Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Briga pelos números

CBS X CNN

Não é exatamente uma revelação que as emissoras abertas atraem uma audiência muito maior que os canais a cabo. No entanto, a CBS News se sentiu compelida a lançar um press release lembrando imprensa e anunciantes desse fato. Segundo o presidente da rede, Andrew Heyward, trata-se de um recado aos coleguinhas, principalmente da imprensa escrita, para perceberem que estão dando “atenção desproporcional as guerrinhas a cabo”. “Qualquer um que lê jornal pode facilmente ser levado a acreditar que é lá que todo mundo se informa… Se você lê o New York Times, vai pensar que é a única coisa na TV”, ataca Heyward, afirmando que os telejornais das três grandes redes atraem 10 vezes mais telespectadores que CNN, Fox, MSNBC, CNBC e CNN Headline News juntas no mesmo horário.

A CNN prefere olhar os índices de outra maneira: diz que a soma total dos números indica que 56,6% do tempo gasto pelo público vendo notícias foi em canais a cabo, e 43,4% em emissoras abertas. Jack Wakshlag, pesquisador da Turner Broadcasting, afirma que a operação 24 horas faz com que as pessoas deixem de esperar por Dan Rather e Peter Jennings para se informar: “Existe um apetite incrível por notícia, e muito pouco disso está sendo satisfeito pelos noticiários de canais abertos”.

Howard Kurtz [The Washington Post, 12/8/02] observa, no entanto, que a conta feita pela CNN convenientemente omite programas populares como 60 Minutes e Dateline, além de desconsiderar o fato de que telespectadores que ligam no canal seis vezes por dia são contados a cada vez que o fazem. Quanto à atenção dada pela imprensa às emissoras a cabo, o crítico de mídia acredita que isto tem menos a ver com o tamanho da audiência do que com a ameaça da Fox ao posto da CNN e a migração de âncoras famosos (Connie Chung, Paula Zahn, Aaron Brown), estrelas (Phil Donahue) e políticos (Pat Buchanan) para os canais fechados.

 

TABLÓIDES BRITÂNICOS

Tem sido uma estadia ruidosa: os mais de 20 repórteres e fotógrafos de tablóides britânicos se instalaram na frente do tribunal de Orange County, na Califórnia, caçaram o promotor público, perseguiram a vítima e ofereceram muito dinheiro por um bom furo. O motivo é o julgamento de Alastair Irvine, o filho de 25 anos do chanceler Derry Irvine, administrador do sistema judiciário britânico e um dos conselheiros mais antigos e respeitados do premiê Tony Blair.

O Daily Mail foi o primeiro a dar a história: Alastair, rejeitado pela americana Nicole Healy, teria jogado ácido no carro de seu namorado, Karel Taska, e o ameaçado com uma arma. Acusado de vandalismo, porte ilegal de arma e ameaça criminosa, o jovem foi detido e pode ser condenado a 15 anos de prisão. Atraídos pelo escândalo que envolve o filho de um alto funcionário da Justiça britânica, outros tablóides invadiram a cidade, chegando a oferecer US$ 25 mil por uma entrevista com Taska.

Mai Tran [Los Angeles Times, 7/8/02] conta que o promotor do caso, Edward Moses, foi caçado pelos jornalistas quando tentava sair do tribunal, e acabou despistando-os ao se esconder num escritório particular. Num fim de semana, a mãe de Taska ligou várias vezes para a polícia para reclamar que um grupo deles acampou na frente de sua casa e os seguiu de carro. O circo não mostra sinais de desgaste: a prisão de Alastair tem ganhado as primeiras páginas em Londres com manchetes como “Irvine, a estrela negra que não conseguiu brilhar”.

A estratégia da recompensa

As altas quantias oferecidas pelos tablóides por pistas de pessoas desaparecidas são uma tradição na imprensa britânica: recentemente, os jornais do grupo Express ofereceram um milhão de libras (quase US$ 1,54 milhão) por informações sobre o paradeiro de Holly Wells e Jessica Chapman, duas garotas de 10 anos. Já o Sun e o News of the World propuseram juntos o pagamento de 150 mil libras (aproximadamente U$230 mil).

No entanto, Ciar Byrne e Julia Day [Guardian, 9/8] revelam que nenhum dos veículos que ofereceram recompensas (que somam mais de dois milhões de libras nos últimos seis anos) parecem ter pago. A denúncia levanta a suspeita de que as gratificações são meros truques comerciais para ganhar a simpatia dos leitores e aumentar a circulação.

O Daily Mirror chegou a acusar o Daily Express e o Sun de lucrarem com o destino das garotas, “que podem ainda estar nas garras do seqüestrador”, mas ele próprio ofereceu recompensas em dinheiro que aparentemente não pagou. Os repórteres citam o caso de um policial fora de serviço que ajudou a condenar dois do cinco suspeitos do assassinato de Stephen Lawrence e que, segundo os vagos termos da oferta do Mirror, poderia receber as 50 mil libras prometidas (o que não ocorreu). O Sun afirma que já pôs a mão no bolso em quatro ocasiões, entre os anos 70 e 1995, dando um total de 50 mil libras. Já o News of the World pagou 26 mil libras a um americano em 1991 por denunciar um homicida foragido em Boston e 175 mil libras, dois anos depois, a ex-mulher de um seqüestrador.

 

PENA DE MORTE

A imprensa americana ganhou o direito de assistir a execuções do começo ao fim na Califórnia. Conta Michelle Locke [AP, 5/8/02] que uma corte de apelações derrubou a lei estatal de 1996 que exigia que as cortinas da câmara de execução só fossem erguidas depois que o prisioneiro já estivesse amarrado, com as agulhas na veia e os guardas longe da vista. Organizações como a California First Amendment Coalition e a Associated Press entraram com processo alegando que as testemunhas têm direito a acompanhar todo o processo e o público, como garante a Primeira Emenda, direito de ser informado.

O tribunal decidiu que é infundada a preocupação de que os guardas possam ser reconhecidos e sofrer retaliações; além disso, acatou o argumento de que tal prática impede a população de se informar para poder formar uma opinião sobre o assunto. “Para determinar se as execuções por injeção letal são administradas de forma justa e humana, ou se isto é mesmo possível, os cidadãos devem contar com informação confiável sobre os ?procedimentos iniciais?, que são invasivos, possivelmente dolorosos e podem levar a sérias complicações”, escreveu o juiz Raymond C. Fisher.