Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Ciência em revista

OFJOR CIÊNCIA 99

 

OfJor Ciência 99 ? Oficina OnLine de Jornalismo Científico é uma iniciativa do Observatório da Imprensa, Labjor e Uniemp.

 

Carlos Vogt

A Revista de Jornalismo Científico é a boa nova do Curso de Jornalismo Científico, que o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Unicamp, realiza em parceria com o Departamento de Política Científica e Tecnológica, do Instituto de Geociências, e com o Departamento de Multimeios, do Instituto de Artes [veja remissão abaixo].

Nome é ainda provisório: o definitivo deverá nascer de um concurso feito entre os estudantes do curso. Mas a idéia é original e o produto, instigante ? do ponto de vista das funções de divulgação que poderá vir a desempenhar e do papel pedagógico que certamente terá como laboratório vivo da prática do jornalismo científico on line.

A motivação inicial para a criação da revista surgiu da constatação de que o grupo de estudantes do curso era bastante heterogêneo, tanto pela faixa etária como pela formação acadêmica e pelo exercício profissional. Isso nos levou a pensar numa forma de avaliação que servisse também como elemento aglutinador das disciplinas e atividades do curso. A proposta do professor Renato Sabatini, coordenador do grupo técnico da revista, veio ao encontro dessas preocupações e foi imediatamente aceita pela equipe de coordenação e de professores do curso.

Além de cumprir o papel de oficina de jornalismo científico para os alunos, a revista pretende adquirir vida própria, amadurecer e consolidar-se como fonte de informação e ferramenta de apoio às atividades de divulgação científica, tendo como público-alvo jornalistas, estudantes de jornalismo, divulgadores científicos e ainda estudantes de segundo grau e universitários em geral.

Como escreve Mônica Macedo, pesquisadora do Labjor e autora do documento com a proposta de implantação da revista, seu escopo serão pesquisas de ponta, de grande aplicabilidade ou geradoras de tecnologia, além de pesquisas de relevância e interesse para o Brasil.

Notícias, reportagens e artigos estarão distribuídos por uma paginação criativa e convidativa à leitura, fruto do trabalho da webmaster Gisele Felipe Rodrigues. Links para fontes e outras publicações na área facilitarão a navegação da curiosidade e do conhecimento, e um link especial com a Ofjor Ciência 99 reforçará a integração da prática reflexiva e crítica exercida pelo Labjor e pelo Observatório da Imprensa.

 

Paulo Lotufo, de Boston

 

Há quase um ano, o The New York Times divulgava que duas novas drogas, a angiostatina e endostatina, desenvolvidas em Boston por Judah Folkman, conduziriam à cura do câncer em um curto período de tempo, não mais do que dois anos [veja remissões abaixo]. O efeito desta notícia foi imediato em todo o mundo: destaque em telejornais, manchetes nos jornais e capa de todas as revistas semanais. Assentada a poeira, o exagero ficou evidente ? sintetizado na bem humorada declaração de Judah Folkman à edição de final de ano de Newsweek: “Se o seu rato tiver câncer, eu posso tratá-lo”. De concreto, há a informação que as pesquisas preliminares de toxicidade com seres humanos começarão este ano em dois grandes centros oncológicos dos EUA.

O assunto voltou a ser notícia, em todos os órgãos de imprensa, com o artigo científico na revista Circulation onde está dito que a endostatina (prenda a respiração, leitor) tinha diminuído o tamanho das placas de aterosclerose em experimentos com uma linhagem genética específica de camundongos alimentados com grande quantidade de colesterol durante 16 semanas. Com se vê, uma enorme distância da sua aplicação em um homem com ataque cardíaco. No entanto, todos os jornais brasileiros deram destaque a esse achado a partir de um despacho da Associated Press; alguns, inclusive, afirmando que “droga para o câncer funciona no coração”. Esta experiência, se for repetida, poderá representar avanço na compreensão da aterosclerose, tal como com outras experiências publicadas na mesma edição da revista. Ponto final.

Todos os dias, as bibliotecas médicas são entupidas com revistas publicando novas e excitantes descobertas. Paradoxalmente, todos os dias pacientes que procuram hospitais demoram muito para se beneficiar desses conhecimentos. A mídia, que deveria defender o usuário dos serviços médicos, o desinforma ao hipervalorizar a pesquisa científica e não verificar a aplicação dos avanços científicos na prática médica cotidiana.

Por exemplo: em 1988, comprovou-se que o uso da aspirina para quem está sofrendo infarto do miocárdio é da maior importância. Este conhecimento sobre a aspirina foi tão importante que hoje recomenda-se que, na suspeita de infarto do miocárdio, no caminho do hospital ou ao chamar a ambulância, o leigo dê uma aspirina ao paciente. Dez anos depois, ao se verificar o porquê da menor mortalidade por infarto nos hospitais americanos considerados “top” (uma minoria) em relação aos demais, a resposta foi uso da aspirina e uma outra droga barata, os betabloqueadores em quase 100% dos casos ? contra 80% dos outros hospitais. Este fato foi publicado na principal revista médica norte-americana no final de janeiro de 1999, com pequena repercussão na mídia (Estados Unidos) e nenhuma na imprensa brasileira.

