender.

Assustador

A gigantesca foto em close de um avestruz na capa de Agrofolha (pág. F1) chega a ser cômica de tão inadequada para o uso e a dimensão que lhe foram dados.

Cuidado

A reportagem ?Sem progressividade, IPTU cresce para 81%? (Cotidiano, pág. C3) está correta, em tese, mas embute uma ?armadilha?. A hipótese, exposta em cálculos pela prefeitura, não leva em conta que há contestação de peso contra a correção média de 22% no valor venal dos imóveis. O cálculo que tem o título como corolário parte do princípio de que essa correção será efetivada. Acho que o texto deveria dar mais destaque a isso. Uma saída teria sido lembrá-lo na sobrelinha do título.

As iniciais, de novo

Uma mulher de 28 anos torturou o filho de 5 anos colocando as mãos do menino sobre uma chama no fogão. Não entendo por que o jornal traz o nome dela apenas com iniciais. O ?Diário de S.Paulo? e o ?Agora?, a meu ver corretamente, publicam o nome todo. Se o jornal assume o ocorrido, como faz o texto, por que essa proteção?

O caso pataxó

1) O caso Escola de Base trouxe inúmeras lições para o jornalismo. Algumas poderiam ser rememoradas na cobertura do caso pataxó agora. Mesmo em proporções e circunstâncias processuais diferentes, há que se tomar mais cuidado no tratamento dado aos acusados no julgamento do caso do índio Galdino. Há que se ouvir mais os argumentos da defesa (que prega morte após lesão e não homicídio doloso) e reproduzi-los para conhecimento do leitor, assim como de familiares dos réus. Caso contrário, como ocorre hoje (?Acusação pede a juíza que deixe o caso pataxó?, Cotidiano, pág. C5), o noticiário estará tendencioso;

2) Faltou esclarecer, na reportagem, quem decide qual será o juiz de um tribunal de júri e, portanto, quem decidiria, eventualmente, o afastamento da juíza da presidência do julgamento, conforme apelo da acusação.

05/11/2001 – Só o ?Globo?, dentre os principais jornais, não deu na capa o feito da ginasta Daniele, que conquistou medalha de prata no mundial da Bélgica. Nas manchetes, Folha (?EUA reforçam as tropas terrestres?) e ?JB? (?EUA: o poder talibã está no fim?) optam pela guerra. A situação no país vizinho é o assunto principal no ?Estado? (?Argentina espera acordo rápido com os credores?). O ?Globo? investe em suíte de material regional publicado pelo próprio jornal no fim de semana (?Hospitais que jogam esgoto nas praias serão punidos?). Nas revistas, destaque para as reportagens da ?Veja? sobre o enriquecimento de Leonel Brizola e suposta fraude em campanha eleitoral de Roseana Sarney em 1994.

Edição de sábado, 3 de novembro

Futuro do pretérito…

O texto ?Vice quer priorizar segurança no Rio? (Brasil, pág. A4) afirma que Luiz Eduardo Soares (ex-coordenador de Segurança) foi demitido pelo governador Garotinho em maio de 2002 (sic).

Fleury bola da vez?

O ?JB? no sábado e o ?Estado? no domingo publicam reportagens que ?batem? no ex-governador paulista. O primeiro noticia inquérito sobre suposto ouro que o atual deputado teria no exterior. O segundo retoma, com notícia de inquérito criminal, o caso de desvio de dinheiro do Banespa em 1991.

Por que calote?

A Folha não consegue explicar didaticamente a seus leitores por que o pacote anunciado pelo governo argentino na quinta à noite contém um calote disfarçado. Isso porque não explica o que é e como se dá a troca de títulos com juros diferentes, ou seja, o que é a tal reestruturação da dívida. A melhor explicação, para quem quiser entender alguma coisa sobre isso, está em retranca à pág. C1 do ?Valor? de hoje (segunda-feira).

Gorduras na Transbrasil

Segundo reportagem em Dinheiro (pág. B7), a companhia tem, hoje, apenas oito aeronaves em operação (sendo que três delas estão em manutenção). Para isso, conta com 2.900 funcionários. Esse total de funcionários parece espantoso, ao menos para um leitor leigo. Sãatilde;o 362 por aeronave. Se é isso mesmo, seria muito interessante que o jornal pudesse mostrar qual é a situação, comparativa, das outras grandes empresas aéreas do país.

Nova guerra (1)

1) Aparentemente há um ?pastel? no 12o parágrafo do abre do caderno Mundo, quando se afirma: ?A impressão de que será necessário aumentar o número de americanos nos EUA (sic) também cresce quando observados os números do confronto da União Soviética com o Afeganistão?;

2) Merecia retranca à parte a informação dada pelo ?Post? (by Bob Woodward), colocada no meio do texto ?Califórnia reforça segurança em pontes? (pág. A14), de que um ou vários grupos de extrema direita nos EUA estariam por trás dos ataques bioterroristas;

3) É improvável que o encontro entre Arafat e Peres durante evento na Espanha tenha ocorrido ?casualmente?, como diz lide de ?Peres encontra Arafat ?por cortesia?. Alguém pode imaginar que essas duas velhas raposas se encontrariam por mero acaso? É muita ingenuidade, ou então erro de tradução de material de agência (seria ?informalmente??);

4) A Folha está subestimando, a meu ver, a cobertura da chamada tríplice fronteira na questão do terrorismo. Pode não haver nada ou muito pouco, é óbvio. Mas o jornal, em qualquer hipótese, deveria ser mais regular nessa cobertura (o ?Globo? voltou ao assunto no sábado).

