Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Bruno Saito

JORNALISMO ESPORTIVO

"Trajano dá cartão vermelho para os esportivos da TV", copyright Folha de S. Paulo, 20/01/02

"Neste ano de Copa do Mundo, o canal ESPN Brasil começa a mostrar suas armas para vencer a concorrência. Com o jornalista José Trajano à frente, as mudanças abrangem cenários, formatos de atrações e as vinhetas da emissora. Trajano falou ao TV Folha sobre o jornalismo esportivo feito na TV atualmente.

Como o ESPN Brasil irá cobrir a Copa do Mundo sem os direitos de transmissão dos jogos?

Essa Copa é esquisita porque o horário é ruim e os direitos estão nas mãos da Globo. Temos um orçamento inicial de US$ 500 mil e vamos mandar uma equipe de 15 pessoas, com repórteres, produtores e câmeras. O canal vai ficar o tempo inteiro no ar, mesmo sem transmitir os jogos. 90% da programação será dedicada ao mundial.

Você acredita que o telespectador terá interesse em assistir aos telejornais do ESPN Brasil mesmo sem os jogos?

Sim. Seríamos prejudicados se os jogos fossem em horários normais. Como eles serão de madrugada ou de manhã cedo, a maioria das pessoas estará dormindo. Teremos o filé, ou seja, o resto do dia para discussões, matérias, reflexões, análises. Não temos compromissos com horários e novelas como na TV aberta.

A Globo teve dificuldade para vender as cotas de patrocínio…

O horário dos jogos será muito ingrato. A Globo gastou uma fortuna na compra dos direitos, tem muitas despesas para montar uma grande equipe, as cotas são muito caras e o anunciante fica preocupado com o horário em que vai passar o jogo. A TV, às 6h da manhã, tem uma audiência pequena.

Como você vê o esporte na TV hoje?

Notamos que o mau jornalismo segue uma tendência que é comum na TV aberta, ou seja, programas mais voltados ao popular, em que imperam a baixaria e a discussão desenfreada. Alguns jornalistas são comprometidos com o merchandising. Quando ligo a TV no domingo a noite, fico triste com a quantidade de jornalistas que desejam ser mais importantes do que a notícia e transformarem-se em artistas.

O que você acha da Bandeirantes, que tinha Feiticeira e Tiazinha em seus programas esportivos?

… e Hortência, Robson Caetano, Marcelinho Carioca e Sabrina, que estava ali para ficar de barriga de fora, para mostrar um pouquinho do peito -era a mulher-objeto. Aquele programa do Milton Neves na Record (?Terceiro Tempo?), sempre coloca uma gostosona. Agora é vez da namorada do Alexandre Frota, a Daniela Freitas. A Band tentou uma jogada, que é a do esporte como sinônimo de entretenimento barato. Eles acreditaram que poderiam chamar a atenção do amante do esporte com Tiazinha, Feiticeira e ?game shows?.

Como você analisa seus concorrentes diretos, como Sportv e PSN?

O PSN é um equívoco, um canal que não tem uma programação, apenas uma sequência de eventos. Quando há programa, ele é dublado. Não tem alma. No entanto, eles têm um bom elenco de eventos. O Sportv, nosso concorrente direto, é um canal forte nos eventos, por ser filhote da Globo, mas eles precisavam de uma injeção de ânimo. É um canal que tem muita coisa a oferecer."

 

PROFISSÃO DESVALORIZADA

"Teoria pra que te quero", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/01/02

"Em pelo menos uma das pragas que atacam a prática do jornalismo (baixos salários, carga horária excessiva, desrespeito das normas trabalhistas…) nós temos culpa direta: a desvalorização da profissão. Você não concorda, né? Pois então por que nosotros, sempre que podemos, desvalorizamos o ensino teórico do jornalismo? ?Jornalismo se aprende é na prática?, afirmam coleguinhas nas redações, de preferência na frente de algum jovem recém-formado, como se o mesmo não ocorresse em outras profissões (um advogado pode aprender tudo o que se há para aprender sobre direito na faculdade, mas só vai ser bom mesmo com a prática, pois não?). E o gozado é que muitas das mesmas pessoas que enchem a boca com a frase acima ficaram revoltadas quando a juíza lá de São Paulo acabou com a necessidade do diploma de curso superior para o exercício do jornalismo. Ora, se ?jornalismo se aprende na prática?, para quê diploma superior mesmo? Qualquer um é capaz de praticá-lo, como argumenta a juíza, certo?

Apesar de todo este desprezo pela teoria, alguns ótimos jornalistas continuam batalhando nas faculdades tentando sistematizar o nosso ?saber-fazer? e, dessa forma, qualificá-lo. Uma dessas batalhadoras é a minha cara Sylvia Moretzsohn – ex-repórter de Esporte, companheira de rua e quadras durante a década de 80, e atualmente professora do curso de Jornalismo da UFF – que prepara a publicação de sua dissertação de mestrado que fala sobre como entre a velocidade da informação acabou por se transformar em um fim em si próprio, deixando de lado a precisão da apuração e a reflexão.

