Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Carter Anderson e Eliane Oliveira

ELEIÇÕES 2002

"TSE tira do ar depoimento de Renata Covas", copyright O Globo, 22/09/02

"O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu o programa do candidato do PSDB, José Serra, de veicular ontem à noite um depoimento de Renata Covas, filha do ex-governador Mário Covas, que fora ao ar no programa da tarde. Renata associava um discurso do presidente do PT, José Dirceu, feito há dois anos, no qual ele afirmou que os tucanos devem apanhar nas urnas e nas ruas, com as agressões sofridas pelo pai na mesma época.

A exibição do depoimento de Renata foi a forma que o programa de Serra encontrou para contornar a proibição da Justiça Eleitoral, de levar ao ar o discurso de Dirceu. Mas o presidente do TSE, Nelson Jobim, que concedeu a liminar pedida pelo PT, considerou que o programa do PSDB tratou do mesmo tema, embora usando recursos diferentes.

Renata disse que Deus evitou o pior

No depoimento, Renata disse que em 2000, dias antes de ser agredido por grevistas diante da Secretaria estadual de Educação, Covas já havia levado uma bandeirada, durante uma inauguração em São Bernardo do Campo. No período entre as duas agressões, disse Renata, Dirceu fez o discurso que, segundo ela, incentivou as manifestações de violência contra seu pai.

?Não preciso nem dizer para vocês: foi uma época em que ele (Covas) já estava doente. Ele já tinha sofrido uma cirurgia e aquilo não tomou proporções mais graves porque Deus não quis? disse Renata, para concluir: ?Tive um pai que foi cassado para que as pessoas tivessem o direito de manifestar suas idéias. Mas aquilo me deixou triste, na medida em que, depois de tudo que ele passou para garantir esse direito, as pessoas usassem esse direito para uma manifestação violenta?.

O TSE também proibiu o programa de Serra de voltar a exibir trechos
de reportagens de jornais e revistas, veiculados à tarde,
com críticas às declarações do candidato
do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha. Segundo
essas reportagens, Lula estaria escondendo as reais intenções
do PT, se chegar ao poder."

 

"Valéria Monteiro, a musa que encanta até o PT", copyright O Globo, 22/09/02

"Ela foi a primeira mulher a apresentar o ?Jornal Nacional?, da Rede Globo, musa platonicamente disputada pelos falecidos Ulysses Guimarães, o político, e Roberto Drummond, o escritor. Valéria Monteiro, depois que reapareceu no vídeo, ancorando o programa eleitoral do candidato da aliança PSDB-PMDB, José Serra, reacendeu a memória de sua legião de fãs que deixara no Brasil, ao mudar para os Estados Unidos, em 93.

– É a única pessoa no mundo que, quando aparece falando mal do Lula e do PT, a gente não consegue desligar a televisão. O máximo que um petista faz é abaixar o volume e concentrar-se apenas na imagem dela – confessa o deputado Paulo Delgado (PT-MG).

Pouco antes de morrer, durante o processo de investigação da CPI do PC, Ulysses Guimarães foi surpreendido, num domingo à tarde, com a sua musa, ao vivo, no ?Domingão do Faustão?, declarando sua admiração por ele. Foi a única vez que se viu o sisudo e frio Ulysses Guimarães encher os olhos de emoção.

Ao ser informado, de brincadeira, que tinha um forte concorrente, Roberto Drummond, na disputa pela presidência do fã-clube da musa, Ulysses passou a se interessar pela obra do escritor, para tentar descobrir os méritos do ?adversário?. Saiu de Angra dos Reis, na sua última viagem, levando na bagagem ?Hilda Furacão?, cujo autor morreu recentemente.

Com a reeleição mais do que garantida, com quase 70 pontos nas pesquisas, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, mesmo bem servido e invejado por causa da sua bela namorada, a miss Pernambuco, Débora Daggy, confessa sem a menor cerimônia que o seu programa preferido é o horário eleitoral, que os pernambucanos chamam de guia.

– A Valéria Monteiro passa muito bem a mensagem do nosso Serra.

Que mensagem, que nada!

A timidez típica de Jarbas foi repetida certa vez por uma das mais famosas e polêmicas e desinibidas estrela da música brasileira, que, ao cruzar com ela na saída de um restaurante, encontrou uma forma discreta de declarar sua admiração:

– Valéria, eu queria ser entrevistado pelo perfil do consumidor só para dizer que você é linda.

Será que, participando do programa eleitoral de um candidato, Valéria não poderá ficar marcada com o símbolo tucano? A musa responde:

– Não. Eu acho que se essa imagem permanecer, só pode ser positiva, porque eu acredito no que estou fazendo. Estou, acima de tudo, participando de um momento importante do país e espero poder estar prestando um serviço de cidadania. Além disso, é um exercício de democracia interessante, você se relacionar com adversários e amigos que conhecem a sua posição política.

