Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carlos Franco

FUSÕES À VISTA

"Cenário de fusões nos meios de comunicação", copyright O Estado de S. Paulo, 15/05/02

"Os meios de comunicação devem passar por intenso processo de fusão, reestruturação e investimento nos próximos anos, a partir da aprovação pelo Senado, em segundo turno, de emenda constitucional que permite a entrada do capital estrangeiro até o limite de 30% e permite que essas empresas venham a ser controladas por pessoas jurídicas. Hoje, apenas pessoas físicas, brasileiros natos e residentes no País podem ser controladores de um meio de comunicação, seja jornal, revista, emissora de rádio ou televisão.

A avaliação é do presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e diretor-superintendente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, que participou ontem de painel do 3.? Fórum Anunciante & Mídia, promovido pela Associação Brasileira de Anunciantes (ABA), no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, que debateu o novo cenário da comunicação social no Brasil a partir das mudanças na lei.

Para Francisco Mesquita Neto, a permissão para que empresas de comunicação sejam controladas por pessoas jurídicas vai provocar uma reestruturação na gestão por meio da profissionalização da administração, com os atuais controladores, a maioria famílias, passando a compor holdings. Na opinião do presidente da Rede Bandeirantes, João Carlos Saad, a aprovação do projeto encerra um ciclo e dá início a outro, onde haverá empresas mais fortes, produzindo conteúdo de maior qualidade, sem perder o foco da brasilidade.

O diretor das Organizações Globo Evandro Magalhães, que também participou do debate, espera que os senadores aprovem, ainda este mês, a emenda que abre o setor. Para o executivo, o projeto visa resguardar valores nacionais, na medida em que fortalece as empresas locais. Para isso, afirmou, essas empresas precisam de fontes de financiamento para adquirir um bem caro a países em desenvolvimento como tecnologia. Ele também se queixou, como o endosso de Saad, das taxas de juros atuais, que dificultam investimentos.

Com a abertura do setor, acredita Magalhães, haverá novas possibilidades de captação, como as bolsas e investidores locais e estrangeiros.

A reestruturação das empresas, disse Saad, abre espaço para sinergias e acordos operacionais entre grupos rivais. Ele deu um exemplo: ?É um desperdício de dinheiro aquele emaranhado de antenas de emissoras de rádio e televisão na Avenida Paulista, e com acordos poderia ser erguida apenas uma?. Para Saad, parcerias entre as empresas devem ser a regra a partir do novo cenário, onde se prevê também maior competição entre elas, mais no conteúdo do que na infra-estrutura. Na opinião de Saad, empresas regionais terão espaço garantido no novo cenário, mas médias e grandes, presentes nos principais mercados, devem se preparar para melhores produtos. O que exigirá fusões, parceriais e sinergias. Tudo para atrair público e anunciantes.

O presidente da Abril, Maurizio Mauro, ressaltou a introdução de novas tecnologias. Ele ressalvou, porém, que o Brasil não deveria tomar a dianteira no que se refere à opção de tecnologia para TV digital porque os sistemas ainda são novos em todos os países e o critério de escolha não deve ser apenas técnico, mas comercial, levando em conta o que os fabricantes oferecem para capitalizar as empresas nacionais.

Para o diretor da agência de publicidade DPZ, Daniel Barbará, o Brasil – com 355 emissoras de televisão, 88 canais de televisão, 2.986 concessões de rádio AM e FM, 2045 jornais, dos quais 500 diários, e 1.485 revistas – é um mercado atraente para o capital externo."

 

ISTOÉ PROCESSADA

"Deputado pede R$ 6 milhões à Istoé", copyright Comunique-se, 15/5/02

"O deputado estadual Mário Frota anunciou que vai processar a editora Três, dona da revista IstoÉ, e seu proprietário, Domingo Alzugaray, por danos morais. Frota vai pedir uma indenização de R$ 6 milhões por dois motivos: seu nome foi ligado ao esquema de propina para o ex-senador Jader Barbalho em matérias publicadas na revista ano passado e Alzugaray declarou ao jornal Folha de São Paulo que ele não passava de ?um deputado corrupto?.

Em agosto do ano passado, IstoÉ recebeu uma fita K-7 onde uma voz identificada como sendo de Frota cobrava propina ao empresário David Benayon em nome de Jader. Os repórteres que cobriam o caso enviaram as fitas ao foneticista Ricardo Molina Figueiredo, que concluiu que a gravação não sofrera nenhum tipo de edição. A revista, então, divulgou o conteúdo da fita. Como o deputado negou sua participação em esquemas a favor de Jader, a revista prosseguiu com as investigações. A essa altura, a repercussão da notícia já era assunto em todo o país. IstoÉ conseguiu ouvir o assessor parlamentar Nivaldo Marinho, que confessou que a fita era uma fraude.

