Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Brilhantismo sem pompas

DAVID ASTOR (1912-2001)

A família aristocrática de origem alemã não conseguiu fazer com que seu rebento caçula, David Astor, seguisse a trilha da tradição prescrita pelo sobrenome. Foi após a mudança da família para a Grã-Bretanha que Astor nasceu, em 1912. O dinheiro deu-lhe o que se consideravam as melhores escolas inglesas, Oxford e Eton. Mas o melhor visto pela tradição britânica revelou-se mera pomposidade aos olhos de Astor, que largou a universidade e aos 21 anos podia, como poucos, se dar ao luxo de escolher o futuro e a profissão.

Optou pelo jornalismo. Começou como repórter no Yorkshire Post, um jornal diário de província. Reza a lenda que seu mordomo telefonava diariamente à redação para perguntar ao editor que tarefa estaria sendo atribuída a "Master David", de forma que poderia escolher o terno apropriado. A história pode parecer supérflua, mas simboliza perfeitamente a excentricidade do jornalista no meio, característica que acabou por lhe render o cargo de editor do Observer. O jornal dominical foi comprado pela família Astor em 1911, mas só em 1948, quando a guerra terminou e David pôde deixar a Marinha, o jornalista assumiu a dianteira do veículo que se tornaria forte voz e referência de intelectuais liberais britânicos nas décadas subseqüentes.

O Observer é o mais antigo jornal dominical da Inglaterra, mas David Astor não deixou que tal condição deixasse o veículo parado no tempo. Foi autor da reforma que transformou o Observer em uma mistura hoje consagrada no país, "metade jornal, metade revista". O jornal nas mãos de David era escrita brilhante, mas sem as pompas que o jornalista rejeitou em Oxford. O distinto editor levava à redação todos os dias, como um mantra, a idéia de que o leitor pode ficar facilmente entediado ao ler jornal.

David se aposentou do cargo de editor em 1975, mas continuou apoiando causas
defendidas no jornal, como a Anistia Internacional. O Observer
mergulhou numa crise que só viu luz novamente ao ser comprado
pelo Guardian, jornalão diário britânico
que carrega muito da visão de mundo liberal de David. Só
assim ele poderia ficar realmente em paz.

[Informações da revista
The Economist, edição 13/12/01]