Em artigo publicado no excepcional sítio Sala de Prensa, Sylvia dá uma geral na sua dissertação, mostrando como o jornalismo – que surgiu e foi mantida através do século como forma de divulgar transações financeiras e o comportamento econômico de Estados, empresas e pessoas (donde conclui-se que a perereca da Luma é apenas um acidente, um desvio de função…) – sempre teve objetivos a precisão da informação e a velocidade em ela é levada até o leitor.

Estes dois objetivos trazem em si uma contradição estrutural, que, com o avanço tecnológico, acabou por fazer prevalecer a velocidade em detrimento da precisão (você sabe como é: o fechamento está chegando, a matéria tem que estar no ar em dois minutos e você ainda não conseguiu confirmação daquela informação importante. Você sabe o que acontece, né?). Segundo a análise da Sylvia, esta contradição hoje já se transformou num ?fetiche (um conceito de origem marxista) da velocidade?. Em outras palavras, hoje, na Era do Tempo Real, a velocidade em que a informação vai de um ponto a outro é, ela própria, um valor, o que, é claro, fragmenta ainda mais o real, tornando extremamente difícil a reflexão sobre e sua possível modificação política. E a importância da precisão para os veículos de comunicação tornou-se apenas ?parola flácida para bovino dormitar?…

Achou bacana? Então dá uma olhada no artigo completo. Merece.

Picadinho

E agora? – Quando apareceu uma denúncia mal-alinhavada (e nunca provada) de associação entre o jogo do bicho e o governo petista do Rio Grande do Sul, as Organizações Globo fizeram um escarcéu por terra, mar e ar. Agora, que a Operação Bandeirantes (para os mais jovens e/ou desinformados, grupo de policiais que caçava e matava esquerdistas com financiamento de capitalistas de São Paulo durante a ditadura militar) saiu de sua hibernação para apagar lideranças do PT, o Império terá o mesmo comportamento? E as outras empresas de comunicação vão ficar em cima das investigações? Dessa vez não tem a desculpa de ditadura não, viu?

De volta – E já que estamos revivendo os tempos antigos (e não estou falando do Senhor dos Anéis), mas com roupagem um tanto nova, está chegando às bancas o Pasquim21, herdeiro direto do adorado Pasquim. Comandado pelos irmãos Ziraldo e Zélio Alves Pinto e Luis Pimentel, o jornal, segundo Ziraldo, será ?a favor do contrário de tudo o que está por aí? e porá 100 mil exemplares nas bancas semanalmente.

Tradução ? A Gazeta Mercantil vai ter edição no Japão… Alguém aí sabe como é ?calote? em japonês?

Na terra – Diante das mudanças legais (obrigação de conteúdo nacional para TVs a cabo e possibilidade de participação em capital de veículos), a Sony já prepara a produção de programas aqui no Bananão. Pela lógica, seria o primeiro passo para um acordo futuro com um TV local, com ou sem participação acionária. É bom lembrar que, há uns três anos, a empresa chegou a sondar Sílvio Santos.

Big grana, brother! – Plano de mídia distribuído pela Estrela da Morte aos anunciantes estabelece que as quatro cotas de patrocínio do Big Brother Brasil custarão R$ 4,8 milhões cada.

De olho – Segundo levantamento da ?Meio&Mensagem?, cerca de 300 projetos e propostas que dizem respeito à indústria da comunicação no Brasil tramitam no Congresso. Desses, cerca de cem tentam, de uma maneira ou de outra cercear a liberdade de expressão jornalística ou comercial. O lóbi do pessoal da publicidade já está sendo montado pela Associação Brasileira de Agências Propagandas (Abap). A Fenaj deve a abrir o olho também para não se dizer surpreendida depois."

 

CHIP NA TV

"Indústria quer um ano para pôr chip nas TVs", copyright Folha de S. Paulo, 19/01/02

"Os fabricantes de aparelhos de TV querem que o governo dê um prazo de um ano para que sejam fabricados modelos com os chips de controle de programação.

Lei sancionada em dezembro pelo presidente Fernando Henrique obriga as fábricas a produzirem aparelhos com o dispositivo, que pode bloquear programas com cenas de sexo e violência.

A regra entra em vigor a partir de 29 de dezembro deste ano, mas a regulamentação, que determina prazos para a adaptação das indústrias e emissoras de TV, deve ocorrer dentro de 180 dias.

A lei deve chegar na próxima semana ao Ministério das Comunicações, que fará a regulamentação. Se o prazo pedido pela Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) for aceito, os primeiros aparelhos com chip só devem estar à venda em meados de 2003.

A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) terá reunião com as redes para traçar o plano de adaptação. Os canais, abertos e fechados, terão de enviar sinais que poderão ser captados pelo chip, avisando que o programa tem sexo ou violência. A classificação das atrações deve continuar a cargo do governo, feita pelo Ministério da Justiça."