Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cidade Biz

GLOBO & BNDES

"Globo Cabo aumenta capital em R$ 1 bilhão numa operação misteriosa", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 12/03/02

"A Globo Cabo tornou oficial nesta terça, enfim, a notícia que todo o mercado esperava e especulava em cima: a operação de socorro ao mais problemático dos negócios da família Marinho. A empresa vai levantar, via oferta pública de ações, R$ 1 bilhão. O aumento de capital, realizado pelos sócios do grupo de controle, Globo, BNDESPar, Bradespar e RBS, servirá para amortizar as dívidas de curto prazo da operadora, hoje da ordem de R$ 633 milhões. A Microsoft, que ficou de fora do anúncio, será convidada a aderir à operação nesta quarta.

Cerca de R$ 700 milhões do montante anunciado nesta terça entrarão já de cara para sanear a Globo Cabo. ?Com isso ela vai conseguir um fôlego, já que dinheiro de acionista só é devolvido na forma de participação nos lucros?, avalia Maurício Tsuboi, analista do Consultoria Lafis. ?Só que isso é temporário. Em seguida, ela terá de tomar uma atitude mais estratégia: investir no aumento das operações ou receber um novo sócio?. De fato, o aporte, alivia, mas não resolve. A dívida líquida total da operadora chega a R$ 1,6 bilhão, segundo os últimos dados divulgados, de setembro de 2001.

O aumento de capital para reduzir esse passivo aparentemente tem como personagem principal a Globo, que entrará com a maior fatia da operação, de R$ 540 milhões – R$ 305 milhões dos quais já foram antecipados no ano passado, como adiantamento para uma futura capitalização. A Globo ainda integralizará R$ 48 milhões em dinheiro e converterá R$ 69 milhões que possui em debêntures, além de assumir o compromisso de subscrever sobras de até R$ 118 milhões.

A BNDESPar, do BNDES, vai assumir R$ 284 milhões da capitalização, dos quais R$ 39 milhões serão aportados em dinheiro, R$ 125 milhões aplicados via conversão de debêntures e R$ 120 milhões serão de sobras assumidas. Para a Bradespar, do Bradesco, a divisão dos R$ 95 milhões investidos na operação se dará da seguinte maneira: R$ 48 milhões em dinheiro, R$ 16 milhões com debêntures e R$ 31 com as sobras.

A RBS, que pertence à família Sirotsky, subscreverá R$ 56 milhões, dos quais R$ 20 milhões em dinheiro e R$ 24 milhões em sobras. Os outros R$ 12 milhões se referem a créditos que a companhia tem com a Globo Cabo. Ainda entrarão na engenharia financeira R$ 25 milhões vindos de um investidor nebuloso, uma instituição pública cujo nome, explicou o presidente da operadora, Luiz Antônio Viana, não pode ser revelado por enquanto. Viana disse ainda que a composição acionária da empresa deve ser mantida, ou seja, Globo com 42%, Microsoft, 7,5%, RBS, 12,2%, BNDES, 5% e Bradesco, 6%.

A parte da Globo no negócio pode ter sido financiada com algum tipo de apoio por parte do próprio BNDES. Já há precedentes para esse tipo de operação. Nos episódios de privatização da Vale do Rio Doce e das elétricas e na operação de descruzamento acionário entre CSN e, de novo, a Vale, parte dos acionistas foi financiada por bancos privados por meio de contratos triangulares em que o fornecedor dos fundos era o próprio BNDES. O banco estatal agiu assim para compartilhar com terceiros um pouco do seu risco operacional – e, obviamente, os bancos privados envolvidos nesse sindication ganharam seu prêmio por aderir ao projeto.

O preço da emissão das ações da Globo Cabo será definido por meio de um processo de bookbuilding e vai ser aprovado em uma assembléia geral de acionistas da empresa. Com essa operação de socorro, aposta um outro analista de mercado que preferiu não se identificar, a Globo parece não apenas preparar sua frustrada operadora para a entrada de um novo sócio estrangeiro, mas também para a possibilidade de venda completa.

?Esse aporte vai aumentar o valor de mercado da empresa, que hoje é de R$ 1,9 bilhão, e torná-la bem mais atrativa para algum possível interessado?. O analista não deixa de pensar, porém, que a Globo Cabo é um barco furado. ?Nesta operação de socorro, se a idéia é mesmo reerguer a companhia, estão todos jogando dinheiro fora. O setor de TV por assinatura está estagnado no país e não há como essa empresa se tornar viável no curto prazo.?

