Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cidade Biz

CRISE & CAPITAL ESTRANGEIRO

"Reestruturação da Abril começa por Veja e TVA", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 21/11/01

"?Ano novo, vida nova.? Este parece ser mesmo o lema da editora Abril, que deu início, esta semana, à reestruturação de toda a empresa. Cerca de 25 jornalistas deixaram a revista Veja. E o número é pequeno perto da meta anunciada pelo novo presidente-executivo, Maurizio Mauro, ao grupo executivo da editora. A idéia é cortar 8% do total de funcionários da companhia, o que representa, em números não percentuais, 400 demissões.

Paralelamente aos cortes, a empresa prepara novas investidas em suas operações de TV paga e de música, a TVA e a Abril Music, eleitas as prioridades de 2002. A TVA já divulga capitalização de 360 milhões de reais de sua controladora, a Tevecap, pelo Grupo Abril.

A reestruturação, ao enxugar o grupo de mídia e torná-lo mais produtivo, teria o papel de prepará-lo para a chegada de um investidor ou sócio-estrangeiro. A parceria será permitida a partir da aprovação, em Brasília, da proposta de emenda constitucional que libera a participação estrangeira na mídia brasileira.

A capitalização da dívida da TVA serve para reduzir os custos financeiros e os passivos da operadora em 63%. Só no terceiro trimestre do ano, os juros pagos pela TVA à Abril chegaram à casa dos 50 milhões de reais, contra os 54 milhões obtidos em faturamento líquido. Parte da verba anunciada nesta terça pela TVA, 329 milhões de reais, é dinheiro que a Abril emprestou à TVA e que reaverá em forma de ações. Com a operação, o grupo se torna acionista majoritário da operadora, aumentando sua participação, hoje de 62,2%, para 82,4%.

Os outros 31 milhões são referentes a ativos que estavam em poder da Abril e passam a fazer parte do guarda-chuva da operadora. Os demais acionistas da TVA perdem participação, já que, diferente da Abril, não injetaram dinheiro na empresa. A Hearst/Disney passa a ter 8,1%, contra os 17,4% que dispunha, a Falcon International Communication passa de 12,3% para 5,7%, e o JP Morgan & Partners, de 8,1% para 3,8%.

Os planos da Abril, contudo, não são de possuir participação majoritária na TVA. ?O foco do grupo é a produção de conteúdo, e a TVA é o braço eletrônico de distribuição desse conteúdo?, diz o porta-voz da operadora, Marco Dabus. Essas coordenadas teriam sido traçadas pela Booz Allen Hamilton, consultora contratada pela Abril no ano passado para pensar sua reestruturação. Na época da contratação, era o hoje CEO Maurizio Mauro quem estava à frente do trabalho da Booz Allen.

Segundo notícia do informativo Jornalistas & Cia desta quarta, o corte de 8% dos funcionários da Abril equivaleria a 15% da folha de pagamento do grupo. Nesse processo, a navalha vai reduzir em até 30% as despesas da empresa. O presidente Roberto Civita pediu um corte horizontal – em cada área – de 7% a folha. Segundo o site da editora, o grupo tem 9.000 empregados.

A TVA não vai escapar aos cortes, reconhece Dabus. Embora não saiba precisar o número das próximas demissões, o porta-voz enfatiza que as dispensas já estavam programadas. Fazem parte, afirma, do processo de enxugamento levado a cabo este ano pela operadora, que já demitiu cerca de 300 funcionários."

 

"Cavalaria sem Rin-tin-tin", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 26/11/01

"Desde pouco antes de terça passada, quando foram fazer lobby diretamente com FHC, os patrões lembraram que estão demitindo profissionais a rodo em suas empresas (jornalistas, principalmente) e passaram a botar – como último item, mas botam – que o capital de pessoas jurídicas (estrangeiras e nacionais) abrirá novas vagas no mercado de trabalho de comunicação porque as empresas poderão se capitalizar e ampliar. Como ocorre em 99,9% das vezes quando falam sobre seus empregados, os donos de empresas de meios de comunicação brasileiros estão dizendo meias-verdades. Sem dúvida que novas vagas se abrirão com dinheiro novo. O problema é que não serão tantas assim e nem bem distribuídas.

