Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

“Brasil é paraíso para hackers”, copyright UOL / The New York Times (www.uol.com.br), 27/10/03

“Com um sorriso ?eu te disse?, Marcos Flávio Assunção lê quatro dígitos -uma senha de banco pela Internet- que ele interceptou enquanto o repórter se comunicava pelo laptop com um site supostamente seguro de banco.

?Não faria diferença se você estivesse do outro lado do mundo, na Malásia?, disse Assunção, um jovem confiante de 22 anos. ?Eu ainda assim roubaria sua senha.?

Apesar de impressionantes, os talentos de hacking de Assunção não são únicos no Brasil, onde abunda o crime organizado, e leis para prevenir o crime digital são poucas e geralmente ineficientes. O país está se tornando um laboratório para o cibercrime, com os hackers -capazes de colaborar com relativa impunidade- se especializando em roubo de dados e identidade, fraudes com cartão de crédito e pirataria, assim como em vandalismo online.

?A maioria de nós é hacker, não cracker; pessoas boas que só fazem isto pelo desafio, não criminosas?, disse Assunção. Ele insistiu que nunca empregou seus talentos para fins criminosos, apesar de ter reconhecido que aos 14 anos ele derrubou o serviço de um provedor de Internet por um fim de semana após ter discutido com seu dono.

Por todo o globo, os hackers gostam de se identificar como ?white hats? (chapéus brancos, os mocinhos) ou ?black hats? (chapéus pretos, os bandidos), disse um especialista brasileiro, Alessio Fon Melozo, diretor editorial da Digerati, que publica uma revista hacker, ?H4ck3r: A Revista do Submundo Digital?. ?Mas aqui no Brasil há apenas tons cinzentos?, disse Melozo. Assunção criou um software de segurança para sua empregadora, a Defnet, uma pequena consultoria de Internet em São Paulo.

O software usa um sistema ?honey pot? (pote de mel, armadilha) que atrai e monitora intrusos em tempo real. Ele também usa técnicas para frustrar impostores, que tentam disfarçar seus computadores como sendo de bancos ou outros sites seguros. Até o momento, Assunção não tem conseguido marcar entrevistas com seus clientes-alvo: executivos de segurança dos grandes bancos.

?Eles dizem que têm sua própria segurança e preferem ignorar?, disse ele. ?Mas os hackers brasileiros são conhecidos pela criatividade. Se as coisas continuarem assim, não haverá mais assaltos à mão armada em bancos. Todos os roubos serão feitos pela Internet.?

Pelo menos nos últimos dois anos, o Brasil tem sido a base mais ativa de irresponsáveis da Internet, segundo a mi2g Intelligence Unit, uma firma de consultoria de risco digital em Londres. No ano passado, os dez grupos mais ativos do mundo de vândalos e criminosos de Internet eram brasileiros, segundo a mi2g, e incluía grupos com nomes como Breaking Your Security, Virtual Hell e Rooting Your Admin. Até o momento neste ano, cerca de 96 mil ataques abertos pela Internet -aqueles que são relatados, validados e testemunhados- foram rastreados até o Brasil. Isso representa mais de seis vezes o número de ataques atribuídos ao segundo colocado, a Turquia, informou a mi2g no mês passado.

Já sobrecarregados na sua luta para conter o crime violento em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, a polícia está encontrando dificuldade para acompanhar o passo dos grupos de hackers.

Os 20 policiais que trabalham na divisão de crimes eletrônicos da polícia de São Paulo pegam cerca de 40 suspeitos de cibercrime por mês. Mas tais crimes representam apenas uma fração do número ?notório e crescente? de cibercrimes em São Paulo, a capital econômica do Brasil, disse Ronaldo Tossunian, o delegado-assistente da divisão.

O esforço da polícia de São Paulo não é auxiliado pela legislação vaga que data de 1988, muito antes da maioria dos brasileiros ter ouvido falar de Internet. Segundo a lei, a polícia não pode prender um hacker apenas por invadir um site, ou mesmo distribuir um vírus, a menos que possa provar que a ação resultou no cometimento de um crime.

Assim, mesmo após os investigadores da polícia terem identificado um hacker de 18 anos no Rio de Janeiro, eles tiveram que monitorá-lo por sete meses e encontrar evidências de que ele de fato tinha roubado dinheiro de várias empresas de cartão de crédito antes de prendê-lo.

