Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bia Abramo

UM SÓ CORAÇÃO

“A minissérie e a intromissão da história”, copyright Folha de S. Paulo, 18/01/04

“Estaria bem a minissérie ?Um Só Coração? não fosse o excesso de intenção didática. A São Paulo dos anos 1920, caracterizada como uma Nova York em miniatura, &eacueacute;, de fato, um espaço ficcional privilegiado.

Uma cidade emergindo célere para o progresso (melhor dizendo, para aquilo que se imaginava ser a modernidade no começo do século 20), com traços de metrópole em dimensões ainda humanas e levas de novos habitantes a formar um quadro social diverso. É um cenário mais do que formatado pelo cinema -daí a referência a Nova York, cidade tantas vezes ficcionalizada.

Há arroubos de cinema na minissérie de Maria Adelaide Amaral, sobretudo em uma certa concepção chique, estetizada de reconstituição histórica que lembra ora os filmes de época produzidos pela dupla Merchant & Ivory, ora o glamour do início do século evocado por James Cameron em ?Titanic? -neste caso, o filme inspirou até mesmo o caso da moça rica que se rebela contra um casamento arranjado (a Yolanda, de Ana Paula Arósio) em favor do amor à primeira vista com um pobretão honesto e galã (o Martim, de Erik Marmo).

As imagens que emergem desse tipo de esforço de reconstrução de um passado que, além de ?fiel?, também quer ser lindo revestem de uma beleza às vezes cosmética em excesso realidades como a pobreza dos cortiços onde viviam os imigrantes -como o núcleo formado pelos personagens da família do anarquista Ernesto (Celso Frateschi).

Mas, enquanto o cinema tem a liberdade, pelo menos em tese, de utilizar a competência técnica de forma mais crítica, na TV os acertos da produção, sobretudo aquelas que se dedicam a reconstruir uma época, têm o peso de uma lição escolar.

Modernistas

Assim como a cenografia inventa uma São Paulo linda, nova-iorquizada, a pesquisa histórica que se interpola na ficção a golpes de machadada sugere uma cidade falsamente polarizada entre os anarquistas e os salões elegantes da burguesia.

No entremeio, os modernistas, esses reais, gente de alguma sensibilidade política, que se mobiliza para enfrentar o delegado e tirar o pobre Ernesto da cadeia, mas que resolve criar a Semana de Arte Moderna num momento de tédio.

OK, é uma possibilidade entre outras de entender esse período, e uma minissérie de TV tem tanto direito quanto qualquer outra obra de ficção de oferecer sua interpretação para um período histórico. Mas seria prudente, então, abandonar o tom escolar, discursivo com que reveste as intromissões da história.

Se não, tem o mesmo efeito de um livro paradidático de má qualidade: conduzir uma história estropiada por uma trilha ficcional tíbia. E o risco da ficção frouxa ?Um Só Coração? também correrá, se insistir muito mais no casal Martim-Yolanda.”

 

ENTREVISTA / SILVIO DE ABREU

“Novelas em xeque”, copyright Folha de S. Paulo, 18/01/04

“Um dos autores mais consagrados da Globo -são dele novelas como ?Rainha da Sucata?, ?A Próxima Vítima? e ?Guerra dos Sexos?-, Silvio de Abreu, 62, pediu à emissora um tempo para ficar sem escrever tramas. O motivo: não deixar que as novelas entrem em extinção.

O novelista resolveu se dedicar em tempo integral a descobrir novos dramaturgos. ?É preciso que surjam novos talentos. Senão, as novelas vão acabar?, afirma.

Abreu enumera grandes autores mortos nos últimos tempos e outros tantos que em alguns anos vão se aposentar.

Mas, segundo ele, a busca de novos nomes não é apenas para ?preencher vagas?. ?A novela precisa se renovar para se manter. Sempre que aparece um autor novo, surge com ele algum novo estilo?, afirma.

