Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos André Macêdo Cavalcanti

ELEIÇÕES 2002

“TV e inquisição”, copyright O Norte (de João Pessoa), 31/8/02

“?Uma vitória de Ciro obrigará os jornalistas a renovarem sua agenda de fontes de informação. É um trabalho aborrecido para eles.? Ricardo Noblat , Correio Braziliense, 18/8/02

?As entrevistas dos presidenciáveis no Bom Dia Brasil nos fizeram matutar. A campanha presidencial de 2002 está marcada pela força de algumas empresas de comunicação e jornalismo, principalmente televisivo. Isto vem ocorrendo com nossas sucessões, presidenciais ou não, desde 1989. O noticiosos de maior audiência no país ainda são os da TV Globo.

Em 1989, aliás, foi a Globo que promoveu Fernando Collor até torná-lo conhecido, mesmo antes das eleições, como o ?caçador de marajás?. Foram muitos programas e reportagens até a famosa edição do Jornal Nacional com trechos do último debate Lula x Collor, onde o ex-governador alagoano parecia estadista brilhante diante de um Lula abatido e confuso. Se a edição das principais frases houvesse seguido princípios de eqüidade, ver-se-ia que o petista não tinha se saído tão mal assim.

Agora, 13 anos depois, já que ?o uso do cachimbo entorta os lábios?, Ciro Gomes seria apontado como ?monstro a ser combatido?. Note-se que isso só ocorreu depois que Ciro disparou nas intenções de voto nas pesquisas pré-eleitorais. Outros órgãos da imprensa – incluindo editorias e jornalistas – seguem esta postura, mas o caso da Globo merece maior atenção. As Organizações Globo estão passando por dificuldades. Faturam US$ 2,5 bilhões brutos por anos, mas devem US$ 1,5 bilhão líquido, além de outras dívidas no valor de US$ 500 milhões em empresas nas quais os Marinho – família de proprietários – têm participação acionária (fonte: Gazeta Mercantil, 20/6/2002). O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que é do governo, teria sido chamado para socorrer o que seria o filhote mais frágil da mamãe Globo: a Net, da qual os Marinho tentam se livrar com uma providencial abertura de capital que reduziria a participação deles de 56% para 36%. Uma holding foi criada para abrir o capital global após a aprovação no Congresso de uma certa Emenda Constitucional que mudou o artigo 222 da Carta Magna (sic). O jornal Valor Econômico também deverá ter suas cotas vendidas. O Unibanco foi chamado para gerenciar a venda de emissoras de rádio e de retransmissoras de TV que ainda pertencem à Globo. Só nos dias 18 e 20 de junho as ações da Net caíram, primeiro, 20% e, mais adiante, 12,6%. O BNDES estaria para subscrever outros milhões de dólares em ações. Interesse social?

Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência da República, foi também entrevistado pelo Jornal da Globo. Em dado momento, após uma saraivada de perguntas afirmativas, onde estavam contidas ?informações? negativas sobre sua candidatura, o próprio ex-ministro vaticinou para todo o país ver e ouvir: ?Isto aqui está parecendo a Inquisição?. Peço licença ao leitor para informar-lhe que tenho motivos acadêmicos para concordar com a comparação, pois, como historiador, sou mestre e doutor em História com dois livros sobre a Inquisição. Um foi a minha dissertação de mestrado (?A Reconstrução da Intolerância?, sobre a reforma inquisitorial de 1774), e o outro foi a minha tese de doutorado (?O Imaginário da Inquisição?). Assim, posso afirmar que a técnica de apresentação de nomes de políticos conhecidos para que Ciro dissesse algumas palavras a respeito de cada um para, só então, confrontá-lo com frases ditas por ele próprio em anos anteriores, é idêntica a uma norma inserida nos Regimentos e interrogatórios inquisitoriais entre os séculos XVI e XVIII. Os inquisidores buscavam, assim, outros nomes para engordar seus processos e alimentar fogueiras com carne humana. A base de tal atitude era o Segredo do Processo, segundo o qual só a Mesa teria acesso aos autos, ficando estes escondidos do réu. O direito moderno suprimiu este princípio espúrio por ser ofensivo ao interrogado. Na Globo, só a entrevistadora tinha os nomes e as antigas declarações de Ciro em mãos quando a pergunta foi feita. É lamentável.

A bela dramaturgia da Globo tem sido motivo de orgulho para os brasileiros. Os jornalistas que fizeram a entrevista com Ciro são profissionais respeitados em seu meio. Contudo, nada disso deve impedir-nos de perceber mais um episódio da profunda crise ética em que se meteu a imprensa do Brasil há anos.

Votar em Ciro Gomes é uma decisão de cada um, mas decidir o voto sob o pavor e o medo de insinuações ou meias mentiras veiculadas em algum lugar não é salutar para a democracia. Ciro é um brasileiro honrado que merece o nosso respeito por ter se tornado um exemplo de homem público honesto, competente e decidido. (Historiador da UFPB)?”