De qualquer maneira, de concreto se tem que a Globo Cabo caminha rumo ao Novo Mercado da Bovespa. A companhia já é signatária do Nível 1 e, com as novas medidas, espera passar ao Nível 2. Segundo Vianna, uma das poucas exigências da bolsa ainda não adotada pela Globo Cabo é a existência só de ações ordinárias, sem as preferenciais.

Uma das regras do Novo Mercado que a empresa afirma já ter adotado é o tag along. Trata-se de um mecanismo previsto na nova Lei das S.A. segundo o qual o comprador do controle de uma empresa precisa fazer uma proposta de oferta aos minoritários equivalente a, no mínimo, 80% do valor pago ao majoritário."

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"Ajuda à Globo Cabo constrange BNDES e agita os políticos", copyright Cidade Biz, 13/03/02

"O empenho de R$ 284 milhões do BNDES na operação de resgate avaliada em R$ 1 bilhão da encilhada Globo Cabo, a sete meses das eleições, virou caso político e fonte de constrangimento para a direção do banco estatal.

A operação, diga-se antes de qualquer coisa, é legítima, prescindindo da explicação do presidente do BNDES, Eleazar de Carvalho Filho – o mesmo que dois dias antes jurava de cara limpa para a imprensa que não havia nenhuma operação em vista com a Globo -, para quem ?o investimento terá retorno?.

Trata-se de uma afirmação temerária, pelo que se lê nos estudos sobre o setor de TV por assinatura, que podem ser encontrados no site do próprio banco. Bastaria a Eleazar afirmar que a operação com a Globo Cabo se enquadra nas linhas de atuação do BNDES.

Mas o que acanha o BNDES e excita os políticos de oposição – como o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que quer convocar as partes para averiguar na Câmara a legalidade do negócio – incomoda, certamente, muito mais os acionistas da Globo.

A operação poderia ter sido fechada ainda no ano passado, entre outubro e novembro, mas foi arrastada até o momento crítico da abertura da temporada eleitoral e dada divulgação de seus termos em meio à guerra política entre as candidaturas de Roseana Sarney e José Serra e seus partidos.

A Globo Cabo bem que tentou tocar a operação de saneamento de seu passivo com a banca privada, sem sucesso, nada lhe valendo ter entre seus sócios a fortaleza da Bradespar, do grupo Bradesco.

Restou o BNDES como financiador de última instância. E a suposição, entre parlamentares petistas e do PFL, de que o governo guardou para a última hora a aprovação do socorro para que ninguém esqueça os colaterais da operação mais adiante."

 

"Os caras-de-pau", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 13/03/02

"Tá bom, tá bom. Não deveria estar tomando em vão o santo nome de um filme com trilha sonora tão legal como referência, mas o que fazer se os meios de comunicação brasileiros se comportam de uma maneira tão cínica? Vejam três casos:

Roseana Sarney – No fim do ano passado, a governadora do Maranhão estava nas alturas, como bradava uma capa da Veja, e o estado que ela governava era até mostrado como um local agradabilíssimo para se viver na novela O Clone, da Rede Globo.

Só que Roseana é representante de um clã que domina o paupérrimo Maranhão há 36 anos (desde que seu pai, o ex-presidente José Sarney, tomou o governo estadual da oligarquia anterior, cujo chefe era o ex-senador Vitorino Freire) e as falcatruas se marido, Jorge Murad, são conhecidas por qualquer repórter brasiliense desde os tempos em que o sogro era Presidente da República. Então como só agora, há pouco mais de um mês, as tais falcatruas e índices haitianos do Maranhão passaram a ser enfocados na mídia com o devido espaço? Afinal, quando ela se lançou à Presidência, já nas matérias do fim de 2001 se deveria fazer o contraponto. Ou será que tal atitude investigativa se dá hoje porque, diferentemente do que ocorria há pouco, o Palácio do Planalto ungiu um candidato?

Para ser justo, houve tentativas de se fazer jornalismo sério neste meio tempo. Segundo um texto do excelente Palmério Dória que recebi pela internet (não sei onde foi publicado) um importante jornal paulista tinha feito matéria sobre as falcatruas de Murad, mas um telefonema de José Sarney impediu a publicação. Preocupante essa boa vontade, não? E houve até uma coleguinha, editora da publicação, que defendeu, segundo Dória, a censura. ?Isso é pura sacanagem. Só porque ele é casado com a Roseana, isso agora aparece. Além do mais, essa matéria é puro machismo contra ela?, afirmou a moça, de acordo com o Dória. É ou não é para cara-de-pau nenhum botar defeito?