Desde abril, ele supervisiona o trabalho de João Emanuel Carneiro. Roteirista do filme ?Central do Brasil?, de Walter Salles, é dele a nova novela das sete, que tem estréia prevista para o dia 26. ?Ele é de uma nova geração. Mesmo que não traga novos formatos, trará com certeza novas idéias de personagens?, diz.

Abreu já fez o mesmo com escritores como Carlos Lombardi, Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral. ?Tudo o que sei de TV aprendi com ele?, afirma a autora da minissérie ?Um Só Coração?.

Mas esses já haviam sido seus colaboradores antes do vôo solo. Com Carneiro, foi diferente. ?Fui à Divisão de Recursos Artísticos da Globo [que promove oficinas periódicas para selecionar novos autores e tem um arquivo com as sinopses escritas por eles] e pedi algumas sinopses. Peguei para ler mais de 30. Li a do Carneiro, gostei e disse ao Mário Lucio Vaz [diretor-geral artístico da Globo] que queria supervisioná-lo.?

A seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.

Folha – Por que o sr. decidiu ir à caça de novos autores de novela?

Silvio de Abreu – Pedi um tempo à Globo para tentar descobrir novos autores, senão a novela vai acabar. Já perdemos muitos autores, muitos de nós já passamos dos 60, é preciso surgir novos talentos. Continuamos trabalhando, claro, mas temos que pensar no futuro. A novela é o esteio da Rede Globo, e é nossa obrigação passar o conhecimento.

Folha – Com isso existe a intenção de buscar uma renovação nas novelas, com novos formatos, novas linguagens?

Abreu – A idéia é essa mesmo. A novela precisa se renovar para se manter. Sempre que aparece um autor novo, surge com ele algum novo estilo.

Aconteceu isso comigo, em ?Guerra dos Sexos? [83], com ?Dancing Days? [78, de Gilberto Braga], com o Aguinaldo Silva, com o Carlos Lombardi.

A única maneira de a novela ficar interessante é ela se renovar. É grave se fica sempre a mesma coisa, se não aparece nada de novo. Claro que continuam existindo os grandes autores já conhecidos, mas o bom é que convivam o novo e o velho.

Folha – Mas até que ponto um autor iniciante terá liberdade para trazer alguma inovação em um produto tão essencial na programação da Globo?

Abreu – É claro que o autor não terá liberdade de inovar de primeira, porque a emissora não pode arriscar com alguém que não conhece. Mas, se ele tiver algo a dizer, com certeza fará diferença na segunda, na terceira trama que escrever. O autor tem que ficar confiante, e a emissora também.

Folha – Isso aconteceu com o sr. quando entrou na Globo?

Abreu – Na minha primeira novela, ?Pecado Rasgado? [78], eu quis colocar um monte de coisas novas, mas o diretor não permitiu. Depois de ter substituído Cassiano Gabus Mendes em ?Plumas & Paetês? [80] e ter escrito com a Janete Clair, as coisas mudaram. Em ?Guerra dos Sexos? [83] eu já tinha respaldo e consegui introduzir elementos novos na novela.

Folha – O que espera de um autor como João Emanuel Carneiro?

Abreu – Acho que ele pode trazer um olhar diferente, porque ele só tem 32 anos. Mesmo que não venha com novos formatos, virão com certeza novas idéias e visões de personagens, porque ele é de uma geração diferente da geração da maioria dos autores da atualidade. Mas a idade não é tudo. Eu fiz ?As Filhas da Mãe? [2001] com 60 anos [risos].

Folha – Como funciona a supervisão feita pelo sr. com um iniciante?

Abreu – Primeiro precisa haver uma identificação entre nós, e houve, porque ele assistiu a muitas das minhas tramas.

Então peguei a sinopse, aparamos algumas arestas, remexemos na história, desenvolvemos os personagens. Claro que, se ele não aceitava uma sugestão, a última palavra era dele. Eu ajudo a executar o que está na cabeça do autor. Ele não tem prática, mas tem talento.