Na minha visão das coisas, o único meio que realmente se beneficiará do capital novo é a TV. No Bananão, a televisão é o único meio com estrutura de produção e audiência suficientemente altas para atrair anunciantes e, portanto, as empresas capitalistas que procurarão retorno rápido para seus investimentos. A favor da TV há ainda o fato de a TV Digital estar chegando ao país nos próximos anos, o que abrirá um mundo totalmente novo para o negócio de TV como um todo, pois haverá a possibilidade de mesmo as TVs abertas poderem prestar serviços de comunicação, por exemplo (há uma briga de foice no escuro entre Anatel, Ministério das Comunicações, TV abertas, TVs pagas e companhias telefônicas sobre isso. Qualquer dia escrevo a respeito). Assim, a capacidade de gerar receitas das TVs crescerá exponencialmente nos próximos anos, o que fará o meio muuuuito apetitoso.

Esta configuração, no entanto, não ocorre nos meios impressos. Começando pelos jornais. Com estes (e com as revistas, claro) o problema básico é de escala de audiência. Como se sabe, a Botocúndia é um país de semi-analfabetos, gente para quem ler é quase uma anátema (Andréa cursa Letras na Estácio e toda vez que diz que adora ler é olhada como se fosse uma pervertida. Segundo o escritor Joel Rufino, professor da UFRJ, a coisa não é muito melhor em outras universidades). Por isso, há poucas possibilidades de a tiragem total dos jornais passar muito dos cinco milhões a que chega aos domingos (você acha muito? Num país de 150 milhões de almas? No Japão, um jornal que tira menos de cinco milhões por dia é considerado médio…). E como a briga tende a aumentar, com os descontos jogando o preço da inserção lá pra baixo, é ruim de os investidores botarem seu rico dinheirinho neste meio. Claro que alguns projetos há muito engatilhados, como aquele do Grupo MTG para fazer o jornal do Metrô do Rio, e um ou outro novo, aqui e acolá, podem se tornar realidade. Mas o número de empregos não vai crescer a ponto de nos fazer respirar aliviados, não.

O maior problema das revistas é o mesmo dos jornais – falta de gente alfabetizada com hábito leitura -, mas elas têm uma vantagem: a segmentação. Públicos segmentados não são, normalmente, muito grandes. Duas ou três editoras com um bom portifólio, por exemplo, de Esporte (não há revistas fortes nem sobre vôlei, o segundo esporte do país) poderiam oferecer anúncios casados aos anunciantes, que se interessariam por estar falando a um público bem específico e fiel. Em matéria de empregos fixos, não seria lá uma Brastemp – afinal, boas revistas podem ser feitas com um número não muito grande de profissionais dedicados em tempo integral -, mas poderia ser criado um mercado de frilas bem estável.

Por último vem o rádio, mas, como sempre ocorre, este meio tem problemas sérios porque até hoje não conseguiu se organizar de maneira profissional a fim de ser encarado com seriedade como bom produto para anunciantes. Além de pulverizado, as empresas parecem que não conseguem trabalhar em conjunto para valorizar o meio como um todo, o que acaba sendo desastroso para cada um.

Assim, no geral, embora o investimento de pessoas jurídicas seja bem-vindo neste momento de penúria, não creio que a votação da PEC modificando o artigo 222 da Constituição vá, no curto prazo, aliviar muito os nossos problemas. No médio prazo, talvez a coisa melhore. Já a longo prazo… Bem, como dizia Lorde Keynes, ?a longo prazo, estaremos todos mortos?.

Picadinho

?O tempo não pára? – O bordão do velho Waldyr Amaral (o pessoal mais novo pensa que é do Cazuza, mas não é) deve estar ressoando na cabeça dos donos das empresas de comunicação. É que com as brigas que o governo FHC arranjou no Congresso – despejando pacote antigreve ditatorial em cima de professor; tentando dar volta em serventuário do INSS ou uma calça-arriada nos direitos trabalhistas – a votação da PEC do Artigo 222 vai chegando ao fim de novembro sem ser votada. Daqui a pouco, chega o recesso parlamentar e aí, babau.

