Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Capas justificadas

THE WASHINGTON POST

Na primeira semana de maio, a parte superior da primeira página do Washington Post foi dedicada a uma série de artigos dos repórteres investigativos Joe Stephens e David B. Ottaway, sobre as operações da Nature Conservancy, uma companhia sem fins lucrativos que ganhou diversos prêmios nos EUA e se firmou como o grupo ambiental mais rico do mundo.

Poucos dias depois, quase toda a metade superior da capa do jornal foi devotada ao jogador de basquete Michael Jordan, americano também muito premiado, que arrematou prestígio e uma das contas bancárias mais avantajadas entre os atletas de todo o mundo.

Ambos os assuntos, afirma o ombudsman Michael Getler [The Washinton Post, 11/5/03], causou uma enxurrada de e-mails à redação. A série sobre a Conservancy abordou o assunto profundamente e de forma reveladora, exibindo o interior de uma grande organização ambiental sem fins lucrativos. Muitas cartas elogiaram o Post e seus repórteres "pelo jornalismo investigativo de alta qualidade". Outros criticaram, afirmando que a série foi exagerada e enfocou práticas específicas questionáveis sem dar atenção ao bom trabalho realizado pelo grupo.

Como leitor, Getler gostou da série em um primeiro momento. "Pareceu-me que os repórteres fizeram um trabalho cuidadoso de descrever a singularidade de uma organização inovadora enquanto enfocavam, apropriadamente, elementos surpreendentes que geralmente não chegam a público."

Em relação à matéria de Michael Jordan, muitos e-mails comentavam os fatos trazidos pela matéria, mas outros também questionaram as prioridades da primeira página do Post, ao conceder tanto espaço à saga da estrela do basquete. Getler diz que sempre que o jornal dá muita atenção a reportagens esportivas, alguns leitores reclamam que essa não é uma das coisas mais importantes que aconteceram no mundo no dia anterior. "É verdade, sem dúvidas", diz Getler. "Mas esportes são importantes para um grande número de pessoas, então pô-los na primeira página de vez em quando não é nenhum pecado jornalístico."