Sísifo (fim de semana)

1) Faltaram as idades dos dois desembargadores suspeitos, em ?Juízes voltam a ser investigados em SP? (Brasil, pág. A5, sábado);

2) Faltou a idade do historiador Marco Antonio Villa, em ?PSDB suspende livro sobre era FHC? (Brasil, pág. A10, sábado);

3) Reportagem da capa de Cotidiano (sábado) afirma a certa altura que ?o despejo de esgoto sem tratamento em corpos d?água coloca em risco…?. O que são corpos d?água? Faltou didatismo;

4) Faltou a idade do governador Olívio Dutra, em ?Tentam inviabilizar nosso projeto? (Brasil, pág. A4, domingo);

5) Faltou a idade de Daniel Ortega (?Light?, Ortega tenta voltar ao poder na Nicarágua? (sábado, Mundo, pág. A25);

6) O texto ?Recessão global e Argentina restringem crédito externo? (domingo, Dinheiro, pág. B3) menciona o índice Embi do JP Morgan entre 91 e 93 sem explicar ao leitor que se trata do mesmo ?famoso? risco-país de que tanto se fala nos dias de hoje. Parece falar de algum outro indicador. Com isso, só alimenta a confusão;

7) Faltou a idade de Manoel Carlos na entrevista ?Se a novela não dá certo, é um desastre? (TV Folha, pág. 14);

8) Faltaram as idades de Ricardo Rouvier, de Graciela Römmer, de David Hegwood e de Ohad Naharin em entrevistas às págs. A7, A8 e E8, segunda;

9) Não dá para entender o quanto significa o número 12.56 (transações nos EUA) no quadro Compare os Mercados (Folhainvest, pág. B6, segunda).

Edição de domingo, 4 de novembro

Nova guerra (2)

1) Noticia-se o novo pronunciamento do terrorista saudita (?Bin Laden faz ataque à ONU na Al Jazeera?, Mundo, pág. A21), mas nada se fala sobre como a mensagem foi (ou não) veiculada nas redes de TV norte-americanas, questão que tomou páginas de debate deontológico logo depois do primeiro pronunciamento. Esqueceu-se a polêmica da censura?

2) As reportagens ?Conflito Israel-palestinos sacrifica jovens? e Arafat e Peres se reúnem na Espanha? (pág. A25) trazem números diferentes sobre o total de mortos desde o início da nova Intifada. A primeira retranca, aliás, refere-se na contabilidade a ?judeus?, quando, na verdade, trata-se de israelenses (inclusive árabes israelenses);

3) Registro para extenso e interessante material que o ?Estado? reproduz sobre o perfil de terroristas suicidas, inclusive o de Mohamed Atta.

Morte de Somoza

Diferentemente do que diz a reportagem ?Light?, Ortega tenta voltar…? (pág. A25), o ex-ditador Somoza não foi assassinado antes de os sandinistas assumirem o poder (1979). Ele foi morto no exílio, em 80, no Paraguai.

Quanto se ganha?

Faltaram referências de remuneração salarial na reportagem ?Polícia e aeronáutica abrem vagas? (Empregos, pág. 5). Seria uma informação útil para quem estivesse interessado nas vagas.

Ilustre desconhecido

Legenda da capa de Esporte afirma: ?Jogador do Corinthians cabeceia durante o jogo…?. Ora, ignorar o nome de um atleta de algum time inexpressivo do interior do Amazonas ainda seria compreensível, mas fazer o mesmo com um do Corinthians, na Folha, pega mal.

Números

1) O texto ?Estatísticas subestimam número de crimes sexuais? (Cotidiano, pág. C6) diz que em 2000 houve 2.266 crimes sexuais contra mulheres em SP. Subdivide o total em 1.980 atentados ao pudor, 521 tentativas de estupro e 1.582 estupros. A soma não bate com aquele total. A verificar;

2) Afirma-se em ?Unesp quer fundo de previdência? (Cotidiano, pág. C9) que a Unicamp recebe 2,19% do ICMS destinado às universidades. Na verdade, pela reportagem, ela recebe 2,19% de toda a parcela de ICMS que fica com o Estado, não do ICMS destinado às universidades. Não vale um ERRAMOS?

Edição de segunda-feira, 5 de novembro

Vitória mesmo?

O texto ?Fantástico? derrota SBT, apesar de ?Casa? (Pág. C5) pode ser verdadeiro mas não não tem a ver com o principal: a ?Casa?, enquanto esteve no ar ontem, derrotou o programa da Globo. Esta ganhou no conjunto, mas o ?reality show? (objeto da polêmica), este, ganhou do ?Fantástico?."