Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Bob Herbert

VIOLÊNCIA BANALIZADA

“No país saturado de violência, vítima não é mais notícia”, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 3/11/02

“Flores, balas e uma pequena bandeira americana foram colocadas perto de um aspirador industrial público, instalado em um posto de gasolina de Kensington, no cruzamento das Avenidas Connecticut e Knowles, logo além da fronteira de Washington. Às 10h do dia 3 de outubro, Lori Ann Lewis-Rivera, de 25 anos, residente em Silver Spring, estava limpando sua van, quando o franco-atirador a atigiu nas costas, matando-a. Em plena luz do dia. O tiro soou como um pneu estourando.

Ficar nesse negócio de reportagem por muito tempo dá a impressão de que estamos percorrendo a trilha da violência mortal. Enquanto descrevia o lugar onde Lewis-Rivera morreu, lembrei-me das notas que tomei em agosto, em um cruzamento no Bronx, onde uma garota de 10 anos foi morta por uma bala perdida. Segundo a polícia, um homem que estava atirando em outra pessoa.

Rabisquei em meu caderno que o sangue da menina havia deixado uma mancha seca ?mais ou menos do tamanho de um prato – podia-se ver por onde escorria nas rachaduras do cimento?. Nunca escrevi a respeito daquele assassinato porque era muito comum. Essa história da ?criança morta por uma bala perdida? foi escrita tantas vezes que nada havia a acrescentar.

O cenário aqui no Condado de Montgomery, em Maryland, onde seis vítimas do franco-atirador foram mortas, também me lembrou a tragédia de Columbine, o Filho de Sam em Nova York e o horror que se abateu sobre Oklahoma no verão de 1995. O piloto Shawn Creasey, que foi um dos primeiros a ver de perto a carnificina, disse que ?não é como ver pela televisão?. Descreveu como ele e outros integrantes das equipes de resgate atravessaram os destroços do edifício. ?Encontramos um pé pendurado no entulho?, disse ele.

Assim é, de fato, a morte. O sangue de uma criança na calçada. A perna enrijecida da mãe de alguém. A nação está saturada de violência. Milhares e milhares de assassinatos são cometidos a cada ano. Há mais de 200 milhões de armas em circulação. Assassinatos são tão rotineiros, mesmo de crianças, que muitas vezes não garantem cobertura aprofundada. Não sabemos o que fazer com toda essa violência. Não sabemos nem como noticiá-la. Pomos nela sensacionalismo, glamur e erotismo.

Somos fascinados não pelas vítimas, mas pelos assassinos. Com exceção de sua família e amigos, ninguém sabe quem era Lori Ann Lewis-Rivera. Já John Allen Muhammad e John Lee Malvo conquistaram lugar permanente entre as celebridades cultuadas pela nação. Se não forem executados, talvez saiam da prisão, como David Berkowitz, para fazer comentários sobre nossa cobertura dos assassinos seriais do futuro.

Na cultura popular do cinema, televisão e videogame, matar é um artigo tão comum que, às vezes, nem pensamos a respeito. Um par de seios nus nas emissoras abertas produziria manchetes de costa a costa. Homicídios pipocam nas telas de televisão de forma tão rotineira quanto comerciais de carros e cerveja.

Lewis-Rivera, casada e mãe de uma menina de 3 anos, e todas as outras vítimas do franco-atirador, logo serão esquecidos pelo grande público. A violência em nossa sociedade é tão rígida e impessoal quanto uma linha de montagem.

Muhammad e Malvo talvez tenham mesmo percorrido as ruas dia e noite espreitando vidas inocentes. E se for verdade, merecem a punição que receberem. Mas fomos nós que toleramos, encorajamos e até abraçamos uma cultura tão violenta e desumanizada, que a morte de Lori Ann Lewis-Rivera não significa rigorosamente nada. Nós matamos uns aos outros às dezenas de milhares nesse país, e não há sinal aparente de que isso vá mudar.”

 

MÍDIA / PUBLICIDADE

“TV cresce 14% e concentra 60% de verbas”, copyright Folha de S. Paulo, 29/10/02

“As emissoras de TV faturaram R$ 3,3 bilhões entre janeiro e julho deste ano, registraram um crescimento de 13,8% sobre o mesmo período de 2001 e atingiram concentração de 60% no bolo das verbas publicitárias.

No mesmo período do ano passado, as TVs abertas tiveram receita bruta de R$ 2,9 bilhões. Em dezembro, a participação do meio TV no total das verbas era de 57%. Ou seja: de cada R$ 100, R$ 57 iam para TVs abertas (e 77% disso para a Globo). Os dados são do projeto Inter-Meios, que monitora o mercado de mídia, com auditoria da PricewaterhouseCoopers.

O aumento da concentração das verbas na TV está dentro de análise da TV Globo feita no início deste ano. Naquela época, o atual diretor-geral-interino, Octavio Florisbal, previa uma concentração de 59%. Para Florisbal, a principal causa dessa concentração seria a Copa do Mundo, que teria movimentado R$ 500 milhões (R$ 300 milhões só em TV).

Analistas independentes, no entanto, acreditam que o aumento da concentração está relacionada com a ?BV? (bonificação de valor), prática pela qual as emissoras remuneram as agências por metas de verbas. Assim, as agências destinam mais verbas à TV.

Na média geral dos meios (menos internet), o mercado de mídia cresceu 8,6% de janeiro a julho, movimentando R$ 5,5 bilhões. Jornais e revistas perderam participação no bolo publicitário.”