Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Canal com o crime

MÍDIA & VIOLÊNCIA

A mídia pode ser um recurso para negociar com criminosos fugitivos. Os repórteres Fox Butterfield e Kevin Flynn, do New York Times [22/10/02], foram atrás de policiais que usaram veículos de comunicação para esse tipo de diálogo. Provavelmente, o caso mais famoso desta ordem nos EUA foi o do assassino em série David Berkowitz, conhecido como "Son of Sam". Entre 1976 e 1977, ele matou seis e feriu sete pessoas sentadas em veículos em Nova York. Como a maioria das vítimas era do sexo feminino, uma radialista perguntou ao policial responsável pela equipe encarregada do caso, capitão Joseph Borrelli, se o assassino não gostava de mulheres. Ele respondeu que, de fato, várias das vítimas era mulheres jovens. Algumas semanas depois, junto a um casal que acabara de assassinar, Berkowitz deixou um bilhete: "Prezado capitão Borrelli, eu não odeio mulheres". Borrelli conta que nunca os policiais se dirigiram diretamente ao bandido, mas que, durante entrevistas coletivas, começaram a mandar recados nas entrelinhas, pois sabiam que Berkowitz poderia ouvi-los.

Num caso mais recente, um assaltante de bancos se entregou para cumprir pena de 25 anos de prisão após longas negociações. Através da mídia, o ladrão explicou que tinha medo de ser morto por policiais racistas, pois tinha ferido um em 2000. Gil Kerlikowske, comissário de Seattle, assegurou que não seria maltratado e o assaltante resolveu sair de seu esconderijo na Jamaica.

Hugh McGowan, que chefiou a equipe de negociação com seqüestradores da polícia de Nova York por 13 anos, explica que é difícil dialogar com criminosos dos quais se tem pouca informação, como no caso de seqüestros. Quando se sabe quem é o interlocutor, como por exemplo, num caso em que bandidos cercados mantêm reféns, a técnica se torna mais útil.

No atual caso do atirador de Washington, os repórteres do Times encontraram opiniões divergentes. Robert Louden, professor do John Jay College of Criminal Justice, que foi chefe da mesma equipe que McGowan por seis anos, acha importante que a polícia se comunique por meio de uma só voz para não criar confusão. Nesse sentido, a decisão de adotar um só porta-voz para o caso teria sido acertada e um diálogo poderia ser aberto. Mas James Alan Fox, professor de justiça criminal da Northeastern University e autor de diversos livros sobre assassinos em série, não crê que a tentativa de comunicação seja positiva, pois o criminoso estaria brincando com as autoridades. "Ele está tendo momentos deliciosos e tudo isso só o faz sentir-se mais poderoso".