Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cães-de-guarda dos patrões

JORNALISTAS NO FRONT

A novidade no front é a crítica da mídia feita pelos próprios jornalistas. Paul Adams, correspondente da BBC situado em um centro de comando da coalizão anglo-americana no Catar, acusou a cobertura da BBC de exagerar no impacto militar das baixa sofridas pelas forças britânicas e de subestimar suas conquistas no campo de batalha.

"Fiquei surpreso ao ouvir que a coalizão estava sofrendo ?baixas significativas?. Isso não é verdade", disse Adams em um memorando interno. "Quem inventou a notícia de que a coalizão está conseguindo ?pequenas vitórias a custos altíssimos?? A verdade é exatamente o oposto. Os ganhos são gigantescos e os custos, relativamente baixos."

O memorando, que vazou ao tablóide britânico Sun, foi enviado aos altos executivos da BBC. De acordo com Jason Deans [The Guardian, 26/3/03], uma porta-voz da emissora disse que a corporação não confirma o conteúdo de um memorando interno. "Achamos que agimos corretamente na maioria das vezes, mas sabemos que não o fazemos o tempo todo. Este parece ter sido um memorando interno e não podemos confirmar o conteúdo, mas esse é o tipo de debate sobre linha editorial que vai às redações do mundo todo neste momento."

Imprensa irrita governo

A guerra não está sendo tão breve como o previsto. É natural que a mídia cobre isso do governo americano, autor da previsão. A cobrança, no entanto, tem irritado a Casa Branca. "O governo foi atirado na defensiva, e nosso presidente prefere ofender a defender", disse John Walcott, diretor em Washington dos jornais do conglomerado de mídia Knight Ridder.

O exemplo mais óbvio ocorreu na quinta-feira, 27/3, durante uma coletiva de imprensa com George W. Bush e o premiê britânico Tony Blair. À pergunta de quanto tempo vai durar o conflito, Bush pareceu irritado: "O tempo que for preciso. É essa a resposta para sua pergunta. E é tudo o que você precisa saber".

"Acho que todos estão vendo a guerra com olhos mais críticos, inclusive a imprensa", disse Andrew Kohut, diretor do Pew Research Center, em entrevista a Mark Jurkowitz [The Boston Globe, 29/3/03].

Marvin Kalb, diretor do escritório em Washington do Centro Shorenstein de Imprensa, Política e Administração Pública de Harvard, acha que os jornalistas não querem se confrontar com a Casa Branca, pelo menos por enquanto. "Acho que a maioria dos repórteres ainda está dando ao governo a chance de ser justa às tropas e aos familiares dos combatentes", disse. "No entanto, ao aprendermos mais sobre os aparentes erros de cálculo estratégico, sinto internamente que o tom da cobertura mudará."