Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Bombardeio no Sul

Edição de Marinilda Carvalho

Meus queridos, como carioca de Niterói, jornalista, cidadã e principalmente leitora, quero dar as boas-vindas a Bundas. O Observatório abomina palavras chulas, todos sabemos, mas saco um motivo a meu ver razoável para abrir esta exceção: se mencionamos aqui veículos que praticam as maiores pornografias editoriais, embora com nomes caretas, então a revista deste grupo de abnegados do jornalismo de humor tem que ter nosso apoio total. Vocês não concordam? Acho deplorável ter que usar B…, como o Informe JB do dia 16/6.

No número 1, uma notícia sensacional: nem todo mundo ouviu falar da Tiazinha!!! Cícero Sandroni, Ziraldo, Maria Lúcia Dahl, Luís Pimentel, Ivan Fernandes, Jaguar e Fausto Wolff, num belo revival das históricas entrevistas do Pasquim, perguntaram ao doutor Barbosa Lima, 103 anos, quem foi a Tiazinha do tempo dele.

? Quem foi o quê? ? estranhou o doutor Barbosa.

? Essa moça que fica balançando a bunda na TV.

? Na televisão só vejo o noticiário.

Um belo brasileiro, o doutor Barbosa.

Aqui no Caderno, destaco a preocupante mensagem da leitora Cecilia Nisemblat, que comenta a campanha da mídia gaúcha contra o governador Olívio Dutra. Começo a entender por que os leitores protestaram quando publicamos aqui a tal “cartilha do governador”, tchê…

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Clique sobre o trecho sublinhado para ler a íntegra da notícia

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Cara jornalista Lu Fernandes, somente há pouquíssimo tempo pude ter acesso à sua oportuníssima matéria, publicada em 5 de março de 1998, sobre uma possível conspiração concertada entre mídia e grupos de poder na Espanha para desestabilizar o governo de Felipe Gonzáles [ver remissão abaixo]. A não ser que eu esteja me deixando levar por irresistível paranóia, parece-me que algo de semelhante está ocorrendo bem aqui no Rio Grande do Sul, com a eleição de Olívio Dutra ao governo do estado. Os cinco meses de bombardeio cerrado que esta nova administração de viés social-democrata ou “comunista” como querem certos jornalistas, empresários e a maioria legislativa de oposição vem enfrentando são algo talvez apenas comparável à campanha movida por Carlos Lacerda e os Diários Associados ao governo de Getúlio Vargas.

Creio tratar-se na história do Rio Grande de fato inédito ou, pelo menos, desta forma meu parco conhecimento histórico me induz a julgar. Seu artigo vem tanto a calhar que lhe peço permissão para enviá-lo a todas as bancadas do parlamento gaúcho e a alguns jornalistas daqui da capital. Outrossim, gostaria de que a Sra., ou mesmo o próprio Observatório, se debruçasse sobre esta verdadeira histeria “midiático-empresarial” como matéria de pesquisa ou de análise. Grata pela atenção,

Cecilia Nisemblat

Nota do O.I.: Cara leitora, tentamos encontrar Lu Fernandes, sem sucesso. Desde já, porém, considere-se convidada a dar este mergulho na histeria midiática gaúcha.

Embora fora do eixo, o Rio Grande do Sul sempre se notabilizou pela consciência política e o senso crítico adquiridos ao longo da história ? características essas que certamente podem ser observadas também nos manifestos dirigidos a esse programa. Pois, acredite, em um estado de tamanha grandeza cultural é lamentável que tenhamos que engolir a substituição do Observatório da Imprensa pelo Frente a Frente, programa local que mais parece um Roda Viva varzeano.

Há cerca de um mês a televisão pública gaúcha está perdendo seu caráter essencial para ser usada no combate às outras redes que representam o “mal”, e tudo pela propaganda política travestida de debates relevantes. Colocaram-nos na geladeira.

Marcelo Idiarte, São Leopoldo, RS

Embora as argumentações do Dines no seu “Ofensiva contra a rede pública de TV” estejam corretas, não vejo como não endossar as preocupações do jornalista Alexandre Freire (“Entre a ?pureza? e o compromisso público”), pois receio que seja difícil perder só meia pureza e, nesse caso, o “brejo” seja muito profundo e afunde com o nível das nossas TVs Cultura e TVE. Achei excelente o modelo, por ele citado, que mantém a BBC de Londres. Aquela conversa de que “temos compromissos com nossos anunciantes” das TVs comerciais é muito desmotivante. Não seria isso o que está acontecendo com o Roda Viva, que acabou virando um Roda Morta?

