Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Carina Martins

TV BIZARRA

“A dona do bizarro”, copyright Caderno I, Último Segundo (http://ultimosegundo.ig.com.br), 27/09/03

“Se você sempre encarou os programas de ?dramas humanos? como ficção, está na hora de repensar sua posição. Se você nunca acreditou que os bizarros casos apresentados pudessem vir de pessoas sinceramente aflitas, que um marido que escolhe a rede nacional para confessar à mulher que é gay, por exemplo, só pode ser fruto da criatividade de algum produtor, é porque provavelmente tem menos confiança na natureza humana do que Irenice Vidal Fernandes, 46, funcionária de uma rádio no interior de São Paulo.

Há cinco anos, Irenice vem fornecendo os mais inusitados personagens para programas de TV. Sem vínculo com qualquer emissora, Irenice diz que não ganha nenhum dinheiro para fazer o que faz, e que encaminha os casos por achar que eles encontrarão solução mais facilmente na televisão. ?Faço isso para ajudar essas pessoas?, diz.

Ela conta que as pessoas procuram a rádio para fazer os mais diversos pedidos de ajuda. Assistência médica para uma doença rara, cestas básicas e até lua-de-mel. A maioria dos casos é resolvida em Sumaré mesmo. Outros, ela acha que terão mais sorte na TV e encaminha para as produções dos programas.

Foi o que aconteceu em 1998, quando ela mandou seu primeiro personagem para o programa do Ratinho. Era o caso de um menino chamado Daniel, que após entrar em coma teria voltado à consciência falando só espanhol, apesar de nunca ter tido contato com essa língua. ?Eu falei com os médicos, falei com a mãe dele, e achei que daria mais certo na TV?, diz.

Irenice faz questão de garantir que jamais participou de uma armação. ?Meus casos nunca foram armados, vou sempre checar se é verdade?. Além desse cuidado, ela evita compactuar com programas nos quais não confia plenamente. Apesar de não fazer nenhuma acusação, ela afirma que já enviou pessoas ao programa de Márcia Goldschmidt, mas que agora não colabora mais. Irenice desfia elogios, acima de tudo, ao programa do Ratinho, ?apesar das bagunças?, mas gosta também de Wagner Montes e Sônia Abrão. ?Quando é verdadeiro quem está do lado de cá percebe?, define.

A amplitude dos horizontes da verdade de Irenice é bem maior do que o da maioria das pessoas. Ela já bancou casos de uma gata que pariu cachorrinhos, e de ?Risonho?, o porco híbrido de suíno e cachorro. Mesmo assim, considera que o caso mais curioso que já passou pelas suas mãos foi o de um travesti que era casado há dez anos com um caminhoneiro e queria uma lua-de-mel. ?Ela tinha direito como outra pessoa qualquer?, diz.

No entanto, até a tolerância de Irenice tem limites. Ela concorda que muitas vezes esses programas exploram as mazelas alheias em troco de uns pontinhos no Ibope. ?Sou contra. Não precisa expor a pessoa ao ridículo?, decreta. Segundo ela, a força da TV tem que ser usada para ajudar, mas até para isso existem formas corretas e erradas. ?Se eu preciso de uma operação no seio, por exemplo, não preciso tirar uma foto e ficar mostrando. Acho errado também quando fica mostrando o caso da mãe que paquera o namorado da filha, isso não leva a nada?, afirma.

Especialista em casos no mínimo peculiares, ela conhece o potencial de exploração e bizarrice da vida real e manda um recado para os embusteiros de plantão: ?Tem muita gente que arma pauta para a TV. Não precisa?.”

 

PÂNICO

“?Pânico? quer quebrar o marasmo dominical”, copyright O Estado de S. Paulo, 28/09/03

“O besteirol que atrai diariamente 17 milhões de ouvintes, na Rádio Jovem Pan, estréia hoje na Rede TV!, às 18h30, como uma saída para quem já está saturado das brincadeiras – incluindo as de mau gosto – da dupla Gugu/Faustão. E, se depender do número de apresentadores, a turma do Pânico já sairá na frente. Ao todo são oito, sem contar as participações de alguns personagens inusitados como a Morte, o Seu Brito, a Dona Inês e o Elvis, um cachorro da raça Sheep Dog.

Pânico na TV terá um formato bem parecido com o que a turma faz na Jovem Pan há 10 anos. Aliás, os melhores momentos da semana no rádio serão compilados e apresentados aos domingos. O programa será ao vivo e contará com a presença de um auditório de 150 pessoas. Entre as atrações, estão sátiras de famosos, a participação de telespectadores, entrevistas e notícias. Sim, Pânico terá informações jornalísticas, só que, em vez dessas serem apresentadas por um repórter, será feita pelo Senhor Brito, um senhor animado de 59 anos que, a partir de hoje, acumulará a função de motorista da rádio – o que já faz há cinco anos – e ?jornalista?. Outro funcionário da Jovem Pan é Dona Inês, a copeira que servirá cafezinhos aos companheiros.

E, como a turma é formada quase que exclusivamente por homens, haverá também muita mulher bonita. Uma delas já é conhecida do público: Sabrina Sato, a ex-BBB, que teve um caso com o lunático Dhomini, atacará como apresentadora.

As outras ?musas? terão funções estritamente estéticas, se é que vocês me entendem. Os garotos do Pânico bolaram o cargo de ?mulher-samambaia?, ou seja, como parte do cenário haverá mulheres vestidas de biquíni segurando uma samambaia. E só. Entendeu o espírito da coisa?

