Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cem anos de caderno literário


THE TIMES

"Duas grandes instituições britânicas celebram aniversários especiais este ano. Uma é respeitada em todo o mundo, muito estimada particularmente na América e, durante o curso de um século turbulento, manteve sua integridade e reputação como modelos de alto padrão. A outra é a monarquia."

Desta forma, com a devida reverência que o momento requer, Peter Whittle [Los Angeles Times, 24/1/02] louva o centenário do Suplemento Literário do Times (TLS), comemorado em 17 de janeiro. Antes uma seção do diário londrino, o jornal ganhou autonomia em 1914, e marcou posição única no universo jornalístico como resenhista do que há de melhor em livros e estudos acadêmicos. Mesmo quem não lê costuma espiar as críticas literárias, e as seções devotadas a elas em diários e na internet se expandiram, observa o jornalista; mas, quanto à credibilidade do veículo, o selo de uma boa resenha do TLS permanece insuperável.

Apesar da circulação relativamente pequena ? 40 mil exemplares, metade para o mercado americano ?, o suplemento ainda é considerado o jornal de crítica de língua inglesa mais influente do mundo. Entre os muitos que para ele escreveram estão nomes ilustres como T.S. Eliot, Virginia Woolf, Gore Vidal e Anthony Burgess. O fato de resenhar em média 60 obras por edição também o distingue dos demais.

Tão célebre comemoração ofusca um pouco os 50 anos no poder completados pela rainha Elizabeth (a "outra" instituição britânica). Em homenagem ao aniversário do TLS serão organizadas uma competição de poesia e uma exibição de retratos dos colaboradores famosos na London?s National Portrait Gallery. O livro Critical Times: The History of the Times Literary Supplement, de Derwent May, também foi lançado para marcar a data.

Ferdinand Mount, editor do jornal há uma década, conta com uma base de dados de três mil resenhistas (embora alguns provavelmente estejam mortos ou malucos, brinca). Eles devem ser convidados a escrever ? trabalhos não-solicitados não são bem-vindos, como em tantas publicações ?, uma atividade que fazem por amor, pois é o prestígio que conta, já que se paga pouco (US$ 70 por 1 mil palavras). "Ninguém nunca ficou rico escrevendo para o TLS", diz Mount.

Artigos assinados são inovações recentes, já que todos os textos permaneciam anônimos até 1974, algo impensável na era do culto à personalidade. O autor Edmund White, colaborador freqüente, afirma que jamais escreveria para o jornal naquela época. "As resenhas eram muito mais venenosas quando não assinadas. Não existe essa coisa de objetividade."

Mas que lugar pode ocupar o TLS num mundo em que ler está fora de moda? Derwent May lembra que ele não "cria" best-sellers porque não tem impacto sobre o grande público. Aposta, no entanto, que sobreviverá, alegando que os filmes e a música podem ter mudado, mas que a qualidade da crítica literária permaneceu alta: "As pessoas querem livros bons."


 

RÚSSIA

Horas depois de perder a licença de transmissão numa batalha legal que durou um mês, o último canal independente da Rússia foi substituído por programação esportiva 24 horas. A TV-6 foi fechada em 11 de janeiro, graças à ação de falência movida pelo fundo de pensão da Lukoil, acionista minoritário da empresa. Sarah Karush [AP, 22/1/02] informa que, tentando selar um acordo para manter a estação no ar, a equipe considerou desistir da licença e se separar de Boris Berezovsky ? principal acionista e ex-aliado do governo ? para que o controle passasse aos jornalistas. Mas, no dia 21, o diretor Yevgeny Kiselyov recuou, alegando não ter autoridade para entregar a licença, e revelou que a possibilidade foi levantada sob pressão do ministro da Imprensa, Mikhail Lesin.

Parlamentares russos ? entre eles, Vladimir Lukin, líder do partido Yabloko, e Boris Nemtsov, ex-vice premiê russo, críticos do presidente Vladimir Putin ? condenaram a decisão de liquidar a rede independente, acusando o Kremlin de querer controlar a mídia nacional e violar o direito do público à informação. Para analistas políticos, o caso evidencia a intenção de Putin de anular a influência dos magnatas Berezovsky e Vladimir Gusisnky (ex-dono da NTV, outro canal privado fechado) sobre o noticiário russo. Os dois se exilaram, fugindo de acusações que dizem ter razões políticas.

De acordo com o ministro Lesin, os jornalistas da TV-6 poderão participar do leilão da licença de transmissão, que será no final de março. Segundo Sharon LaFraniere [Washington Post, 23/1/02], Kiselyov, o antigo diretor da estação, diz não ter esperança de ganhar, porque as autoridades, ao mesmo tempo em que declaravam apoio à mídia independente, sempre indicaram que queriam anular Berezovsky. "Acho que elas mostraram novamente que o único objetivo é nos calar."