José Rosa Filho

A toda equipe do Observatório: belíssimo trabalho!!! Até que enfim estão se abrindo as cortinas dos bastidores da mídia, só assim todos poderão perceber e saber como realmente a mídia se comporta e interfere na nossa sociedade.

Maria Rita

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Prezado senhor, ao agradecer envio da publicação n? 20 do Observatório da Imprensa [versão impressa], aproveito para parabenizar esta equipe pelo corajoso trabalho em defesa da liberdade de expressão e o importantíssimo papel de acompanhamento do desempenho da mídia.

Nestes tempos modernos, em que o paradigma do conhecimento e os veículos de informação assumem papel preponderante sobre o ordenamento social, é fundamental o fortalecimento de instrumentos que reproduzam esta dimensão crítica, provocando a reflexão e a possibilidade de se forjar posições conscientes e com independência.

Este Observatório, até pelas pressões e a intolerância de quem tem sido vítima, demonstra o êxito e a competência deste trabalho jornalístico. Parabéns. Atenciosamente,

Deputado Carlito Merss, PT/SC

(Câmara dos Deputados, Ofício n? 156/99, Brasília, 26/5/99)

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Adoro o Observatório da Imprensa na TV. Acompanho todos os programas. É um programa maravilhoso, sempre me surpreende. É a primeira vez que entro pela Internet. Obrigada pela seriedade e respeito com que vocês trabalham.

Clara Trigo

Não sei até que ponto as intervenções da apresentadora do Observatório na TV são positivas. Sei que é necessário intervir para que haja dinâmica e que o debate não seja monopolizado. Mas muitas vezes ela corta os participantes de forma grosseira e indelicada. Na hora de uma intervenção brusca fica a sensação de que o que estava sendo falado não era tão interessante, mesmo que não seja esta a intenção. Decidi mandar este e-mail porque tenho visto estas cenas constrangedoras há algum tempo e para apresentar minha posição de que a apresentadora não deve se portar com um árbitro. Espero que isto que escrevi, se possível, chegue até ela.

Viviane Campos

Gostaria de chamar a atenção para a total falta de bom senso e respeito do jornalismo da Rede Globo. Na quinta-feira 3/6/99, às 11h, logo após os Teletubbies e ainda dentro da programação infantil (Angélica), a emissora, numa chamada do Jornal Hoje, mostrou um “flagrante de atentado”, que se resumiu numa imagem chocante de um carro explodindo.

Não era notícia relevante, não era plantão ao vivo, podia esperar o horário do jornal, já sem crianças assistindo. A emissora não separa os horários, não dando a menor chance aos pais de selecionar o que seus filhos não devem assistir. O jornalismo estampa suas manchetes, quase sempre fortes, dentro de qualquer programa. Definitivamente imagens violentas não contribuem com a educação das crianças. Ao contrário do que a emissora crê, a audiência não é tudo. Existem valores, não-monetários, como o respeito ao público, que são mais importantes. Bom senso então, nem se fala…

Sergio Fernandes

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Estou escrevendo isso mas, infelizmente, é chover no molhado. No domingo 13/6, termina o Programa do Faustão com ele anunciando o Agnaldo Rayol e pedindo aos telespectadores que “abram seus corações”, pois ele haveria de cantar uma canção romântica muito linda. Termina o programa com a música ainda pela metade e entra uma cena de um carro sendo fortemente metralhado com seus ocupantes dentro.