BNDES – As concorrentes berraram, mas os jornais se limitaram a cobrir burocraticamente a sem-vergonhice que foi o investimento feito pelo BNDES, através do BNDESPar, na Globo Cabo, holding do Império na TV paga. Um empréstimo de R$ 284 milhões em ano eleitoral para uma empresa que faz do parte do mais poderoso conglomerado de mídia do país é algo que até aquele histórico desafeto dos Marinho, Silvio Berlusconi, hesitaria muito em fazer (se é que faria) em sua Itália, onde manda em todas as TVs e no governo diretamente. E nem adianta dizer que vão ser ?só? R$ 59 milhões em dinheiro vivo porque:

1.O restante já foi dado antes como empréstimo, ou seja, o dinheiro saiu, não voltou e agora não volta mais;

2. Não resolve o ponto central: o erro é dar o dinheiro em si e não o quanto.

A cara-de-pau é ainda maior porque ninguém questiona a ação porque todos estão loucos para também receberem uma forcinha do banco que parece ter esquecido que o S que tem no fim do nome é de Social e não de Salvamento.

Grampo – Essa é hilária! A Veja desta semana tem como assunto de capa o jogo sujo em que já se transformou a eleição presidencial. Pois não é que a revista tem a desfaçatez de criticar o uso do grampo telefônico? Logo ela que, não faz nem um ano, usou de um grampo para desmoralizar o Ricardo Boechat? É cara-de-pau demais, né, não?

Picadinho

Para ser esquecido – O ano de 2001 foi realmente desastroso para as empresas de mídia. Segundo a pesquisa Inter-Meios, da PriceWaterhouseCoopers, a queda foi de 5,4% (de R$ 9,854 bilhões em 2000 para R$ 9,322 bilhões ano passado). E isso em termos nominais, pois se a conta for feita feita em dólar e incluindo a inflação o tombo é de 25%. Ou seja, a mídia brasileira chega ao ano eleitoral numa posição fraquíssima para se opor a qualquer pressão de anunciantes em favor de seus políticos favoritos.

Preparados – Tem consultor achando que as empresas brasileiras de mídia mais conhecidas (e mais necessitadas) poderiam partir para o mercado acionário assim que fosse votada a emenda que permite a entrada de sócios estrangeiros nos meios de comunicação. Elas pulverizariam as ações em forma de ADRs nas grandes bolsas de mundo, livrando-se desse modo de dividir a gestão ou ter que discutir conteúdo com os gringos. O problema é que as empresas de mídia no Brasil são familiares e teriam que mudar completamente seu modelo de gestão em poucos meses a fim de cumprirem as duras exigências legais de transparência e respeito aos minoritários que fazem parte de usos e costumes em bolsas de países civilizados.

Gravidez – Os executivos do Império juram que poderiam fazer as empresas imperiais cumprirem as exigências acima em nove meses. Teria sido para isso que Phillipe Reischtul foi contratado (pelo menos seria uma de suas missões…)."

 

"Globo Cabo recebe ajuda para saldar dívidas", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 13/03/02

"R$1 bilhão. Este é o valor da capitalização anunciada na tarde desta terça-feira (12/3) para salvar a holding Globo Cabo. Segundo o diretor-executivo da rádio Eldorado, João Lara Mesquita, em entrevista a Comunique-se, as dívidas das Organizações Globo chegam a R$1,6 bilhão. João Roberto Marinho, vice-presidente da Rede Globo, e Luiz Antonio Viana, diretor geral da Globo Cabo, deram entrevista coletiva em São Paulo para falar sobre o aporte de capital.

Marinho frisou que os R$284 milhões da BNDESpar não são fruto de empréstimo, e sim de um aporte de capital por mais um dos sócios da Globo Cabo. Do total do R$1 bilhão mencionado, a Globo entrará com R$540 milhões, o Bradespar com R$95 milhões e o grupo RBS com R$56 milhões. O restante (R$25 milhões) virá de um banco cujo nome não foi divulgado durante a coletiva – na edição desta terça, a Folha de São Paulo afirma que o Banco do Brasil também estuda participar do refinanciamento.

Até esta segunda-feira (11/3), nem o Banco do Brasil nem o BNDES haviam confirmado que fariam algum tipo de aporte de capital na Globo Cabo. Mas a notícia teve efeito instantâneo no mercado. A Rede Bandeirantes manifestou-se oficialmente. Seu vice-presidente, Antonio Teles, considerou a operação ?um espanto?, já que o país est&aaaacute; às vésperas das eleições. Segundo a Folha, há três meses a Band fez ?uma consulta formal ao banco sobre a disponibilidade de abertura de linhas de financiamento?. A resposta do BNDES foi que não operava com empresas midiáticas.

O banco possui 5% das ações da Globo Cabo e, como revelou um dos envolvidos na negociação à Folha ?todos os sócios devem participar da capitalização, mas não necessariamente nas mesmas proporções?."