Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Carlos Heitor Cony

OBSERVATÓRIO DA PROPAGANDA

"Informes publicitários", copyright Folha de S. Paulo, 29/7/01

"Para autocomemorar o Plano Real, que fez sete anos, o governo perdeu a compostura e despejou farta publicidade na mídia, tentando provar por ?a? mais ?b? que tudo é sucesso na gestão neoliberal de FHC.

Como nos tempos do regime militar, que também se autocomemorava em desfiles, missas e eventos cívicos, o povo nem estava aí para esse tipo de festança.

Se o próprio governo não lembrasse, ninguém pensaria no Plano Real, com exceção, talvez, de Itamar Franco, que comprovou na própria carne o ditado secular que diz que o bom-bocado não é para quem o faz, mas para quem o come.

Evidente que o real, após as frustradas tentativas vindas dos governos anteriores, mas com a mesma origem técnica, travou a inflação a um preço que ainda estamos pagando e continuaremos a pagar.

A piada cambial que colocou a moeda brasileira em paridade com o dólar terminou após a reeleição de FHC. Faliu empresas, sucateou grande parte da indústria nacional e só serviu para breve refresco da classe média deliciar-se com o anacrônico Mickey Mouse, em Orlando.

Não se pode culpar a mídia (imprensa, rádio e TV) por aceitar esse tipo de informe publicitário, desde que identifique a matéria paga como tal. Contudo há o perigo de o governo, aos poucos, se transformar no principal anunciante, sobretudo em época eleitoral, quando o próprio presidente da República garante que vai fazer o seu sucessor -se possível, fazer-se a si mesmo mais uma vez.

Lembro duas revistas semanais, que foram top no mercado editorial em suas respectivas épocas e que passaram a viver praticamente de informes publicitários dos governos.

De tanto publicá-los, criaram a imagem de serem órgãos oficiais. A resposta dos leitores foi a mesma. Acabaram."

    
    
                

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