Escrever novela é difícil, é preciso ter visão, porque uma coisa feita no capítulo 25 vai influenciar no 125. Fiz com ele até o capítulo 36, depois deixei por conta dele.

Folha – O sr. tem planos de voltar a escrever novela em breve?

Abreu – A Globo ainda não definiu a programação dela para 2004, então não sei o que farei. Também tenho planos de voltar para o cinema. Mas quero continuar descobrindo novos autores. Continuo lendo sinopses, já descobri mais algumas boas, mas as pessoas não estavam disponíveis. Queria que surgissem outros autores para fazer o que eu estou fazendo, é um trabalho importante.”

 

TELENOVELAS

“TVs enfrentam domínio global nas novelas”, copyright Folha de S. Paulo, 18/01/04

“A hegemonia da TV Globo nas novelas, ainda aparentemente inabalável, terá que resistir à reação de três concorrentes. As paulistas Record, Band e SBT decidiram investir no filão em 2004.

A Bandeirantes anunciou parceria com a produtora portuguesa NBP e a exibição de duas novelas e uma série. A atriz portuguesa Sofia Alves interpreta as gêmeas Luísa e Leonor no drama ?Olhos d?Água?, que estréia amanhã, às 16h, com reprises no dia seguinte, às 9h30. A trama não foi escolhida à toa; conquistou 60% de participação de audiência em Portugal.

?Morangos com Açúcar?, outra novela, chega em março, e ?Olá, Pai!?, comédia de um pai trapalhão e um bebê, cuja primeira temporada está no ar em Portugal, estréia hoje, às 19h.

Marcelo Parada, vice-presidente da Band, diz que a parceria traz um ?novo pólo de produção nacional e exportador, com o objetivo de tornar a Band reconhecida internacionalmente pela excelência dos seus produtos?. ?As novelas da NBP [exibidas pela TVI] bateram a Globo lá. Foi a primeira produtora que rompeu a hegemonia de muitos anos de novelas globais exibidas em Portugal?.

Segundo Parada, o objetivo da associação é trazer para o Brasil a experiência em produção de grande escala, como feito no Projac e na Fábrica de Novelas do complexo Anhangüera. ?Se a economia brasileira caminhar bem em 2004, vamos retomar a produção nacional de telenovela já no segundo semestre?, afirma. ?Meu Pé de Laranja Lima? (99) foi a última novela nacional da Band.

Antonio Parente, presidente do Conselho de Administração da NBP, acredita num novo pólo de talentosos jovens. Para enfrentar a crise criativa do mercado brasileiro, incapaz de promover jovens ao comando autoral das novelas, a NBP e a Band planejam uma oficina de autores luso-brasileira. ?Em Portugal, tínhamos esse mesmo problema no roteiro. Criamos a ?Casa da Criação?, selecionamos três veteranos autores e treinamos novos escritores?, diz.

A outra emissora no front contra a Globo, a Record, fechou parceria com a Casablanca (criadora de ?Turma do Gueto?) para produzir ?Metamorphoses?, com direção de Tizuka Yamazaki (?Kananga do Japão?) e roteiro nacional. Deve estrear em março, em horário ainda indefinido.

Somente na defensiva, o SBT renovou o contrato de parceria com a mexicana Televisa. Fechada em 2000, acabaria em 2005. Mas a emissora decidiu estender por mais três anos a compra de roteiros enlatados, até 2008. ?O resultado tem sido satisfatório?, informa o SBT, em nota oficial. A próxima estréia é a trama mexicana ?A Outra?, às 20h30, sucessora de ?Canavial de Paixões?.

Corre nos bastidores que Silvio Santos, pelo menos neste semestre, não deve abrir espaço para jovens e veteranos escritores brasileiros. A não ser que a ofensiva de Record e Band, postulantes à vice-liderança em audiência, faça o rei do baú mudar de idéia.

OLÁ, PAI! Quando: hoje, às 19h, na Band.

