Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carla Meneghini

ENTREVISTA ? FERNANDA
YOUNG E ALEXANDRE MACHADO

"?Observamos as maluquices?", copyright Folha de S. Paulo, 24/02/02

"Desde sua estréia, em junho de 2001, a sitcom ?Os Normais?, da Globo, manteve média de 22 pontos no ibope, três acima do que a emissora costumava atingir nas noites de sexta. Depois do recesso de final de ano, o programa volta em abril, com novas confusões de Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães). A seguir, os autores Alexandre Machado e Fernanda Young, marido e mulher, falam sobre o programa.

Qual a sua opinião sobre o humor que vemos hoje na TV?

Alexandre – Sinto falta de humor de esquetes e de um humor de tipos um pouco mais ousado e criativo. É possível, vide programas como ?Saturday Night Live? e o extinto ?Kids In the Hall?.

Por que é tão difícil renovar o humor na TV brasileira?

Alexandre – É difícil? Tem alguém tentando sem conseguir?

Qual é o segredo de ?Os Normais??

Fernanda – Ideologia, embora as pessoas não costumem incluir ideologia entre os pressupostos de um programa de televisão, dada a natureza descartável do veículo. Mas o bom pop é sempre calcado numa boa intenção. Nossa ideologia foi, desde o começo, fazer um humor que respeitasse a inteligência das pessoas e que não fosse um humor depreciativo, do tipo ?olha como somos todos uns merdas, como o país é uma porcaria e como ser ignorante é engraçado?.

Alexandre – Optamos por um caminho que fosse, além de divertido, instigante e provocante. O telespectador termina de assistir a um episódio e pensa: ?O que será que esses caras vão inventar na semana que vem??. Isso faz desenvolver com o público um tipo de relação sadia de fidelidade, que não se baseia na dependência, mas no afeto.

Vocês esperavam tanto sucesso?

Alexandre – Não posso negar que tinha uma forte intuição de que o programa ia dar o que falar. Sabia que alguns ingredientes incluídos em sua fórmula iam mexer com as pessoas.

Fernanda – Sucesso é uma palavra perigosa, principalmente no Brasil de hoje. Coisas horríveis fazem extremo sucesso e coisas ótimas passam despercebidas pelo público.

Como vocês criam? O fato de vocês serem casados ajuda?

Alexandre – A intensidade do trabalho é tal que se mistura ao nosso dia-a-dia, vencendo qualquer tipo de tentativa de planejarmos uma rotina. Nosso humor se baseia na observação das pequenas maluquices de cada um.

Fernanda – Essa mistura complicada tem dado certo porque há muito tempo abolimos as disputas de ego.

Quais são as suas principais influências?

Fernanda – O ser humano e suas esquisitices.

Que mudanças estão previstas para a segunda temporada do programa?

Alexandre – Devemos investir nas coisas que deram mais certo no ano passado. Não sei se chamaria isso de mudança ou apenas de natural amadurecimento. Claro, pretendemos avançar um pouco mais os limites, porque, em televisão, quem fica se repetindo assina seu atestado de óbito.

Há restrições feitas aos textos, relativas, por exemplo, à abordagem da sexualidade? A Globo já fez cortes?

Fernanda – As restrições começam em nós mesmos, e são todas ligadas aos limites do bom gosto. A Globo jamais atrapalhou, muito pelo contrário: desde o começo, nos surpreendeu com sua abertura à temática do programa.

Alexandre – Meu sonho dourado é conseguir que os personagens possam falar da maneira que as pessoas falam em suas casas, em seus trabalhos. Isso ainda não é possível na televisão de nenhum lugar do mundo, pois algumas palavras ainda sofrem com o suposto peso de sua fonética. Por exemplo, no programa chamamos o órgão sexual masculino de ?pinto?, o que já foi uma conquista, mas todos nós sabemos que em suas casas as pessoas têm um maior e mais divertido espectro de opções, principalmente as que começam com a letra ?p?. Mas esse não é um problema ligado à Globo -na NBC ou na CBS, as sitcoms também têm que usar apelidinhos mais tolos para partes indiscretas do corpo.

Por que o Rui trai mais que a Vani no seriado?

Alexandre – Porque os homens traem mais que as mulheres.

Como será a intervenção de Rui e Vani no ?Big Brother Brasil??

Alexandre – É uma espécie de teste para descobrir quem é o mais normal de lá e o mais esquisito. O principal dos ?reality shows? não é o humor. Os momentos de humor ali são incertos e variados."

 

CASO SONINHA

"Três meses depois da polêmica, Soninha já até recusa convite", copyright Folha de S. Paulo, 24/02/02

"Três meses depois de ser demitida da TV Cultura, onde apresentava o programa ?RG?, a jornalista Sonia Francine, a Soninha, 34, diz que não se arrepende de ter declarado publicamente ser uma consumidora eventual de maconha em entrevista à revista ?Época?.

Mesmo após a polêmica, Soninha manteve seu posto no canal ESPN -onde trabalha desde 99, paralelamente à MTV- e foi convidada para apresentar um programa sobre esportes na Record. ?Não aceitei porque lá não teria a mesma liberdade que no ESPN; sei que é difícil manter-se íntegra nos canais comerciais, onde o ibope é quem manda?, diz.

Atualmente, Soninha apresenta o programa diário ?Sportscenter ao Meio-Dia? e o mensal ?Social Clube?, sobre projetos sociais ligados à prática de esportes. Além disso, foi contratada como comentarista esportiva na rádio CBN e escreve às quintas-feiras no caderno de esportes da Folha.

?Achei fácil a adaptação porque sou muito ouvinte de rádio, era uma linguagem que já existia dentro de mim?, diz ela. Soninha acha que o fato de não ter feito curso de locução radiofônica até ajuda. ?Não caio naquela entonação padrão dos radialistas, consigo ser natural e ficar mais próxima do público.?

Na sua opinião, ?a TV deveria tratar as drogas de uma forma mais informativa, com menos tom de campanha?. Soninha acredita que essa mudança já vem ocorrendo e aponta como exemplo a ser seguido a novela ?O Clone?, da TV Globo, em que a personagem Mel (Débora Falabella) envolve-se com drogas e passa a receber ajuda para deixar o vício. ?A trama vira um pretexto para que as pessoas conversem sobre o problema, mas as emissoras ainda têm medo disso ser visto como apologia à droga.?

Ela, no entanto, não parece guardar mágoa da TV Cultura, onde diz que teve toda a liberdade para criar um programa que tivesse o seu perfil, o ?RG?. ?Queria um espaço onde pudesse debater comportamento, esporte, arte e política sem tabus?, diz. Coincidência ou não, foi um tabu que motivou sua demissão da emissora: as drogas. ?Eles disseram que minha imagem ficou incompatível com a da TV Cultura.?

Soninha e os outros entrevistados da reportagem sobre a maconha foram recentemente indiciados pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes de Mato Grosso, por apologia às drogas, e devem se apresentar à Polícia Federal em São Paulo. O processo aberto pelo Ministério Público paulista contra eles pelo mesmo motivo, entretanto, foi arquivado. Soninha está consultando advogados para decidir o que fazer. Apesar dos aborrecimentos, ela afirma também não guardar mágoa da revista. ?Foi válido, o debate tem de existir.?"