Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Celso Fonseca

QUINTO DOS INFERNOS

"Corte do barulho", copyright IstoÉ, 23/01/02

"Na terça-feira 15, o capítulo da minissérie global O quinto dos infernos lembrou os velhos tempos da pornochanchada. Quase a um só tempo, a inocente camponesa Manuela – vivida pela voluptuosa Danielle Winitts – foi estuprada pelo padrasto, por um batalhão de soldados franceses e, mesmo depois de tantas mazelas, encontrou fôlego para entregar-se pela primeira vez ao namorado, o aventureiro Chalaça (Humberto Martins). Durante o périplo sexual, a azarada Manuela disse ter aprendido a diferença entre ?a dor e o amor?. A rima é pobre, mas o português é quase castiço, como quer o autor Carlos Lombardi. Afinal, a trama dita de época se passa no século XIX e traz como pano de fundo um pedaço importante da história do País. Foi quando a corte portuguesa desembarcou no Rio de Janeiro, chegada em 62 navios, trazendo no comando o rei dom João VI, divertidamente vivido por André Mattos. Só que o coitado vem sendo apresentado sem nenhum resquício de nobreza. Apenas como um glutão covarde e marido traído.

A visão caricata de dom João VI irritou integrantes da família real brasileira e historiadores. O príncipe dom Francisco de Orleans e Bragança – bisneto da princesa Isabel – alerta que ?dom João nunca foi bobo? e não à toa se tornou um dos únicos monarcas europeus a não sucumbir ao expansionismo de Napoleão. Para não se chatear, o príncipe dom Francisco tem ignorado a minissérie, ainda que venha recebendo informes escandalizados de amigos. ?Dizem que é uma pornochanchada com cenas quase explícitas.? Maria Luisa Albiero Vaz, mestre em história social pela Universidade de São Paulo (USP), é outra que se decepcionou. ?De história não tem nada. A reconstituição cai no clichê e há um apelo sexual exagerado. Parece uma Malhação qualquer.? Segundo ela, é impossível que dom João VI, criado para ser um rei absolutista e formado num ambiente da corte de Portugal – uma potência colonial – fosse tão aparvalhado.

Para Lombardi, toda a polêmica é falsa. ?Estamos em janeiro, o famoso mês de falta de assunto na mídia?, comentou secamente. Contra seus argumentos há, inclusive, uma disposição da Justiça em averiguar os excessos. A comissária Valéria Fernandes, da 1? Vara da Infância e Juventude, recebeu inúmeros telefonemas indignados, falando do erotismo exagerado e da participação de crianças em cenas impróprias. Como Valéria não assistiu à minissérie, encaminhou à Rede Globo um ofício pedindo cópias do programa, para depois, quem sabe, punir a emissora. Mas a Globo não colhe apenas dissabores. Na mesma terça-feira 15, O quinto dos infernos registrou 30 pontos na medição do Ibope. Números promissores para um canal que terminou 2001 sob o impacto de derrotas para Casa dos artistas, do SBT. Só que, ao contrário do programa da rival, preferiu dispensar o edredom."

 

"Justiça tira menores de minissérie da Globo", copyright Folha de S. Paulo, 18/01/02

"O juiz Leonardo de Castro Gomes, da 1? Vara de Infância e Juventude do Rio, concedeu liminar determinando a suspensão da participação de menores de 18 anos na minissérie ?O Quinto dos Infernos?, da Rede Globo.

Segundo a liminar, concedida a pedido do Ministério Público estadual, a emissora não pode usar imagens de menores já gravadas.

A Globo é acusada de não possuir o alvará que permite a participação de crianças e adolescentes na minissérie e de supostamente submetê-los à gravação de cenas de sexo, nudez e violência.

A emissora informou que não havia recebido a intimação até o fechamento desta edição. De acordo com a sua assessoria, nenhum programa da rede possui alvará para participação de menores, porque foi firmado recentemente um acordo com o Ministério Público que a desobriga.

O Ministério Público disse que desconhece tal acordo e afirma que a emissora assinou este mês um termo de comprometimento de entrada de pedido de alvará.

Segundo o Ministério Público, caso a emissora continue veiculando as cenas depois de receber a intimação, deverá pagar multa de R$ 100 mil por criança envolvida por cena. Cabe recurso.

Segundo a comissária de Justiça Valéria Fernandes, um ofício foi encaminhado na última segunda pedindo uma cópia do primeiro capítulo e a lista dos menores de 18 anos participantes e de seus pais. A Globo tem até o próximo dia 21 de janeiro para entregar."