OLHOS D?ÁGUA. Quando: de seg. a sex., às 16h, na Band, com reprises no dia seguinte, às 9h30.”

 

SP, 450 ANOS NA TV

“Audiência Paulistana”, copyright O Estado de S. Paulo, 18/01/04

“Em setembro de 1950 foram ao ar as imagens da primeira emissora de TV do Brasil e da América Latina, a TV Tupi, em São Paulo. Na época, só havia na cidade 300 televisores, esses, importados às pressas por Assis Chateaubriand para o evento. Pouco mais de 50 anos depois a mesma cidade registra quase 5 milhões de domicílios com TV. Tamanho ?boom? da TV em São Paulo não foi só em número de aparelhos. Berço da televisão no Brasil, a cidade é um dos principais mercados para o veículo. São Paulo concentra as principais agências de publicidade do País e grande parte das verbas de anunciantes, é aqui que estão o Ibope e as sedes das emissoras, menos a Globo. Por isso acaba pautando a programação televisiva para todo o Brasil. Opa! Bairrismo? O mercado garante que não.

Segundo o diretor do Ibope Flávio Ferrari, não é exagero falar que a audiência de São Paulo é na verdade um bom balanço do gosto televisivo de todo o País. Além de ser o principal mercado para os anunciantes – 31% de todo o dinheiro investido na TV brasileira vai para a Grande SP -, a cidade nada mais é do que reduto de gente vinda de todos os cantos do País.

?A audiência daqui é composta pelo gosto de gente de diversos lugares, de diferentes costumes e classes sociais. Acaba sendo meio que uma mistura da audiência de todo o Brasil. Se compararmos os programas mais vistos em São Paulo com os das outras cidades (ver tabela ao lado), notamos que não há muito diferença. Só algumas curiosidades?, fala Ferrari.

Tamanha importância de São Paulo para o Ibope é vista nas ferramentas usadas pelo instituto na medição de audiência na cidade. O Ibope possui na Grande São Paulo 750 peoplemeters (aparelhinhos nas casas que aferem os dados da audiência). Quem chega mais perto é o Rio, com 450 peoplemeters. Em cada uma das outras capitais só há 250 aparelhinhos do tipo. Também é só em São Paulo que o Ibope consegue medir a audiência em tempo real.

?Temos a medição em tempo real em São Paulo por causa da dimensão e da importância do mercado, mas não desistimos de levar isso para outras localidades?, explica Ferrari. ?Não acho que essa medição em tempo real paute os programadores de TV em suas decisões, a não ser aqueles programas ao vivo que ficam mudando seu conteúdo por causa da audiência, mas esses são poucos casos. O que pauta é medição mensal mesmo?, explica.

Para o diretor de mídia da DM9, Daniel Chalfon, a importância do gosto do telespectador paulistano pode ser vista em números. ?São Paulo é a praça mais cara para anunciar em TV, e mesmo assim é a mais procurada pelos anunciantes?, fala Chalfon. ?Um anúncio de 30 segundos no Jornal Nacional, por exemplo, em rede nacional, custa cerca de R$ 225 mil. O mesmo anúncio para ser exibido só na cidade de São Paulo custa R$ 49,5 mil, cerca de 22% do custo em rede nacional?, fala ele. ?Um anúncio do mesmo tipo no Rio de Janeiro não sai por mais de R$ 11 mil.?

Para Chalfon não é só o número de domicílios com TV, e sim o potencial de consumo da cidade que pauta essa demanda do mercado anunciante. ?São Paulo tem muita gente da classe AB, público-alvo de muitos setores, isso interfere na decisão de investimento em mídia das marcas?, diz ele. ?Então é claro que os programas que obtiverem mais audiência aqui vão ser mais visados pelos anunciantes, sucesso de audiência em São Paulo já é meio caminho garantido.?