Uma cena muito forte para um horário nobre. Minha filha de 7 anos ficou perplexa. Só pode haver uma finalidade: desarticular-nos, deixar-nos abalados de modo que com o passar do tempo fiquemos totalmente indefesos, aceitando tudo que vem pela TV, pois a coisa é tratada com uma banalidade tamanha que acabamos por perder o senso do que é decente, moral. A quem recorrer? O presidente acredita na Rede Globo…

Carlos Gatto, Rio de Janeiro

Se de um lado abomino a idéia de se fazer qualquer tipo de censura, de outro não encontro outra maneira de mudar o que assistimos todos os dias. Alguns programas são declaradamente ruins, tolos, vazios… Outros só aparentemente são melhores. Na verdade não há censura oficial, há empresarial. Os donos das emissoras e jornais decidem o que acham melhor noticiar, divulgar, defender. Em alguns casos beiram a incoerência. Ana Carolina Dias

Sou assíduo leitor eletrônico do Observatório, e tenho acompanhado com interesse o caso dos grampos e a polêmica com a Folha. Acho que Alberto Dines tem razão em muito do que tem comentado. Porém, é importante que questões pessoais não sirvam para esconder a culpa destes “senhores”, mendonças, aridas, pios, laras e outros, que sempre estiveram ao lado do poder desde o fatídico Governo Collor. Que o grampo é ilegal, não tenho dúvida! Mas que os grampeados têm culpa quando armaram uma licitação (leilão), também não tenho dúvida.

Alexandre Jacobina

Nota do O.I.: Caro leitor, quem grampeou, quem distribuiu as fitas, a quem isso interessava? Você tem as respostas? A Folha também não. É disso que se vem tratando aqui. “Questões pessoais” nada têm a ver com tais perguntas. O objetivo do O.I. é avaliar o desempenho da mídia, e não medir o grau de “culpa” dos envolvidos em escândalos. Um abraço, volte sempre. M. C.

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Não concordo com as colocações de Dines sobre a Folha no caso dos grampos. Não faltaram esclarecimentos. Ninguém precisa ser bacharel para saber que o grampo é criminoso, convivemos com essa prática há muitos escândalos… Não vi a mesma veemência em Dines, com relação aos grampos, no caso da CPI do Judiciário. Também discordo quando Dines diz que o outro lado não foi ouvido. O outro lado falou exaustivamente e até agora não deu uma explicação decente sobre o fato de o presidente da República ter se envolvido num processo de leilão.

Ouvi as gravações e fiquei estarrecida tamanha a leviandade com que as autoridades trataram o leilão das teles. “Ratos”, “comissão pra lá e pra cá”, “babacas”, uma fartura de gargalhadas… Ouvir essas gravações é sem dúvida uma amarga experiência, não imaginava que a turma de FHC voasse tão baixo.

As revelações foram muito importantes; se o caso não foi para frente, não é por culpa da Folha. A imprensa brasileira é claramente governista. Quantos escândalos desse governo apareceram e desapareceram na imprensa?

Márcia Meireles, São Paulo

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É uma alegria muito salutar saber que existe gente pensante nesse país. Tive a paciência de ler com lupa a matéria da Folha. Juro que eu acreditava que iria encontrar uma prova definitiva contra a presunção e a arrogância tucana. Frustração. Só frustração. A matéria era uma conversa de comadre. O grande crime foi mantido incólume: até quando vamos viver sob a chantagem do anonimato das fitas clandestinas? É tudo tão surrealista que até parece um George Orwell às avessas. Parabéns pela análise e pela lúcida e inteligente comparação com a retomada da matéria sobre a queima de arquivos PC Farias.

Paulo de Tarso Venceslau

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A Folha ganhou destaque ao trazer as novas fitas do caso da privatização (deve ter vendido muito). A bolsa caiu e a oposição rugiu pedindo o impeachment. No entanto, apesar de não concordar com os métodos, não há elementos para desconfiar da honestidade dos grampeados. Em todos os momentos gravados fica patente a intenção de obter os melhores resultados para a privatização.

Claro, tudo deve ser melhor apurado e investigado, inclusive por uma CPI. Não se trata, contudo, de eleger culpados como fez a Folha. Como se FHC tivesse sido flagrado com a boca na botija. Não foi. Os juristas consultados pelo jornal divergem em relação à caracterização das palavras de FHC como crime. O próprio jornal, ao contrário, considera o presidente culpado e dá em manchete tal informação.

Não teria sido oportunista a matéria da Folha? O jornal paulistano não teria sido movido pelo desejo dos holofotes em vez do propalado interesse público? Gostaria de saber a opinião deste conceituado site acerca das matérias da Folha.