?Nós não temos a legislação específica para estes crimes como existe nos Estados Unidos e na Europa?, disse Tossunian. ?Apenas invadir não é suficiente para efetuar uma prisão, o que significa que não há dissuasão.?

Além disso, os analistas dizem que muitas empresas, incluindo bancos, têm sido lentas em perceber, ou até mesmo se recusam a reconhecer, a seriedade do problema. O Banco Itaú, um dos maiores bancos privados do Brasil e a instituição de cujo site Assunção roubou a senha durante sua demonstração, se recusou a fornecer alguém para comentários.

Fabrício Martins, o diretor-chefe de segurança do Nexxy Capital Group, um importante provedor de sites para empresas de comércio eletrônico, disse: ?A maioria das empresas daqui não toma precauções até que algo ruim aconteça e as obrigue a agir?.

Martins, por exemplo, reforçou o software de segurança da Nexxy depois que endereços de e-mail de clientes online foram roubados dois anos atrás. Agora, o programa dele é um dos 20 softwares para compensação de cartão de crédito aprovados pela Visa International no Brasil.

Por que os hackers do Brasil são tão fortes e engenhosos? Porque eles têm pouco a temer legalmente, disse Assunção, acrescentando que os hackers daqui são sociáveis e compartilham mais informação do que os hackers dos países desenvolvidos. ?É uma coisa cultural?, disse ele. ?Eu não vejo hackers americanos tão dispostos a compartilhar informação entre eles.?

Apesar do custo de um computador ser proibitivo para a maioria das pessoas neste país, onde o média salarial é de menos de US$ 300 por mês, obter informação sobre hacking é simples. A revista H4ck3r, disponível em bancas de jornais de todo o país, vende cerca de 20 mil exemplares por mês.

Melozo, o diretor editorial, rejeitou qualquer sugestão de que a H4ck3r ensina os brasileiros a cometer cibercrimes.

?É uma linha muito tênue, eu sei?, disse ele. ?Mas o que nos guia é o princípio da informação, da educação de nossos leitores de forma responsável.? (Tradução: George El Khouri Andolfato)”

“A arte de comprar livros online”, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 27/10/03

“Livro é coisa muito pessoal – portanto esta é uma coluna pessoal. O prazer de comprar livros tem relação pequena com o prazer de lê-los. São coisas distintas. Até está lá um pouco da ansiedade para o começo da leitura, mas na compra mistura-se também a felicidade de encontrar algo que se procura há muito, o espírito de criança que coleciona selos ou moedas e, naturalmente, a praga contemporânea do consumismo. Há uns anos, dizia-se que comprar livro na Internet estragava a diversão de fuçar as estantes das livrarias. São diferentes. Comprar livro na web pode ser imensamente mais sofisticado que uma visita à Amazon.com. E mais barato que um passeio pela livraria da esquina.

A primeira grande diferença, para quem lê outras línguas, é a variedade. A quantidade de títulos publicados em países como Estados Unidos, Inglaterra ou França é aterradora. Mas, no fim das contas, a surpresa arrefece um pouco depois das primeiras compras. Muito rápido, o sujeito acostuma-se ao fato de que numa loja como a Amazon (ou a versão online da Barnes & Noble) tem muita coisa e começa o lento processo de fazer comprinhas pequenas, sempre assustado com o valor do dólar.

Por que comprar no exterior? Há motivos diversos. Uns implicam com traduções se conhecem o vernáculo original. Outros incomodam-se com a má qualidade das traduções pátrias. Algumas editoras, como a Jorge Zahar ou a Companhia das Letras, capricham; a maioria, não, traduz nas coxas. Não é raro, em livros sobre o Oriente Médio por exemplo, encontrar menções à Margem ocidental – de West Bank – como se este fosse o nome dum lugar. (Na margem ocidental do rio Jordão, em português, está a Cisjordânia.) Existe, ainda, quem goste de edições em capa dura, quando o dinheiro é folgado. Na maioria dos casos, compra-se no exterior aquilo que não está disponível no Brasil e ponto.