E seus dois maiores admiradores, o político e poeta, que pensariam se estivessem vivos? Ulysses Guimarães, do fundo do mar que habita hoje, e Roberto Drummond, sentindo agora mais de perto ?O cheiro de Deus?, aprovariam a musa fazer campanha para um tucano? É o caso de repetir Castro Alves e pedir: ?Dize-o tu/Severa musa/Musa libérrima/Audaz?.

– Tenho muita saudades dos dois. Eles me tratavam com muito carinho. O doutor Ulysses deixou para mim um exemplo de conduta ética e política, o que muitas vezes pode soar como antagonismo hoje em dia. Acredito que eles aprovariam se soubessem que estou participando da campanha de José Serra.

Neta de uma das primeiras deputadas mulheres, Valéria tem gosto pela política e, por isso, gostaria de atuar no ramo da estratégia política.

Valéria Monteiro revela algumas das mulheres que admira nos diversos setores de atividades profissionais, suas preferências e antipatias, neste pequeno perfil da musa:

Melhor jornalista e apresentadora de televisão: Fátima Bernardes.

Colunista de jornal: Sônia Racy.

Política: Rita Camata.

No teatro: Irene Ravache e Marília Pêra.

Música: Marisa Monte e Patrícia Coelho.

Esporte: Daniele Hypólito.

Cinema: Laís Bodanzky.

Novela: Malu Mader.

Ídolos masculinos: ?Bono do U2, por usar o sucesso para servir às causas dos pa&iiacute;ses do Terceiro Mundo. Steven Spielberg e o Homem Aranha por suas sensibilidades?.

Em quem não votaria de jeito nenhum: ?Garotinho. É um desrespeito total à dissociação entre Estado e religião. O Brasil precisa de um estadista, e não de uma versão de Ronald Reagan diminuída para Rex Humbert?."

"Quem fiscaliza os fiscais?", copyright Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org), 18/09/02

"Quando jovem ele era um marxista incendiário. Todas as suas atividades visavam à revolução. Com seus companheiros de geração, moços e moças ardentes como ele, acatava e seguia cegamente a liderança dos grandes centros do comunismo: URSS, China e Cuba. Era jovem, mas nem tanto assim. Já tinha idade para se eleger deputado federal. Mas deixemos que o próprio Márcio Moreira Alves descreva sua atuação política na época:

?Todas as minhas atividades parlamentares haviam sido uma longa e concatenada provocação. Éramos um punhado de parlamentares… Cobríamos com nossas imunidades toda sorte de movimentos de protesto, especialmente as manifestações estudantis e as greves operárias. Chegávamos a exercer contra os deputados da situação o que chamávamos de terrorismo cultural… Nossa estratégia era… a destruição completa de instituições liberais sobreviventes. Encarávamos o processo político como uma luta de classes… Pensávamos que era altamente improvável que o proletariado pudesse optar por uma resistência clandestina e armada enquanto ainda existissem possibilidades de ações abertas e legais. Daí a necessidade de destruir as estruturas legais.? (Um grão de Mostarda – O Despertar da Revolução Brasileira, edição ?Seara Nova?, Lisboa, 1973, páginas 30/32).

O tempo passou e ?Marcito? mudou. O ardoroso efebo de outrora é hoje o jornalista de nomeada encarregado de comentar o cenário político pelo prestigioso jornal diário de Roberto Marinho. E os principais atores desse palco são seus antigos camaradas, agora encarapitados no poder como cardeais dos grandes partidos políticos de esquerda do país. Mas será que Marcito mudou tanto assim? Não creio. No fundo do peito do aparentemente respeitável social-democrata pulsa ainda forte um coração bolchevique. Basta um liberal ou conservador produzir uma crítica verídica, ou pelo menos verossímil, aos seus amigos para Marcito ressuscitar o discurso mequetrefe do ?terrorismo cultural? que praticava nas heróicas jornadas revolucionárias dos anos 60. O recente artigo do americano Constantine Menges publicado no Washington Times, fez eclodir a fúria retórica do ex-deputado e ex-terrorista cultural (O Globo, 7/9). O articulista é desconhecido e, ademais, agente da CIA. O jornal, fundado pelo reverendo Moon, é um reles pasquim de terceira categoria. O arrazoado do articulista, versando sobre a possibilidade de uma aliança esquerdista entre um governo petista, Cuba, Venezuela e outros, é sumariamente desqualificado como ?aberração delirante? de ?neofascistas?. Nada além de devaneios quiméricos e sinistros de ultradireitistas desajustados.

