Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Bia Abramo

TV / INFÂNCIA

“Crianças são reduzidas a consumidores”, copyright Folha de S. Paulo, 14/12/03

“Desde a semana passada, crianças menores de 14 anos não podem participar de comerciais de TV. Isso na Itália. A lei foi votada no meio de um pacote de medidas que reforma as telecomunicações no país e favorece o império televisivo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

Claro que a decisão está deixando publicitários e anunciantes italianos de cabelos em pé. Mesmo para o espectador, é quase inconcebível imaginar publicidade na televisão sem a participação de crianças, acostumados que estamos a vê-las estrelando comerciais de toda a espécie. Mas a decisão abre uma discussão instigante para o Dia Internacional da Criança na TV, que é comemorado hoje.

Será que, em alguma medida, não é necessário e urgente proteger a infância dos apelos do mercado? Digamos, que, a esta altura, apelo já é uma palavra demasiado benéfica para descrever o que o mercado vem exigindo da sociedade. Trata-se da adesão incondicional e acrítica à sua lógica e aos seus valores, se é que dá para falar em valores.

É só puxar pela memória que qualquer um de nós descobre sua coleção particular de propagandas em que as crianças são objetificadas como consumidores de forma aviltante. Aparentemente poderosas e glamourosas, as crianças de comercial de TV são reduzidas a máquinas de comprar e pressionar adultos a consumir as coisas certas.

Dois exemplos, tomados mais ou menos ao acaso, sintetizam os extremos a que chega a propaganda que tem crianças como protagonistas. O comercial de um refrigerante popular sabor guaraná mostrava a cena de um pai e um filho no supermercado. Quando o pai se dirige à gôndola do refrigerante ?errado?, o rosto da criança se entristece profundamente. Na cena seguinte, vemos o menino ainda muito cabisbaixo e abatido. O pai, rendido, finalmente aparece com o refrigerante X e, com isso, o rosto da criança se ilumina.

O outro trabalhava com a mesma idéia de chantagem que as crianças fazem com os pais para vender um automóvel caro. Um garoto no banco de trás de um carro pede para o pai parar antes porque não quer ser visto pelos colegas; a cena se repete com uma filha e uma mãe. Na próxima, vemos um garoto que faz questão de ser deixado na frente da festa ou da balada porque seus pais, mais bem treinados, já trocaram o carro mixo pelo carro bacana.

Em ambos, a relação das crianças com os pais é tratada com tal cinismo e brutalidade que transforma os últimos em meros realizadores de impulsos consumistas e os primeiros, em consumidores vorazes ao ponto da tortura psíquica.”

“Para pais, TV destrói sonhos da infância”, copyright Folha de S. Paulo, 10/12/03

“Pesquisa inédita que será parcialmente divulgada amanhã revela que os pais de crianças e adolescentes estão ?muito preocupados? com o conteúdo de televisão visto por seus filhos.

Os pais enxergam valores positivos na TV –como o lazer barato e a inclusão da criança num mundo globalizado–, mas avaliam que ?os programas de maior audiência [adultos, em horário nobre, que são os mais vistos por pessoas de 4 a 17 anos] estão por um lado criando uma ilusão da vida, mostrando um caminho irreal de sucesso e felicidade, e, por outro lado, destruindo os sonhos da infância ao banalizar o sexo, a violência e os padrões estéticos?.

As conclusões são de pesquisas qualitativas do instituto MultiFocus, especializado em comportamento infanto-juvenil. Serão apresentadas amanhã no Seminário TVQ – Criança e Adolescente, no Sesc Vila Mariana (São Paulo).

O estudo completo, que ainda incluirá uma pesquisa quantitativa, será divulgado em abril, na Rio Summit 2004 (4? Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes). O levantamento ainda servirá para o Prêmio Mídia Q, para programas de qualidade, a ser entregue em outubro.

?Nas classes mais intelectualizadas, a programação da TV tem sido muito mais um fator de discussão de valores entre pais e filhos do que de transmissão de conceitos?, diz Ana Helena Reis, diretora do MultiFocus.”