De olho na economia, dá para requintar o processo. Comparando preços, por exemplo. Não raro, livros na Inglaterra podem ser incrivelmente mais baratos que nos Estados Unidos. É freqüentemente o caso de livros didáticos universitários. Diferenças monstruosas, num lugar, 100 dólares, no outro, 50. Segundo o New York Times de dias atrás, esta é uma lição que os estudantes dos EUA já aprenderam. Fazer uma compra com o site da Amazon norte-americana e o da britânica abertos ao mesmo tempo é sempre uma boa idéia. É claro, carece fechar os pacotes e levar o processo de compra até quase o final, antes de entrar com o número do cartão de crédito, para ver como fica o total incluindo frete. Dependendo da compra, numa soma de uns 50 dólares digamos, a diferença pode ser de mais ou menos 15 numa e noutra. São 45 reais – um bocado de dinheiro.

Na própria Amazon é possível comprar livros de sebo. Escolhe-se um título no site, abre-se a página, está lá o preço dum exemplar novo. Miúdo, embaixo, buy used. Um clique leva o usuário a uma listagem de vários exemplares – o resultado pode ser gratificante para quem sabe escolher. Cada livro é cuidadosamente descrito em categorias de Parece novo a pobre, passando por muito bom, bom e regular.

A diferença de um livro de sebo é que ele não é entregue pela Amazon mas pelo sebo conveniado. Assim, a cada livro soma-se uma taxa de 7 dólares para a entrega. Parece muito, não é. Um livro de sebo pode custar até centavos de dólar. No total, fica mais barato, muitas vezes, que comprar a tradução brasileira. E ele não é necessariamente um livro usado. Sebos norte-americanos, não raro, compram direto das editoras, a peso, suas pontas de estoque. Para uma grande editora, depois de um tempo é mais barato se livrar baratinho do entulho não vendido do que alugar o armazém. Se for este o caso, a informação estará lá. Há uns meses, comprei um exemplar em capa dura de ?Remembering Mr. Shawn?s New Yorker?, do escritor indiano Ved Mehta, por 96 centavos de dólar. Edição impecável, livro novo. A conta no cartão de crédito somou, após a entrega, menos de 30 reais. A edição em brochura, na Amazon convencional, fica em quase 17 dólares – sem incluir frete.

Para quem costuma comprar em sebo daqueles com parede, estantes e telhado, há outros prazeres como o de encontrar uma primeira edição. Embora a Amazon tenha um bocado de sebos conveniados, muitas vezes é melhor recorrer a outras lojas virtuais. É o caso da Strand, maior cadeia de livros usados em Nova York. Para os usuários de seu site, com freqüência eles lançam promoções. Foi o caso, recentemente, da biografia de Benjamin Franklin assinada por Walter Isaacson, ex-diretor de redação da revista Time e da CNN. Ao invés de vender barato a ponta de estoque que comprou, o sebo ofereceu a seus clientes as cópias ao preço da livraria, mas autografadas pelo autor. Para quem é disso, fica uma graça na estante de casa.

Mas se a procura de um sebo tem por objetivo variedade, então há outras opções – caso da Abebooks, uma espécie de união de sebos ao redor do mundo. Não vende apenas livros em inglês, mas principalmente. Como no caso da Amazon, cada livro é enviado pelo sebo conveniado e, portanto, a taxa de envio não inclui o pacote todo, mas vai de um em um. Uma primeira edição britânica, em capa dura, de ?Life and times of Michael K?, de J. M. Coetzee, recem-premiado com o Nobel de literatura, pode ser encontrada num sebo inglês por 8,37 dólares. Mais uns 10 de dólares de envio, chega cá no Brasil por pouco menos de 60 reais. A edição brasileira custa 25 reais, mas estamos falando duma primeiríssima edição em excelente estado.

Os sebos cobram caro por livros de Coetzee porque a demanda está alta. Mas no caso de autores de best seller, a diferença salta aos olhos. Presa, último romance de Michael Crichton, sai na tradução tupinambá por 40 reais. Uma primeira edição norte-americana em bom estado, capa dura, chega por aqui pelo mesmo preço. Se formos procurar livros mais antigos dele – digamos, Linha do tempo, é festa. Por 30 reais, uma boa edição em capa dura chega ao Brasil; por 46 compra-se a tradução. Literatura de segunda? Talvez. Adeus às armas, Ernest Hemingway. Versão brasileira, 40 reais. Boa edição em capa dura, na porta, mesmo preço; em brochura: 30 reais.