Mauricio Hildebrand Pascoal

Nota do O.I.: Caro Maurício, em Edições Anteriores você encontrará muitos comentários a respeito, de observadores e leitores.

Qual é o verdadeiro objetivo da imprensa em, apenas, levantar os fatos sem discuti-los mais profundamente? A pergunta surgiu durante o programa que tratou de A conversa do presidente. Neste dia, também foi comentada a superficialidade da mídia ao abordar temas importantes.

Gabriela Weber de Morais

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Quando a nossa querida imprensa vai dar destaque aos problemas da fronteira EUA/México???

Evaldo de Lara Cardozo, Curitiba

Não foi essa a primeira, nem será a última vez, que “catastrofistas” de carteirinha predizem o fim do mundo. Certamente muitos sabem pouco. Em matéria econômica, podemos concluir que existem mais pajés que gurus.

Márcio

Muito interessante o texto do médico e jornalista Isak Bejzman. A discussão sobre a fotografia deveria ter maior espaço no O.I.. Geralmente os repórteres fotográficos escrevem muito pouco sobre a profissão e o trabalho diário. Tive dificuldades imensas para produzir um projeto de conclusão de curso sobre fotojornalismo, dada a falta de textos. Gostaria muito de ler mais sobre fotojornalismo no O.I..

Rodolfo Bührer

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Independentemente do sério problema das crianças que têm que trabalhar em locais insalubres e perigosos como um manguezal, e que portanto merece a atenção de todos nós, no caso específico da foto publicada na capa da Folha, afirmo: ela foi preparada pelo fotógrafo para causar maior impacto, o que a meu ver não é eticamente correto.

1. O barro do rosto da pequena modelo foi visivelmente passado “a dedo”, como fica perfeitamente claro principalmente na testa; 2. Se a menina tivesse mergulhado o rosto na lama, o que dá a entender a foto, e que é desnecessário para pegar os caranguejos, não haveria falhas de lama em volta do nariz, pois a bochechas estão sujas; 3. Igualmente, sua camisa estaria totalmente suja, e não somente respingada; 4. As pontas de seus cabelos estariam também sujas, o que não acontece.

Acho que a época de jogar pratos para cima para simular discos voadores, como faziam os fotógrafos de O Cruzeiro, já terminou. Atenciosamente,

Fernando Souza

Na capa da Folha de 2 de junho vimos José Serra e ACM fotografados num daqueles momentos de descontração que os fotógrafos gostam de captar. No dia seguinte, a charge do Glauco mostrava uma paródia dessa fotografia, acrescentando o detalhe de um esfaqueando o outro pelas costas, com o título “Trégua” e o diálogo: “Foi um prazer, ministro!” e “O prazer foi todo meu, senador!”. Que curioso! Está na hora de avaliar o papel jornalístico da charge. Spacca

Vocês já viram o “Di”, de Glauber Rocha? É um curta-metragem rodado no velório do pintor Di Cavalcanti. Excelente, um elixir de vitalidade, especialmente em tempos de bom-mocismo e conformismo estéticos e conceituais. É também um belo exemplo do que Pierre Levy vive dizendo sobre a Internet. E é um filme inédito, proibido no Brasil. A família de Di Cavalcanti, horrorizada com o que Glauber fez e desfez no velório, pediu e conseguiu a proibição na Justiça.

Mas alguém teve a bela idéia de disponibilizá-lo num site além-mar. Viva a net! Está em <http://members.xoom.com/dinanet/>

Detalhe… Não há crime em ver. O crime é exibir.

Um amigo

Enviei carta à revista Caros Amigos, com cópia a vocês, indagando por que Dines não apareceu na revista quando foi demitido da Folha. Chega a resposta, meio confusa. Sergio de Souza diz que deu crédito a Dines no Editorial. Não vi o nome de Dines em nenhum lugar. A única coisa que queria saber, no final das contas, é por que uma revista preocupada com a ética como Caros Amigos não entrevistou um homem preocupado com a ética, como Dines, num momento em que estava sendo demitido de um jornal que não demostrou a menor ética, a Folha. Não quero interferir nas pautas de qualquer meio de comunicação. Só achei tudo estranho, muito estranho. Abraços,

Douglas Duarte

 

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Continuação do Caderno do Leitor

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