Paulistês – Mas, afinal, ao que essa audiência paulistana gosta de assistir? Apesar de, na média, o gosto do paulistano ser muito parecido com o da população do País em geral, São Paulo tem lá seus gostos e hábitos televisivos específicos. Para começar, ao contrário do que muitos imaginam, o paulistano costuma passar mais horas em frente à TV do que o baiano, o mineiro, o carioca, o gaúcho…

Segundo dados do Ibope de novembro de 2003, o tempo médio que um indivíduo de São Paulo passa em frente a TV é de 3h42 por dia, ante 3h41 de um do Rio de Janeiro, 3h de um da Bahia, 2h54 de um de Belo Horizonte. Média alta para um povo que vive no corre-corre de uma megalópole.

Outra curiosidade de hábito televisivo da cidade é o seu horário nobre, que costuma começar mais tarde que o das outras regiões. ?Como o paulistano demora muito para chegar em casa depois do serviço, percebemos que a curva crescente do horário nobre na TV começa mais tarde na cidade, por volta das 19h30, 20 horas?, fala Flávio Ferrari, do Ibope. ?Em muitas cidades do nordeste, por exemplo, essa curva do horário nobre já começa às 17 horas. O pessoal chega mais cedo em casa. É a interferência do trânsito na audiência?, continua. ?Há também um segundo horário nobre nas cidades pequenas, que é na hora do almoço, quando as pessoas voltam para casa para comer e ligam a TV. Em metrópoles como São Paulo voltar para casa para almoçar é quase impossível.?

Já quanto aos programas, além do básico – futebol e novelas – São Paulo gosta de assistir jornalismo local e, é bairrista quando é assunto é ?artista?.

?A audiência dos jornais locais em São Paulo é muito forte. Eles são muitos e conseguem sempre ibope e anunciantes significativos. O público daqui gosta de produtos regionais. A própria Globo, que é no Rio, teve de mudar sua linguagem para atender a audiência de São Paulo?, diz Flávio Ferrari. ?As atrações produzidas na cidade também fazem mais sucesso aqui do que em outros Estados. O programa da Hebe tem mais audiência em São Paulo, Silvio Santos faz mais sucesso em São Paulo, o público sempre busca identificação?, diz Ferrari Isso por sinal se reflete na própria audiência do SBT, uma emissora paulista. A rede de Silvio Santos tem mais ibope em São Paulo do que no Rio, Gugu também. De olho nisso, a própria Globo já anunciou muitas vezes a vontade de transferir a gravação de programas importantes como Domingão do Faustão do Rio para Sampa. ?A extinta Manchete não agradava muito a audiência paulistana porque tinha uma linguagem extremamente carioca. Já no Rio, fazia sucesso?, diz Ferrari.

?Até os anunciantes são diferentes. Há categorias de produtos que só anunciam em São Paulo. A dos eletroeletrônicos, por exemplo, nem arrisca investir em outras praças?, diz Chalfon, da DM9.?Conheço produtos específicos que não anunciam na cidade, mas não conheço nenhum grande anunciante que quando foi lançar uma campanha não incluiu São Paulo no pacote. Quando o assunto é mídia, dificilmente alguém exclui um gigante como essa cidade.?”

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“Cidade Ainda É Principal Mercado Da TV Paga”, copyright O Estado de S. Paulo, 18/01/04

“São Paulo possui 4,8 milhões de domicílios com TV, o Rio , 3 milhões, Salvador e Recife não chegam a 1 milhão cada

Em TV paga São Paulo também apita, e muito. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira de Telecomunicações por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg, São Paulo se mantém como o principal mercado do setor.

Além de ter as principais operadoras do serviço (Net, Sky, DirecTV e TVA), a cidade reúne um número considerável de assinantes de TV (ver abaixo).

?Segundo dados de 2003, dos cerca de 3,5 milhões de assinantes de TV por assinatura, cerca de 720 mil são da região metropolitana de São Paulo?, fala Annenberg. ?É um mercado também com um alto poder aquisitivo, uma forte concentração de classe AB, maior público consumidor do serviço.?