Na edição de 22/8, IstoÉ mostrou que tudo não passava de uma farsa contra o deputado, perpetrada pelo secretário de Obras do Amazonas, João Coelho Braga Filho, e por Nivaldo Marinho. A voz identificada como sendo de Frota era uma primorosa imitação. João Coelho e Marinho foram indiciados pela polícia federal em dezembro, fato que mereceu da revista matéria intitulada como ?Justa Punição?.

Procurada por Comunique-se, IstoÉ disse ainda não ter recebido nenhum tipo de aviso formal da ação. Mário Simas, repórter especial que passou a cobrir a pauta após a denúncia contra Frota ter sido publicada, afirmou que a atitude do deputado causou estranheza. ?Ele disse que não iria nos processar e ainda depôs a nosso favor no processo que Jader está movendo contra a revista?.

Em entrevista a Comunique-se, Frota explicou que iniciou a ação por conta de pressões da sociedade e de seus advogados. ?Não há nenhuma vontade de vingança. Há uma exigência da população amazonense. O Sr. Alzugaray foi profundamente inconseqüente em suas declarações à Folha de S. Paulo. E não houve desculpas formais por parte dele após tudo ter sido esclarecido?.

Alzugaray foi ouvido pela Folha na edição de 7/8, após o deputado Mário Frota ter feito uma denúncia contra a Editora Três: no projeto de implementação da Editora Três da Amazônia, que fabricaria CD e DVD, Frota apontou um desvio de verbas. Na entrevista, Alzugaray disse que o projeto ?captou recurso de duas grandes empresas: Ford e Texaco. O dinheiro foi aplicado na construção da fábrica, mas o projeto está parado porque o objetivo ficou obsoleto.?

Os esclarecimentos por parte da própria revista não teriam sido suficientes para que Frota considerasse sua honra restabelecida. Ele acredita que a publicação foi obrigada a mostrar a verdade, já que outros veículos estavam esclarecendo os fatos. No entanto, na matéria ?Justa Punição?, o deputado fez elogios à condução que IstoÉ deu aos fatos: ?O trabalho da revista foi maravilhoso. IstoÉ desmascarou uma fraude, deu nome aos bois e é a principal responsável pelas punições?."

 

O DIA

"Quando todos ganham", copyright Comunique-se, 15/5/02

"O jornal O Dia criou, este mês, uma editoria diária – Universitários – destinada a repercutir as matérias do jornal entre os estudantes do terceiro grau. Tudo começou a partir de uma análise publicada sobre os presidenciáveis, na qual os programas de governo dos principais candidatos eram avaliados por consultores de várias áreas, ex-ministros e outras personalidades.

A matéria teve boa acolhida na PUC-Rio, onde alguns professores a utilizaram como ponto de partida para aprofundar o tema, realizando discussões paralelas com grupos de alunos. O jornal gostou da idéia e decidiu levá-la às universidades que tivessem interesse em participar. O editor de opinião Márcio Maturana, com o apoio do repórter Renato Santos, publica, em meia página no primeiro caderno e sob o título ?Palavra do universitário?, sugestões acadêmicas para resolver questões da cidade do Rio noticiadas recentemente.

Também este mês, O Globo comemorou os 20 anos do programa Quem lê jornal sabe mais, que distribui a escolas do Rio assinaturas gratuitas e treina os professores para usar as matérias nas aulas de português, história e ciência. Um encontro, no último dia 6, reuniu cerca de 100 professores do primeiro grau para trocar experiências, e são promovidas regularmente oficinas, reuniões e exposições com trabalhos dos alunos, sob a coordenação de Cláudia Lobo. Carmen Lozza, encarregada da parte pedagógica, vê, entre as vantagens do uso do jornal na escola, o aprendizado informal da língua, o incentivo à leitura e o fato de que ele se presta a um trabalho interdisciplinar, oferecendo um conhecimento menos fragmentado.

Em âmbito nacional, a Abril mantém o Veja na Sala de Aula desde 1998. São pacotes de assinaturas de Veja a preço promocional para as escolas, nos quais a revista vem acompanhada de um Guia do Professor contendo planos didáticos para melhor explorar as matérias publicadas, transformando as reportagens em aulas. O guia traz exercícios, experiências, propostas de debates, textos de apoio e bibliografia sobre cada assunto, amplos a ponto de abranger a física e a matemática.

Por certo, esses projetos se propõem a complementar o uso do livro, não substituí-lo, e apontam os benefícios da convivência mais estreita com os grandes temas do momento, a melhor compreensão das relações entre os indivíduos e na sociedade, entre outros. Curiosamente, nenhum deles menciona, como vantagem adicional da mídia impressa sobre o livro, a agilidade da notícia, que proporciona a velocidade da informação tão característica da cultura contemporânea e indispensável à modernização da escola como um todo.