“Lula e Serra sobem em ranking do melhor na TV”, copyright Folha de S. Paulo, 6/09/02

“Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) subiram 11 e 7 pontos percentuais, respectivamente, em ranking que mede a opinião de eleitores sobre qual presidenciável está se saindo melhor no horário eleitoral gratuito.

O ranking faz parte do rastreamento do Datafolha com eleitores que têm telefone fixo em casa.

Sem citar nomes -ou seja, esperando resposta espontânea-, o instituto indaga: ?Pelo que você sabe ou imagina, qual dos candidatos a presidente está fazendo a melhor propaganda no horário eleitoral gratuito na TV??.

Assim, capta também a opinião daqueles que ?ouviram falar?, sem necessariamente ter assistido a alguma propaganda.

Lula, que era considerado o melhor por 21% dos entrevistados no início dos programas, agora recebe a mesma avaliação de 32% deles. Serra subiu de 14% para 21%; Ciro Gomes (PPS) caiu de 17% para 10%; e Anthony Garotinho (PSB) oscilou de 3% para 5% (veja quadro ao lado). A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Com 32%, Lula tem, nas mesmas datas de pesquisa, sete pontos a menos do que a taxa de 39% dos que dizem que pretendem votar nele. O mesmo ocorre com Ciro (10% de ?melhor propaganda? contra 20% de intenções de voto) e Garotinho (5% contra 9%).

Ou seja, o número de entrevistados que avalia a propaganda de Lula como a melhor é inferior ao total dos que pretendem votar nele -e o mesmo ocorre com Ciro e Garotinho. No caso de Serra, o tucano obtém percentual igual, 21%, nas taxas de ?melhor propaganda? e de intenção de voto.”

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“Em duas semanas de TV, imagem de Ciro se desgasta”, copyright Folha de S. Paulo, 4/09/02

“A imagem positiva que o candidato a presidente Ciro Gomes (PPS) passa em sua propaganda na TV vem se desgastando desde o início do horário eleitoral gratuito, duas semanas atrás.

De acordo com rastreamento feito por telefone pelo Datafolha, o IIP (Índice de Imagem Positiva) do candidato caiu de 34,4% para 26,7% até o programa exibido no sábado.

As principais causas foram quedas na taxa dos entrevistados que acreditam que ele é confiável (de 30% para 20%) e na dos que acreditam que ele tem equilíbrio emocional (de 31% para 21%).

Para calcular o IIP, o Datafolha indaga que grau de importância os entrevistados dão a atributos de um candidato -se é importante ele ter coragem, por exemplo. Depois, questiona se os candidatos têm essas qualidades.

A queda indica que Ciro está fugindo da imagem de presidenciável ?ideal? para os entrevistados. Mesmo a principal característica que os eleitores vêem nele -ser moderno e inovador- foi abalada. Caiu de 42% para 34% a taxa dos que vêem nele essa qualidade.

Lula continua a apresentar uma tendência de melhora em sua imagem, sendo a coragem (47%) a principal qualidade vista nele. Serra tem tendência leve de melhora e Garotinho, de estabilidade. A principal qualidade de Serra é ser equilibrado (37%), e a de Garotinho, ser simpático (22%).

O rastreamento é uma série de pesquisas feitas com eleitores que têm telefone fixo em casa -são cerca de 54% do eleitorado brasileiro. Representa, portanto, a opinião de uma parcela da população com mais renda e escolaridade e mais concentrada no Sudeste.”

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“Horário eleitoral perde 50% de audiência, diz pesquisa”, copyright Folha de S. Paulo, 10/09/02

“Em três semanas de exibição, a audiência do horário eleitoral gratuito na TV caiu pela metade -de 40% para 20%-, de acordo com rastreamento feito por telefone pelo Datafolha.

A medição de audiência é feita nos dias seguintes às exibições das propagandas dos candidatos à Presidência.

No dia 21 de agosto, 40% dos entrevistados disseram ter visto -de dia ou à noite- pelo menos um dos programas da estréia do horário eleitoral, exibidos no dia anterior, uma terça-feira.

Essa taxa caiu na segunda semana do horário eleitoral para um patamar de 25% e atingiu seu menor nível, 20%, na pesquisa feita sobre o programa de 7 de setembro, um sábado.

Mesmo considerando que nos finais de semana a taxa costuma cair, esse resultado é significativo pois é o mais baixo dos três programas de sábado até aqui -24% no dia 24 de agosto; 27% no dia 31.

A margem de erro dessa pesquisa é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos.

Se o ocorrido em eleições passadas se repetir, a tendência é de que a audiência do horário eleitoral suba no final de setembro, com a aproximação do 1? turno.

No rastreamento, o Datafolha também questiona os entrevistados sobre a avaliação que fazem dos programas exibidos.

Os últimos dados confirmam tendência já apontada na semana passada de queda na aprovação aos programas de Ciro Gomes (PPS) -de um pico de 66% no programa de 29 de agosto para 39% em 7 de setembro.

Essa queda coincide com o aumentos dos ataques de Ciro a José Serra (PSDB) na TV.”