Annenberg explica por que entre os serviços de TV paga oferecidos em São Paulo, o que mais cresceu foi o de TV a cabo, dominado pela Net. ?Por causa da densidade populacional e por ser uma cidade verticalizada (com muitos prédios), São Paulo foi rapidamente cabeada, esse é o tipo de penetração de TV paga que mais se encaixa em metrópoles assim?, fala ele. ?Atualmente há cerca de 60 mil prédios cabeados na cidade.?

Mesmo assim, há um universo muito grande de assinantes para conquistar na cidade, público da classe C, por exemplo, onde a TV paga não consegue chegar por causa do preço. Vale lembrar que o número de assinantes do serviço no País está estagnado em 3,5 milhões, metade do que se previa anos atrás para o ano de 2000.

Na mais recente pesquisa do Ibope sobre a penetração da TV paga no Brasil, 39% dos domicílios que já tiveram o serviço declararam que o preço da mensalidade é o principal motivo para não ter TV por assinatura hoje em dia. Em São Paulo e Curitiba, o argumento ?preço? tem um peso porcentual ainda maior.

Mais vistos – Conquista recente do mercado (2002), a medição do Ibope em TV paga pode mostrar melhor ao que o paulistano gosta de assistir. Entre os canais da Net que possuem o maior número de assinantes na cidade estão o Globonews e o GNT. Já em programação, o paulistano mostra que gosta mesmo de desenho animado, séries e filmes. O Cartoon Network apareceu durante muitos meses no ano passado como um dos líderes de audiência na cidade.

Canais de séries, como Warner e, Sony, e de filmes, como HBO e Telecines, figuram nas pesquisas do Ibope como um dos motivos que fazem o público daqui manter a assinatura do serviço, mesmo pagando caro por ele.”

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“Muitas promessas e poucas homenagens a SP”, copyright O Estado de S. Paulo, 18/01/04

“Após muitas promessas, poucas foram as emissoras que de fato se mexeram para comemorar o aniversário de 450 anos de São Paulo.

Ainda assim, o telespectador poderá conferir alguns especiais, musicais, shows e verdadeiras maratonas em homenagem à cidade.

A Globo é a emissora que tem o maior pacote. No final de semana do dia 25, a rede exibirá 25 horas de programação ao vivo, dedicada ao aniversário. A maratona televisiva começa no sábado, às 23 horas, e será comandada por Serginho Groisman. Ele abrirá a festa direto do Ginásio do Ibirapuera, onde haverá shows e um plantão permanente da equipe de Jornalismo. Entre as atrações musicais estão: Roberto Carlos, Elza Soares, Marcelo D2 e Ultraje a Rigor.

Além dos âncoras da festa – sempre haverá duas personalidades comandando a programação -, repórteres da Globo estarão espalhados por diversos pontos da cidade mostrando as comemorações em links ao vivo. De madrugada, a Globo reprisará programas como O Besouro e A Rosa, especial em homenagem a Mario de Andrade. Na manhã do domingo (dia 25) entrará no ar o jornalístico São Paulo 1000 Cidades e as edições especiais de Globo Rural e Esporte Espetacular. Ao meio-dia, a emissora volta com as transmissões do Ginásio do Ibirapuera, com uma grande festa comandada pelo casal Luciano Huck e Angélica.

A tradicional pizza do Domingão do Faustão será paulista. Fausto Silva irá apresentar o programa ao vivo de São Paulo – sua atração é feita no Rio – recebendo um verdadeiro rodízio de celebridades. O Fantástico trará imagens da festa no Vale do Anhangabaú. Na seqüência serão exibidas duas crônicas, uma de Silvio de Abreu e outra de Antônio Calmon, que retratam as diferentes culturas que compõem a cidade. Uma delas é A Festa do Nonno, vivida por Gianfrancesco Guarnieri. Quem fecha a maratona da Globo é Ana Maria Braga, com um show de encerramento.