SBT

“Silvio Santos corta programa feminino”, copyright Folha de S. Paulo, 13/12/03

“Depois de várias mudanças de horário, o programa feminino do SBT, ?Falando Francamente?, no ar desde maio de 2002, vai deixar de ser exibido diariamente em janeiro. A partir do dia 10, o vespertino terá apenas uma edição semanal, aos sábados, com cinco horas de duração, das 13h às 18h.

A mudança está sendo interpretada como reação de Silvio Santos à ameaça da Record de tirar do SBT o segundo lugar no Ibope. Semanal, o ?Falando Francamente?, que perde para a Record no Ibope, passará a ser um programa mais forte, para competir com o ?Programa Raul Gil?, da Record, vice-líder das tardes de sábado.

No horário do ?Falando Francamente? (15h45 às 17h15) de segunda a sexta, o SBT deverá exibir novelas mexicanas.

?O Silvio Santos quer que a Sonia [Abrão, apresentadora do “Falando Francamente”] seja uma Gugu de saias?, diz Elias Abrão, diretor da Câmera 5, que produz o programa.

Segundo Abrão, o novo ?Falando Francamente? será um programa de auditório e terá jornalismo, ?com helicóptero?, musicais e ?games?. Não haverá quadros com calouros, afirma.”

TV RECORD

“Record negocia compra de 3 emissoras”, copyright Folha de S. Paulo, 11/12/03

Presidente da TV Record, Dennis Munhoz está comandando pessoalmente as negociações para a compra de três novas emissoras para o grupo liderado pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal. Se as operações forem concretizadas, a Record, que hoje controla (por meio de pessoas ligadas à igreja) 14 emissoras das 93 emissoras que compõem sua rede, passará a ter 17. A Record já é a maior rede em número de emissoras próprias. Passou a Globo, que colocou à venda 27 de suas 32 (de 115 que formam a rede) TVs. Das emissoras que a Record está comprando, duas ficam em capitais do Nordeste. Uma já é afiliada da rede. A outra é ligada ao SBT.

As aquisições fazem parte do pacote de investimentos que a Record fará em 2004 para tentar tirar do SBT o segundo lugar no Ibope. Em evento para anunciantes ontem de manhã, a direção da Record anunciou que o investimento será de US$ 30 milhões _e não mais de US$ 20 milhões. ?Ampliamos o investimento porque apareceram produtos novos e convenientes?, explica Munhoz.

No pacote, estão US$ 5 milhões em equipamentos, US$ 6 milhões em 104 filmes e dois horários de novelas nacionais. A primeira novela, ?Metamorfose?, sobre beleza, entra em março. A segunda estréia em agosto. Em março, entra o jornalístico ?Impacto?, aos domingos, a ser apresentado por Milton Neves, Otaviano Costa e Fernanda Fernandes.”

“Líderes negros pedem ação contra Record “, copyright Folha de S. Paulo, 11/12/03

“Lideradas pelo deputado estadual Sebastião Arcanjo (PT), entidades do movimento negro fizeram ontem uma manifestação na avenida Paulista, que reuniu cerca de 200 pessoas, e entregaram ao MPF (Ministério Público Federal) pedido de abertura de ação civil pública contra os programas religiosos da TV Record e da Rede Mulher, ambas controladas pela Igreja Universal.

Na representação entregue ao MPF, as entidades solicitam a retirada do ar dos programas, todos produzidos pela Igreja Universal, e a ?apuração de responsabilidade criminal?.

O movimento argumenta que os programas da Universal ?esmeram-se em demonizar, difamar e enxovalhar as religiões de matriz africana, incitando o preconceito e a discriminação religiosa?.

Record, Rede Mulher e Igreja Universal não se pronunciaram. Na Record, os programas da Universal vão ao ar da 0h30 às 7h. Dão baixa audiência -média de 0,4 ponto no Ibope da Grande SP, o que equivale à sintonia de 19,4 mil domicílios na Grande São Paulo.”