Será mesmo? É bom lembrar, para começo de conversa, que os principais líderes do PT dividem um passado de subordinação a potências externas interessadas em atrair o Brasil para uma frente antiamericana. Para citar só uns poucos, José Dirceu fez treinamento militar em Cuba, José Genoíno integrou uma ofensiva guerrilheira no país comandada pelos comunistas chineses e Milton Temer foi um disciplinado quadro do PCB durante décadas, obedecendo rigorosamente todas as ordens emanadas de Moscou. Dir-se-á que isso foi há muito tempo. Sim, mas Dirceu e seus comandados continuam muito ligados ao companheiro Fidel, tanto que costumam periodicamente frequentar a ilha do Caribe em animadas romarias e rastejantes bajulações ao decrépito tirano barbudo. O PT efetivamente integra o Foro de São Paulo, organização que congrega esquerdistas radicais e terroristas de toda a América Latina. A simpatia e apoio dos petistas aos narcoterroristas das FARC colombianas não são segredo para ninguém. Tampouco são secretas as intenções ditatoriais do venezuelano Hugo Chávez, queridinho dos petistas, seus vínculos com Fidel e a esquerda colombiana, bem como seu namoro público com regimes terroristas do Oriente Médio. Ideólogos petistas como Emir Sader publicam semanalmente nos grandes jornais do país seu sonho de formar uma aguerrida entente antiamericana com África do Sul, Índia, Rússia e China. A milícia armada do MST e seus padres apregoam abertamente a insurreição violenta e até mandam emissários para apoiar publicamente o terrorismo palestino. Ninguém discute que Tarso Genro é um dos mais destacados políticos do PT e um de seus principais ideólogos. Pois Genro vislumbra o panorama atual como ?… uma longa disputa pela hegemonia (…) com a construção de uma cultura política e de uma ideologia socialista em bolsões altamente organizados daqueles setores revolucionários, em direção a uma ruptura com o Estado burguês (…) com respostas dentro e fora da ordem (…), sob pena de limitar-se aos enfrentamentos na esfera política das instituições da ordem, sendo inexoravelmente sugado por ela.? (Tarso Genro, Teoria e Debate, n?4, 1998, pp. 38-41).

Tendo em vista os fatos, e considerando as palavras e atos passadas e presentes da esquerda brasileira, nenhum observador honesto pode deixar de ter ao menos como plausível e digna de preocupação a hipótese suscitada pelo articulista americano. E nenhum brasileiro honrado tem o direito de ignorar a questão, pois é o destino do Brasil que está em jogo. Será Marcito um observador honesto? Não quando se dedica a desinformar, não a esclarecer. Por que ele falseia os fatos tão despudoradamente? A resposta tem, a meu ver, fundamentos psicanalíticos. Marcito provocou os militares com seu ?terrorismo cultural? e, quando o tempo fechou, fugiu tranquilamente para a Europa, onde viveu no bem-bom enquanto seus camaradas enfrentavam o inimigo de armas na mão. O sentimento de culpa e inferioridade deve corroer sua alma e fustigá-lo particularmente quando vê-se diante de ex-guerrilheiros como Dirceu, Genoíno, Aloysio Nunes. O servilismo e a calúnia contra o inimigo comum são a paga com que Marcito procura reparar a sua covardia pretérita.

***

O Observatório da Imprensa a serviço do PT

A pretensão de Alberto Dines de ser o fiscal inflexível da imprensa brasileira não resiste ao mais superficial exame crítico. Para ilustrar: O veterano jornalista,em artigo divulgado na última edição do Observatório da Imprensa, acusa a Folha de S. Paulo de apoiar tacitamente Ciro Gomes. Motivo? A publicação naquele jornal da coluna de Mangabeira Unger, ideólogo de bolso do ex-governador do Ceará. E mais nada de relevante, apenas fofocas. Ora, quem quer que leia ocasionalmente a Folha não poderá negar, sem mentir descaradamente, que o veículo apóia o PT agora, como vem apoiando há anos. Há muito mais ideólogos e simpatizantes de Lula do que de Ciro escrevendo no diário paulista, se é que há algum a favor deste último, além de Unger. Como então interpretar o ataque escandalosamente inverídico de Dines? Simples, o editor do Observatório da Imprensa está agindo, como sempre, no interesse do PT, uma vez que importa estrangular a candidatura de Ciro. Dines quer a cabeça de Mangabeira Unger e menos espaço na imprensa para Ciro, que já não tem mesmo quase nenhum.

Alberto Dines é uma ilha cercada de petistas por todos os lados no Observatório da Imprensa. O governo Olívio Dutra vetou a retransmissão do programa televisivo do OI na TV estatal do Rio Grande do Sul, porém, fora umas poucas e patéticas reclamações, Dines continua emprestando seu prestígio pessoal a uma empreitada nitidamente petista. Estranho jornalismo masoquista: o mesmo movimento político que supostamente censura o OI não deixa de merecer sua adesão implícita e explícita. Um dos mais ortodoxos ideólogos do PT, Bernardo Kucinski, escreve em praticamente todas as edições do OI e foi alçado recentemente por Dines à condição de guia ético supremo da publicação. Convenhamos, é abusar do direito de ser cara-de-pau o roto falar assim (e, pior, mentindo) do rasgado. Quem é ele para exigir neutralidade da Folha? Dines e seu OI, é claro, têm o direito de sustentarem o partido político que bem quiserem. Mas não têm o direito de apoiar simulando que não apoiam. A imoralidade está na mentira. Para usar as mesmas palavras com que o conceituado jornalista açoita a Folha de São Paulo, ?no peito de Alberto Dines bate um coração pró-Lula. Nada demais, escolher é legítimo. Ruim é fingir indiferença e distanciamento olímpico.?"