O SBT vai mostrar o show de Caetano Veloso, Jair Rodrigues, Jair Oliveira, o Jairzinho, e Nando Reis – Caetano é o único da turma que não nasceu em São Paulo. O palco será montado no cruzamento das Avenidas São João e Ipiranga.

O show será aberto ao público e terá Celso Portiolli como apresentador. O evento começará na noite do dia 24 e vai se estender até o dia do aniversário.

A Petrobrás é a principal parceira do SBT no projeto de 450 anos de São Paulo e que vai além do show – o valor de tabela da cota é de R$ 1,2 milhão.

Outras ações durante todo o ano de 2004 estão programadas. De acordo com o diretor da área comercial do SBT, Cláudio Santos, a emissora tem outras cotas de patrocínio que ainda não foram negociadas.

Entre a programação especial da Cultura, o destaque fica para o inédito documentário Obras da Cidade, feito pela produtora Canal Azul. O programa traz como pano de fundo a 25.? Bienal de São Paulo e sua discussão sobre metrópoles. Obras da Cidade irá ao ar no sábado, às 21 horas.

Na Rede TV!, a homenagem a São Paulo será no sábado, às 21h30, com o Almoço com as Estrelas. O programa receberá artistas que fazem parte da história da cidade, como Demônios da Garoa e a bateria da escola de samba Vai-Vai.

Gazeta e Record reservam especiais jornalísticos sobre o aniversário da cidade. A Gazeta exibe no sábado o Gazeta Repórter São Paulo e a Record, uma edição de Repórter Record, no domingo.

Especiais – Na TV paga, quem dá um dos melhores e mais estranhos presentes é o Multishow. O canal traz no dia 25, à meia-noite, o especial Jobim Sinfônico, em homenagem ao maestro Tom Jobim, apaixonado pelo Rio – e não pela cidade aniversariante. Ainda assim vale a pena.

O Canal Brasil refaz boa parte da trajetória do cinema paulista e mostra as principais produtoras e os filmes que fizeram parte dela. Sampa 450 revisita os primeiros longas-metragens feitos na cidade e exibe um pacote com grandes títulos como: Dois Córregos e Asa Branca, um Sonho Brasileiro.

No dia 26, o GNT leva ao ar, às 23h30, o especial Mapas Urbanos. A partir de depoimentos de poetas e compositores paulistanos, o programa caracteriza, em três edições com meia hora de duração cada, a cidade de São Paulo. O canal também traz dois episódios de 6 Histórias Brasileiras, rico painel do povo brasileiro. Uma delas será o depoimento de um ex-detento do Carandiru. 6 Histórias vai ao ar do dia 25, às 21 horas.”

“?Paulistanofilia? ataca revistas”, copyright Folha de S. Paulo, 17/01/04

“Um texto inédito de Rogério Sganzerla e um ensaio sobre a ?primeira reportagem fotográfica? de São Paulo são dois dos destaques de revistas culturais que também aportam material histórico sobre a cidade.

A ?Nossa História?, da Biblioteca Nacional, está colocando nas bancas seu terceiro número com um dossiê especial sobre a cidade. A série de textos é aberta pelo presidente da BN, Pedro Corrêa do Lago, que destrincha a trajetória do carioca Militão Augusto de Azevedo (1837-1905).

Pesquisador da iconografia brasileira, Corrêa do Lago atribui a ele a primeira série de fotorreportagens paulistana, entre os anos de 1862 e 1863.

Entre outros destaques, está um ensaio do historiador da literatura Sérgio Alcides sobre os escritores românticos em São Paulo.

O dossiê da revista ?Cult? de janeiro, por sua vez, termina com um ?diálogo imaginário? entre o cineasta Rogério Sganzerla, morto na semana passada, e o modernista Oswald de Andrade.

A publicação também traz ensaio com depoimentos de boa parte dos principais remanescentes da arte concreta paulistana dos anos 50, como Alexandre Wollner, Antonio Maluf e Jacques Douchez.”