É de se notar ainda que tais iniciativas partam de quem dá o seu recado no bom e velho papel, aquele que precisa cativar a jovem clientela antes da debandada para os meios eletrônicos, inquestionáveis campeões de audiência. Há projetos semelhantes no rádio, na tevê ou internet, os meios que não têm dúvidas quanto à sobrevivência no mais longo prazo? Os alunos se habituam à leitura diária do jornal (ou semanal da revista), e o contato com eles, seja direto ou intermediado pelos mestres, orienta os patrocinadores sobre suas preferências e restrições, esboçando um perfil das demandas do mercado no futuro bem próximo.

Cada um a seu modo, os veículos de comunicação impressa procuram conquistar os leitores cada vez mais cedo. Para esse segmento, composto pelos muito jovens, a mídia brasileira pratica um marketing construtivo, de qualidade, em que todos ganham."

 

JORNALISTAS AMEAÇADOS

"Repórter sofre ameaças de quadrilha", copyright Comunique-se, 15/5/02

"A repórter policial Valéria Biembengut, do jornal Tribuna do Paraná e da rádio Banda B AM (Curitiba), sofreu intimidações e ameaças de uma quadrilha que está agindo na região metropolitana da cidade. Há meses, Valéria vem acompanhando um caso de enorme repercussão na capital paranaense: uma quadrilha, formada por policiais civis, militares e bandidos, que vem atuando há três anos, controlando o tráfico de drogas e matando mulheres em sequência nos municípios de Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul e Itaperuçu. Os assassinatos de pelo menos dezoito mulheres e quatro homens, nos últimos três anos, são atribuídos à organização criminosa, que agia impunemente desde 1999, até que a delegada Vanessa Alice, designada em dezembro passado para cuidar do caso, começou a rastrear pistas e ?derrubar? a quadrilha.

Valéria e a equipe da Tribuna acompanhavam as investigações da delegada em contatos quase que diários com ela. O jornal e a Banda B cobriram todos os assassinatos, desde 99. As evidências – que, agora se sabe, foram forjadas pela quadrilha – apontavam para a existência de um serial killer na região, que chegou a ser batizado pela Tribuna de ?Maníaco da Tranqueira? (local onde supostamente ele agia violentando e matando mulheres).

Há um mês, Valéria recebeu um telefonema de uma mulher, que se dizia ex-amante de um dos policiais líderes da quadrilha. Ela marcou uma entrevista, que foi levada ao ar com exclusividade na Banda B e publicada também em primeira mão pela Tribuna. Depois da entrevista, com revelações explosivas como os nomes dos policiais envolvidos, o esquema de tráfico e distribuição de drogas pelas mulheres – que posteriormente eram mortas como queima de arquivo – e o ?modus operandi? da quadrilha, a mulher concordou em ser levada para depor, como testemunha, à delegada Vanessa.

A partir desse depoimento, integrantes da quadrilha começaram a cair. A Justiça concedeu mandados de prisão e a delegada conseguiu colocar atrás das grades, até agora, quinze pessoas, entre eles oito policiais civis e dois militares. Ela tem os nomes de pelo menos cinquenta suspeitos de integrar o bando.

As ameaças à repórter tiveram início quando a quadrilha forjou mais um assassinato, com a intenção de atrair Valéria ao local do suposto crime. Uma pessoa informou anonimamente ao IML o encontro do cadáver de uma mulher em Tamandaré. Avisada, Valéria se dirigiu ao local, imaginando, assim como outros repórteres, ser mais uma vítima da quadrilha.

Na estrada que leva ao município, ela foi acintosamente seguida por um veículo dirigido por um homem. O carro ?fechava? o veículo de Valéria constantemente e o homem a encarava. A repórter dirigia o carro da reportagem da Banda B e estava sozinha. Chegando ao local, não havia cadáver algum e o homem desapareceu.

Em contato com a polícia, Valéria descreveu a fisionomia do indivíduo e a placa do veículo. O carro tinha placa fria e a descrição correspondeu à de um dos integrantes da quadrilha, identificado e procurado pela delegada Vanessa.

Duas semanas depois, Valéria recebeu um aviso de um homem que se disse advogado dos bandidos. Ele afirmou que o bando ?sabe tudo? sobre ela: onde mora, os trajetos que percorre, e que estaria sendo filmada e fotografada. Disse, então, que Valéria se afastasse do caso e parasse de fazer reportagens. Ela rebateu dizendo que matá-la seria um péssimo negócio para a quadrilha: o caso ganharia ainda mais repercussão com o assassinato de uma jornalista e de nada adiantaria, pois outros repórteres do jornal e da rádio continuariam a acompanhar o caso.

Desde então, mais um assassinato atribuído à quadrilha aconteceu. Um dos líderes, ex-policial, foi morto no último final de semana. A delegada acredita que, mais uma vez, foi queima de arquivo, para que, caso preso, o homem não revelasse mais detalhes sobre o bando. Toda a imprensa de Curitiba está mobilizada, acompanhando o caso."