Há sempre quem não tenha qualquer preocupação com dinheiro. Quer raridades. Com 8.500 dólares mais envio, na Abebooks, o indivíduo leva uma primeira edição de 1929, in oitavo, de Adeus às armas, bom estado e com a assinatura de Hemingway. Mas, vá lá, quem tem 8.500 dólares para brincar assim? Para estes, estará sempre por lá a Maggs, tradicional loja de livros raros britânica que recebe clientes com hora marcada e que tem um excelente site. Com menos de 16.000 reais o felizardo pode deixar a Maggs eletrônica com uma primeira edição da Flora Brasileira de Von Martius que pertenceu, provavelmente, à imperatriz Teresa Cristina. (Uma primeira edição do panfleto atacando os protestantes escrito por Nicolás Durand, cavaleiro de Villegagnon, datada de 1561, saia antes de ser vendido bem mais em conta: 1.650 reais.)

É claro que conquistas bem mais modestas podem, e devem, ser celebradas. Procuro já faz uns anos um exemplar de ?Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola?, do historiador britânico Charles Boxer. Salvador Corrêa de Sá e Benevides foi o último dos Sás a governar o Rio de Janeiro, deposto por golpe popular na década de 1660. Tratava seu troço de colônia como feudo familiar, como o fizeram pai e avô, e sustentava-se do tráfico de escravos. Mas fez coisas estupendas como conquistar sozinho, com um exército de índios tupiniquins, Angola dos holandeses criando uma situação surreal, que é a de uma colônia com colônia própria num tempo confuso em que os Braganças estavam assumindo o trono português. Nem é um livro difícil de achar – o que dói é o preço. Publicado em 1952, na Inglaterra, sai por 100 dólares em média constante. Dia desses, encontrei-o por 29 dólares. Outra dor é a da espera – se bobear, só chega perto do Natal ou depois do ano novo.

A demora, sempre foi assim e não muda para quem quer economizar no frete desde que fiz minha primeira compra eletrônica de livros, há mais de dez anos. Na época não havia Amazon, comprava-se numa loja maravilhosa chamada Bookstacks que atendia no endereço books.com – sem web. Era via telnet, um recurso que ainda existe na Internet mas que qualquer um com bom senso não faz a mínima questão de usar. Quando a web gráfica veio, vieram juntos, naturalmente, os primeiros browsers. Browser é o Explorer, o Netscape, o nome genérico em inglês para o programa que navega pela web. Browse é também o verbo que descreve o cuidadoso deslizar de olhos por uma estante de livros.

Não era possível escolher nome melhor.”

“Projeto de lei obriga governo a investir em inclusão digital”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 22/10/03

“A Comissão de Educação do Senado aprovou por unanimidade, em caráter terminativo, projeto de lei do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), que inclui na Lei de Diretrizes e Bases da Educação a obrigatoriedade de adoção pelo governo de políticas em prol da inclusão digital, promovendo o acesso dos brasileiros a bibliotecas, a computadores e à internet.

A proposta, que teve parecer favorável do senador Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), seguirá para a Câmara, se não houver recurso para sua votação em Plenário. Durante a discussão da matéria, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) lembrou que o governo já tem políticas nesse sentido, mas que o grande mérito do projeto é tornar essas políticas obrigatórias.

O senador Demostenes Torres (PFL-GO) parabenizou o autor, por acreditar que a aprovação do projeto permitirá a universalização do uso da informática nas escolas públicas. O relator acatou voto em separado apresentado pelo senador José Jorge (PFL-PE), que traz modificações na redação do texto.

O ano de 2006 será o Ano Nacional Santos Dumont, de acordo com o projeto n? 293/2003, de caráter terminativo, aprovado pela CE. De autoria da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), a proposta recebeu parecer favorável do relator, senador Maguito Vilela (PMDB-GO). As informações são de nota distribuída pela Agência Senado.”

MEMÓRIA / MARA CABALLERO

“Mara Caballero, editora de estilo”, copyright O Globo, 27/10/03

“Curiosa, divertida, inteligente, ?antenada?. Assim a jornalista Mara Leonor Maia Caballero, de 53 anos, era definida pelos amigos que conquistou durante os mais de 20 anos de profissão. Editora do caderno ELA do GLOBO há quatro anos, Mara fez reportagens na área de moda durante muito tempo. Era também sobre este assunto que ela fazia comentários na Rádio Globo FM.

