Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Churchill e o efeito Golbery

PETIT HISTOIRE

Graças à Veja (edição de 11/12, págs. 152-153) o leitor brasileiro mergulhou na história da Inglaterra como certamente nunca o fez antes. Conheceu de uma só pernada Winston Churchill (1872-1965, o estadista que enfrentou o nazismo), William Gladstone (1809-98, pai do moderno liberalismo britânico), foi introduzido ao fertilíssimo biógrafo Roy Jenkins, descobriu que este presidiu em Oxford a cerimônia da concessão do título de doutor honoris causa ao presidente FHC e, de lambuja, foi informado que o livro de Jenkins sobre Churchill em tradução brasileira é extraordinário.

Neste formidável périplo de uma revista usualmente tão discreta em matéria histórica, o leitor também fica sabendo que petit histoire é o incidente pitoresco. Só não lhe foram dadas as condições para descobrir que a matéria em si tem uma petit histoire, no mínimo instigante.

A tradução é de Heitor Aquino Ferreira, cultíssimo secretário particular do ex-presidente Ernesto Geisel e do general Golbery do Couto e Silva, hoje fonte e "soprador" de muito colunista bem informado. O autor da resenha é um jornalista que embora estreante no resenhismo literário é veterano golberista: foi o introdutor do esquema Golbery no Jornal do Brasil nos idos de 1973. Ambos fazem parte do cenáculo que se reúne no Rio sob a égide de Ronald Levinsohn, o dono da universidade UniverCidade, brincadeira filológica, esta sim pitoresca.

Nada demais: amigo elogiar obra de amigo não é incomum, nem amigo levar amigo a assinar um elogio que não poderia fazer a si mesmo. No país das corriolas, não chega a constituir novidade ? corriqueiro. Jamais será tema da grand histoire do jornalismo brasileiro.

Não custa nada lembrar que The Economist tem como princípio identificar os resenhistas quando advinha algum vínculo destes com os autores ou dos autores com a própria revista. O leitor fica assim advertido para não se deixar enganar pelos adjetivos, apologéticos ou difamadores. E vão todos dormir tranqüilos porque ninguém enganou ninguém.