Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Bom momento para avaliar o papel do assessor de imprensa

DESASTRE DE ALCÂNTARA

Regina França (*)

Onde estava a assessoria de imprensa da Agência Espacial Brasileira (AEB) no dia do acidente ocorrido em 22 de agosto no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), e nos dias subseqüentes?

O comentário inicial do presidente da AEB, Luiz Bevilacqua, durante entrevista logo após a tragédia, interpretado como gafe pela mídia, é de total responsabilidade de sua assessoria de imprensa. Como se explica o fato de os jornalistas receberem a informação sobre o acidente antes de Bevilacqua se, naquele momento, estavam todos no mesmo local, e pior, na própria sede da instituição? E qual foi a atitude posterior da assessoria? Simplesmente permitiu que esta situação ecoasse pelos quatro cantos do país e do exterior. Provavelmente não teve sensibilidade suficiente para antever o problema.

Entre as funções de uma assessoria de imprensa está a responsabilidade com a imagem e a credibilidade da instituição e de seus dirigentes, e mais, o compromisso de prestar contas à sociedade. O programa espacial brasileiro é desenvolvido com recursos públicos e tem como objetivo geral "(…) utilizar os recursos e as técnicas espaciais na solução de problemas nacionais e em benefício da sociedade brasileira". Em outras palavras, é a própria sociedade quem paga esta conta, inclusive a gratificação recebida pelo profissional (?) que desempenha esta atividade e que deveria, portanto, estar disponível, e atento, durante as 24 horas de todos os dias da semana.

Critica-se o pouco espaço nos veículos de comunicação de massa dedicado ao setor de ciência e tecnologia, as incorreções nas matérias, as especulações em torno de determinados temas. Mas, raras vezes avaliamos o papel dos assessores de imprensa, que deveriam intermediar com maestria este processo, uma vez que eles detêm (ou deveriam deter) informações concisas, algo que vá além de um simples "release" ou "nota oficial". Não ser localizado ou deixar de atender a um colega de profissão permite que aos profissionais de imprensa sejam creditados antigos estereótipos, como sensacionalistas e distorcedores de fatos, que não são desfeitos por omissão ou falta de ação de quem tem a obrigação de divulgar as informações de forma clara, de modo a completar o ciclo comunicativo entre o local onde acontece o fato e a transmissão deste à sociedade.

Ética profissional

A conseqüência desta falta de interação recai publicamente, e de forma negativa, na maioria das vezes, sobre a própria instituição, por responsabilidade única e exclusiva da assessoria de imprensa. Para alcançar a credibilidade é preciso noticiar com rigor o que acontece. Muitas vezes sem ter acesso às informações, os jornalistas buscam razões que os próprios fatos não revelam, na tentativa de torná-los compreensíveis.

Neste triste acontecimento perdi alguns amigos, com os quais me orgulho de ter convivido e aprendido tanto, em especial Cezarini, Eduardo Almeida e Gil. E é com tristeza maior que acompanho as críticas e a falta de informações precisas e a omissão da assessoria de imprensa da AEB neste processo de divulgação. Em resumo, que todo um projeto que vem sendo realizado por mais de duas décadas, que envolve centenas de horas de empenho e dedicação, que resulta em grandes benefícios para a área espacial e para o Brasil seja traduzido em desilusões e fracassos.

Não posso deixar de manifestar minha indignação ao consultar o sítio oficial da AEB <http://www.agespacial.gov.br> e não encontrar maiores informações a respeito da tragédia de Alcântara. Ao contrário, encontrei mal redigida a "Cronologia do Programa Espacial Brasileiro", sendo apresentado como fonte Eduardo Dorneles, que morreu também no dia 22 de agosto, num acidente de carro em Brasília. Conhecendo Eduardo como eu conhecia e tendo trabalhado em vários projetos com ele durante os últimos oito anos, não acredito que passassem por seu crivo erros básicos como os que constam deste texto. Em memória a este grande amigo, gostaria de solicitar a retirada deste material do sítio ou uma profunda revisão, inclusive mantendo o estilo utilizado por ele.

Finalizando: onde ficou a ética profissional na assessoria de imprensa da AEB?

(*) Especialista em jornalismo científico

A Direção da Agência Espacial Brasileira me recomendou que encaminhasse a carta abaixo, publicada no nosso site <http://www.aeb.gov.br> e <http://www.aeb.gov.br/comunicacao/textos/default.asp?cod_tipo=1&cod_texto=241>, como complemento ao artigo da ex-coordenadora de Comunicação Social desta Agência, Regina França.

Grata pela oportunidade.

Vânia Gurgel, coordenadora de Comunicação Social da Agência Espacial Brasileira


Carta do presidente da AEB aos funcionários

10/09/2003 10:17:54

Aos servidores da Agência Espacial Brasileira

As dificuldades que recentemente alcançaram a Agência Espacial Brasileira ? AEB e, principalmente, o Programa do VLS têm exigido de todos ? dirigentes e servidores ? um esforço extraordinário. Seja para prosseguir com as atividades programadas para o exercício de 2003, ou para responder (em consonância com as demais agências que compõem o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais – SINDAE) os lídimos questionamentos da sociedade, do Congresso Nacional e de órgãos do Executivo sobre as circunstâncias e os fatos que envolveram o acidente do VLS, no último dia 22 de agosto, em Alcântara.

Passado o impacto dos primeiros momentos, sem dúvida nenhuma os mais dolorosos, quando foram contabilizadas as mortes dos 21 heróis que honraram com suas vidas o Programa Espacial Brasileiro, venho dirigir breves palavras aos colegas desta AEB para agradecer ao apoio recebido de todos os setores da Casa indistintamente. Tanto na elaboração, revisão, e reestruturação dos relatórios técnicos, quanto na consecução das diversas atividades de apoio, realizadas fora das horas normais de trabalho, muitas vezes executadas extrapolando as rotinas estabelecidas pelas normas administrativas (emissão de passagens, serviços de reprodução etc).

Em que pese a harmoniosa atuação do conjunto dos servidores desta Agência, impõe-se destacar o esforço realizado pela Coordenação de Comunicação Social ? CCS que, pela natureza de suas atribuições, vem trabalhando diuturnamente dando contribuição decisiva no melhor encaminhamento das informações entre os diversos segmentos envolvidos: familiares das vítimas, jornalistas, dirigentes, parlamentares, etc. A conduta impecável da jornalista Vânia Gurgel, chefe da CCS, tem sido ? indubitavelmente ? elemento vital na condução primorosa dos referidos trabalhos.

Conquanto não tenham findados os difíceis momentos que ora atravessamos, e cientes de que árduas tarefas ainda estão por vir, transmito aos servidores desta Agência a minha satisfação em conduzir equipe com tal grau de consciência profissional, respeito à sociedade e elevado espírito de servir ao Brasil.

O trabalho continua.

Luiz Bevilacqua, presidente da Agência Espacial Brasileira

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