A carioca Mara começou no jornalismo no fim dos anos 70. Como profissional, os amigos dizem que ela era muito correta, tinha um olhar provocador, estava sempre em busca de idéias diferentes e, apesar do jeito alegre, também tinha seus momentos de estresse. Mara passou duas vezes pelo GLOBO, trabalhou no ?Jornal do Brasil? e nas revistas ?Elle?, ?Vogue? e ?Desfile?. Também escreveu, com Dina Sfat, um livro sobre a vida da atriz: ?Palmas para que te quero?.

Para a produtora de moda Hiluz del Priori, a moda era apenas uma das maneiras usadas por Mara para analisar o comportamento humano:

– Ela gostava muito do comportamento das pessoas, principalmente do universo feminino, e a moda foi uma conseqüência disso.

Para o jornalista de moda Julio Rego, autor da reportagem de capa da edição deste sábado do ELA, Mara imprimiu uma marca ao caderno, tornando-o mais sofisticado:

– Mara valorizava temas como a memória da moda e sempre foi uma excelente profissional. Apesar de não andar bem de saúde, continuava entusiasmada com a profissão e, na última vez que nos falamos, na quarta-feira, ela me pediu que pensasse em outros temas para reportagens como a deste sábado, sobre o empresário Nelson Seabra, o brasileiro mais elegante de Hollywood nos anos 50.

Outra paixão de Mara era conhecer lugares diferentes e viajar pelo mundo afora. Na ?Elle?, nos anos 80, ela trabalhou na editoria de turismo e cultura. A jornalista Christiane Fleury, que também fazia parte da equipe, classificou Mara como uma pessoa muito engraçada e culta:

– A Mara era uma grande jornalista, que escrevia sobre qualquer assunto muito bem. E gostava de consumir roupa, consumir moda, mas não gostava de ficar discutindo tendências. Adorava o glamour da moda, das grandes histórias da moda e seus personagens.

O designer Marco Sabino estava sempre em contato com Mara durante suas viagens:

– Ela me ligava e eu passava notas. Conheci uma Mara que não foi a Mara que a maior parte das pessoas conheceu. E eu gostava muito dessa outra Mara. Pude desfrutar de sua amizade.

A jornalista Danusia Bárbara lembra que Mara gostava de festas. Seu último aniversário, dia 7 de setembro, foi comemorado junto com o do empresário Guilherme Araújo, numa loja de artesanato e bar da socialite Claude Amaral Peixoto, em Copacabana.

Mara Caballero também cobriu por 20 anos outro tipo de desfile, que é a maior festa popular do país: o das escolas de samba.

– Ela adorava música brasileira e samba, mas sempre teve interesse na área de estilo e decoração e conseguiu trabalhar mais com esse setor quando foi para a ?Elle?. Foi então que ela trocou mesmo o samba pela moda – contou a jornalista de moda Iesa Rodrigues, que também trabalhou com Mara.

Iesa lembra que Mara gostava de trabalhar até tarde:

– Eu tinha medo que passasse algum erro por sairmos tarde, mas a Mara dizia que não precisava me preocupar porque, quanto mais tarde, mais atenta ela ficava. Tinha um olho para edição final incrível, era brilhante. Foi uma das editoras mais animadas e entusiasmadas que eu tive.

Os amigos contam que Mara vinha reclamando de cansaço e estava se tratando com medicina ortomolecular. A jornalista morreu em casa, em Copacabana, na madrugada de ontem, de parada cardiorrespiratória decorrente de uma crise de asma. Ela estava sentada no sofá e foi encontrada pela filha, Bárbara, de 18 anos. Mara também tinha um filho, Miguel, de 21. Seu corpo foi velado na capela 9 do Cemitério São João Batista, em Botafogo, onde foi sepultado às 17h de ontem.

O velório reuniu cerca de 200 pessoas, que lotaram a capela. Muito emocionadas, personalidades do mundo da moda, como Glorinha Paranaguá, e artistas, como Maitê Proença, estiveram presentes.”