Também queremos – Onde está escrito que só patrão pode ter audiência com o presidente da República? Como não há lei determinando isso, as entidades que participarão da VIII Plenária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, a ser realizada entre 30 de novembro e 2 de dezembro, em Brasília, protocolaram um pedido de audiência com FHC. A idéia é apresentar a posição das entidades a respeito da proposta da PEC do Artigo 222. Assinaram o pedido de audiência a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Federação Interestadual dos Trabalhadores nas Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fittert), a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos) e a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço).

Em defesa da profissão I – Por falar em Fenaj, a entidade entrou com um recurso para tentar derrubar a liminar da juíza federal Carla Rister, que suspendeu a obrigatoriedade do diploma para a obtenção do registro profissional de jornalista no Ministério do Trabalho. O agravo de instrumento, de autoria do advogado e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo (OAB-SP), João Piza, deu entrada, terça, dia 20, no Tribunal Regional Federal de São Paulo. No recurso, 85 páginas, o advogado da Fenaj afirma que a obrigatoriedade do diploma não fere a Constituição Federal de 1988, como sustentou a juíza em sua decisão. Piza argumenta que o parágrafo 13?, do artigo quinto, estabelece a liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, ?atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer?. Ou seja, liberdade de expressão é uma coisa, exercício da profissão de jornalista é outra completamente diferente.

Em defesa da profissão II – O Sindicato de São Paulo está convocando manifestação na quarta, dia 28, ao meio dia, no vão livre do MASP, na Avenida Paulista. De lá, a galera seguirá até o prédio da Justiça Federal, também na Paulista, esquina com a Rua Peixoto Gomide, a 50 metros do MASP para mostrar aos juízes que os jornalistas estão atentos à defesa de sua profissão.

Combate nas sombras – Já tem gente achando que a intenção de Olavo Monteiro de Carvalho de comprar a Gazeta Mercantil não passa de mais uma estocada na briga dele com Nélson Tanure. Guerra que já produziu até um dossiê que correu redações háaacute; algumas semanas."

 

"Com expectativa de receita 10% menor, Editora Globo demite", copyrighT Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 22/11/01

""Com expectativa de fechar o ano registrando faturamento 10% menor do que em 2000, a Editora Globo promove cortes em todas as suas áreas. ?Estamos reduzindo e enxugando custos onde acreditamos que não nenhum produto será prejudicado?, afirma o diretor geral da empresa, Marco Dvoskin.

Segundo Dvoskin, os cortes atingiram entre 25 e 30 pessoas. Com isso, o quadro da editora passa a comportar 810 funcionários, quase 200 a menos do que possuía há dois anos. Nenhum título deve ser descontinuado.

Fonte interna da companhia que preferiu não se identificar diz, no entanto, que as demissões visam uma redução de 20% da folha de pagamento da empresa. De acordo com a fonte, as áreas mais atingidas foram as de eventos, comunicação, pesquisa e marketing publicitário.

Nesta terça, houve cortes nas redações das revistas Auto Esporte e Galileo, e são esperadas novas ações da navalha nas publicações femininas. Dvoskin diz desconhecer estas demissões.

Também nesta terça-feira, a Editora Abril se pronunciou oficialmente sobre os cortes no grupo. Oficializou por meio de comunicado as demissões que reduziram em 8% seu quadro de funcionários – de cerca de 9.000, segundo o site da editora.

?A decisão foi tomada em razão do cenário econômico atual e do reposicionamento da empresa?, dizia a nota. ?O cenário não é exclusivo da Abril. Todas as demais empresas de comunicação do país e do mundo fizeram e estão fazendo seus ajustes.?

O comunicado continuava: ?Desde o início do ano reduzimos um pouco o número de funcionários, reestruturamos algumas áreas, combatemos custos dentro do possível, suspendemos atividades, descontinuamos títulos, fizemos, enfim, mudanças consideráveis. Essas ações trouxeram resultados positivos. A redução de pessoal, porém, se mostrou necessária?."