Assim como no rádio, no comando da atração estará Emílio Surita. Formado em Direito, Surita começou fazendo locução, mas logo viu que o que a galera queria não era papo sério. ?Comecei com mais dois amigos em um programa no estilo do Programa Livre, do Serginho Groisman. Sempre tinha um tema, um especialista, mas os caras ligavam e pediam boné e camiseta?, conta.

Cansado dos pedidos, o então trio começou a sacanear o público. Por incrível que pareça, os ?maus-tratos? foram a grande sacada e o programa começou a crescer. ?A molecada começou a gostar disso porque falávamos igual aos amigos deles: ?vai te catar?, ?não enche o saco?, explica Surita.

Somado a Surita estão Bola (Marcos Chiesa) – que já formou com Emílio a dupla de DJs do Caldeirão de Luciano Huck -, Carioca (Márvio Lúcio), Mendigo (Carlos Alberto da Silva), Zé Fofinho (Vinícius Vieira), Ceará (Wellington Muniz) e Japa (Marcos Aguena), que na TV fará o papel de Carlos Caramujo, um repórter surdo, e de Fyoda, um filósofo de mais de 500 anos.

De office boy a comediante – O porquê de cada um ter se juntado à turma nem eles sabem bem. Segundo Surita, durante os anos, muitos personagens desapareceram, ou, para usar as palavras deles, ?foram para o limbo?. O Mendigo talvez tenha a melhor história: já teve passagens pela Febem e foi trazido pela dona da rádio para trabalhar como office-boy.

Quando estava na hora do almoço, Carlos, que tem 23 anos, ficava de olho no Pânico – das 12 às 14 horas – até que um dia foi chamado para se unir à trupe.

Apesar de a galera já ser um pouco familiarizada com as câmeras (há um ano é transmitido pela internet), eles não sabem como serão aceitos pelo público.

?Acho que o público vai se assustar com a gente. Sinceramente, estou com medo de fazer TV, não tenho a manha e me sinto muito mais tímido?, diz Bola, que é formado em Biologia.

Para ele, a diferença é que no rádio o público pode fantasiar à vontade.

?Ninguém está te vendo e, na TV, é a sua imagem que está ali. O Carioca, por exemplo, vai ter muito problema. A negada acha que ele é meio Alexandre Frota e, na verdade, ele é vesgo, careca e barrigudo.?

Outra diferença, apontada por Surita, é que no rádio, as emissoras trabalham com target, ou seja, público-alvo definido. ?Na rádio, nosso público é formado pelo pessoal de 15 a 24 anos, das classes A e B. Na TV aberta é uma loucura porque eles tentam disputar um público muito mais amplo?, diz.

Mas, se depender deles, juram que não vão entrar na neurose da audiência.

?Queremos zoar todo mundo. Nossa única preocupação é que nosso programa é feito para moleque e temos de pensar em quem pode estar em casa assistindo?, completa.

Luciana Gimenez e João Kléber, agora colegas de emissora, não serão poupados. No piloto feito para testar o formato da atração, Surita, no melhor estilo sensacionalista de João Kléber, anunciava a nova diretora contratada da Rede TV! No meio do suspense, aparecia uma sósia de Marlene Mattos, a toda-poderosa da Globo, tentando se esconder.

Eles também prometem levar gente nova à atração – e velha, bem velha. ?Não queremos levar o Skank, o Alexandre Pires. O Faustão e o Gugu já levam.? O quadro musical vai ser preenchido pela turma que há anos não aparece na TV, mais ou menos o que faz hoje o Ratinho, às quartas no SBT.

No mais vai depender do nível de interação do convidado com a turma. ?A gente sabe falar sério também. Quando o Padre Marcelo veio à rádio até rezamos de mãos dadas?, jura Bola. Quem não tiver coragem de participar da atração é bom escutar o que eles têm a dizer: ?A gente faz macumba para os artistas que se recusam a vir. Os últimos que não quiseram foram Cássia Eller, Mamonas Assassinas e Ulysses Guimarães.?”

 

TV DIGITAL

“Grupo interministerial tem 30 dias para dar parecer sobre TV Digital”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 24/09/03

“O governo criou um grupo de trabalho interministerial para estudar propostas para a implantação do sistema brasileiro de TV Digital. O grupo tem 30 dias para apresentar relatório com as diretrizes ao presidente da República.

Participam do grupo os titulares dos ministérios das Comunicações; Cultura; Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Educação; Fazenda; Relações Exteriores; Casa Civil e Secretaria de Comunicação de Governo, de acordo com a Agência Brasil.

A ideía de desenvolver projeto com tecnologia nacional para a TV digital já vem sendo estudada pelo governo. Os modelos desenvolvidos nos Estados Unidos, Japão e União Européia também passaram por análises.

De acordo com as diretrizes já definidas pelo governo, o Sistema Brasileiro de TV Digital deve incentivar a produção nacional e o desenvolvimento de uma tecnologia própria.

O Ministério das Comunicações abriu espaço para que instituições dos setores público e privado possam opinar sobre o assunto. As sugestões e críticas devem ser enviadas para tvdigital@mc.gov.br.

O decreto que institui o grupo de trabalho interministerial foi publicado nesta quarta-feira no Diário Oficial da União.”