Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Celebração de nulidades


Adriane Galisteu e o jornalismo como piada

TODA “ex” tem futuro. Sobretudo se é loura – oxigenada ou não –, se tem um assessor de marketing e se a mídia que dela se ocupa não se leva a sério. Adriane Galisteu, a ex de Ayrton Senna, preenche todos os requisitos. Em cinco anos, a ilustre modelo desvencilhou-se do luto, enfiou-se num biquini e transformou-se na viúva mais alegre do país. Estrela maior de uma dourada constelação de mutretas.

A moça tem todo o direito de fazer o que lhe der na veneta. Posar nua em Playboy, vestida no castelo de Caras ou de costas em Bundas. Se está rica, é mérito seu. Não realidade o que está em discussão não é ela. Nem a sua conta bancária. O que se pretende discutir são os outros, este país de parvos – os empresários que a empresam, os “namorados” que com ela contratam seus romances e a multidão de idiotas que não se dá conta deste gigantesco xaveco.

O mais grave desta história não é o rompimento da Galisteu com o seu eleito. Pura encenação. Estava no contrato. O esperto publicitário deveria ser examinado pelo Conar – é a própria representação da propaganda enganosa. Desmoraliza a publicidade como atividade responsável mas principalmente compromete o processo mediático revelando como se montam farsas e se iludem as massas.

O que mais espanta é a incrível capitulação de gente séria ao assalto da Galisteu & Cia. A história do seu fabuloso lançamento como atriz de teatro revela como o nosso jornalismo anda tonto, desnorteado, sem referências morais. Incapaz de perceber a degradação de valores e costumes. A sua contratação como “estrela” de um clássico do nosso teatro, Deus lhe pague (com dinheiro dos incentivos federais à cultura) foi pela primeira vez comentada no Caderno Dois, do Estado de S.Paulo (23/6/99). Este Observador tratou a façanha galistéica na revista VIP (edição de agosto, que circulou no final de julho, ver remissão abaixo). No domingo 29/8 (dois meses depois!) finalmente chegou à grande imprensa quando o próprio editor do Segundo Caderno de O Globo assinou uma reportagem revelando como o produtor e diretora da peça afastaram a atriz Lucélia Santos e em seu lugar contrataram a ex-viúva e ex-modelo com o pretexto de “salvar o teatro”.

É preciso registrar que Norma Benguel veio do teatro rebolado, foi uma das certinhas do Lalau [um dos apodos de Stanislaw Ponte Preta, também Sérgio Porto]. E acabou diretora de cinema. Mas Norma Benguel é uma batalhadora, não usou expedientes, cresceu. Mais não fez porque estava do lado errado – contra o regime militar.

Grande Otelo trabalhava em teatro de revista. Morreu consagrado e respeitado. A emergência e a mobilidade social são altamente desejáveis. Quanto mais, melhor. Aqui dá-se o contrário: a peso de ouro tomam de assalto a mídia, a publicidade, os espetáculos e enxovalham o que poderia representar avanços.

Quando a Folha contrata uma socialite como “repórter” apenas porque foi ou é socialite, ou quando o Jornal do Brasil contrata uma “emergente” como colunista estão consagrando um perigoso sistema de bumerangues. Desta incessante celebração de nulidades sairão as nulidades que comprarão os jornais de amanhã. Depois não reclamem que o jornalismo acabou.

 

LEIA TAMBEM

Mme. Xuxa, o tiro saiu pela culatra

La Galisteu