Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ciência e mídia: reflexos distorcidos ou espelho de preconceitos?

OFJOR CIÊNCIA 99

 

CCR ? Comissão de Cidadania e Reprodução

 

Hilary Rose, reconhecida pesquisadora britânica, cunhou uma metáfora muito sugestiva para referir-se à divulgação de pesquisas científicas pela mídia: longe de portar-se como mera observadora, a imprensa promove e alimenta a valorização de uma pluralidade de Moisés (cientistas) autoritários, que descem da montanha portando (a verdade) as tábuas da lei. É difícil ler o que os grandes jornais diários publicam sobre “ciência” sem pensar nesta imagem: muitos jornalistas (deliberadamente ou não) promovem os cientistas como portadores da verdade indiscutível sobre a natureza _ certamente ainda influência do nosso imaginário sobre ciência, proveniente da Igreja Católica medieval, que consagra santos (os gênios), milagres (descobertas) e lugares sagrados (laboratórios).

A análise de 646 matérias publicadas em quatro dos principais jornais diários sobre saúde reprodutiva e sexualidade que têm como fonte as publicações científicas, o que se verifica é uma exacerbada predominância da abordagem biomédica em detrimento dos novos enfoques das ciências sociais.

Os dados analisados provêm da base de dados Olhar sobre a mídia mantida pela Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR) com o objetivo de monitorar a publicação de matérias sobre saúde reprodutiva e sexualidade nos quatro principais jornais brasileiros (Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e, do Rio e Janeiro, Jornal do Brasil e O Globo). No período de dois anos, a CCR acumulou recortes de 4.636 matérias, que ocupam o considerável espaço de 332 mil cm/coluna, equivalente a mais de 1.100 páginas de jornal, distribuídos por categoria temática como mostra a tabela a seguir.

Distribuição das matérias por categoria, jul.1996 – jun.1998

Categoria temática