Por que então tanta ênfase em drogas que talvez melhorem câncer em ratos e quase nada para uma simples, barata e acessível aspirina que poderá ser útil até para o leitor deste Observatório, caso presencie um infarto?

A explicação é simples: a aspirina, que foi grafada em minúsculas, é o nome comercial do ácido acetil salicílico da Bayer, a primeira empresa a sintetizar a substância que está presente na casca do salgueiro, mas cuja fabricação e venda é livre em qualquer lugar do mundo por qualquer laboratório. O impacto na Bolsa de Valores de Nova York, com a confirmação na prática de uma importante descoberta científica (a aspirina no atendimento do infarto) foi absolutamente inexistente. Em contraposição, as ações da empresa Entremed, que tem a patente da endostatina, subiram 3 pontos no índice Dow Jones (ou 12,5%) após a recente publicação dos achados em corações de ratos.

A imprensa americana tem uma justificativa ao divulgar com estardalhaço as descobertas de suas empresas de biotecnologia: este setor é um dos mais dinâmicos do seu país, uma fonte imensa de recursos, em grande parte oriundos de países onde não há qualquer crítica ao que se publica no restante do mundo.

 

Comissão de Cidadania e Reprodução (*)

 

Entre julho de 1996 e dezembro de 1998, os quatro mais importantes jornais brasileiros publicaram apenas 49 matérias sobre mortalidade materna, o equivalente a 0,5% do total de matérias sobre saúde reprodutiva. O pouco interesse pelo tema pode ser reflexo do modo como o problema tem sido apresentado pelos técnicos de saúde e da forma como tem sido tratado pela mídia.

As mortes que ocorrem durante a gestação, o parto ou até um ano após o término da gravidez compõem o coeficiente de mortalidade materna, um importante indicador de saúde das mulheres em idade fértil e da qualidade da assistência ao processo reprodutivo. Do mesmo modo que os índices de mortalidade infantil, os de mortalidade materna refletem também a qualidade do sistema de saúde em geral, como o acesso aos serviços, a qualidade da atenção básica, a educação em saúde e a assistência especializada e hospitalar.

É um problema sério, antigo e crônico, assim como sempre foi a superlotação nos hospitais, a escassez de leitos de UTI, o conseqüente dilema de profissionais da saúde diante da necessidade de escolher quem sobrevive neste contexto de carência ? e, ampliando para além da saúde, a corrupção fruto da cumplicidade entre cidadãos e funcionários na prefeitura do município de São Paulo.

No entanto, a mortalidade materna ainda não foi descoberta pela mídia. O número de mortes por ano, apenas no Estado de São Paulo, onde os índices não são os maiores do país, corresponde à queda de um Jumbo sem sobreviventes. É comum jornalistas experientes argumentarem que os dados da mortalidade materna nos últimos anos não apresentam mudanças suficientemente significativas para escrever uma matéria.

De fato, dados da Área Técnica de Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmam que, no período de 1960 à 1982, ocorreu queda importante no número de óbitos de mulheres associados à maternidade. Nos últimos 17 anos, no entanto, esse número oscilou em torno de 50 óbitos a cada 100.000 nascimentos, sem considerar o sub-registro.

No entanto, esse dados ocultam três importantes aspectos que, considerados conjuntamente, podem sensibilizar a mídia: a ordem de grandeza, o sub-registro e o caráter evitável dessas mortes. Dados do Comitê Estadual de Vigilância do Óbito Materno no Estado de São Paulo revelam que aproximadamente 40% das mortes maternas não são registradas como tal. Esses dados são obtidos através da Declaração de Óbito, preenchida pelo médico que acompanhou o caso ou através de autópsia, nos casos em que não houve assistência médica em tempo hábil. Em diversos casos, os registros de óbitos não fazem referência à existência de gravidez: é freqüente encontrar, por exemplo, uma morte por infecção em decorrência de um abortamento realizado em péssimas condições registrada na Declaração de Óbito somente como infecção generalizada, ocultando a real causa associada à reprodução.

Óbitos evitáveis

O sub-registro é um fenômeno que ocorre mesmo em países desenvolvidos, mas se acentua nos países com precárias condições de saúde da população. No Brasil, além do mau preenchimento das Declarações de Óbito, ainda é possível identificar, nos lugares mais pobres, a existência de cemitérios clandestinos, a ocorrência de mortes sem assistência médica e o não registro dos nascimentos (número utilizado no cálculo do coeficiente de mortalidade materna) contribuindo para que os números referentes à morte materna sejam menores, justamente nas regiões onde mais ocorrem.

Outra dimensão da mortalidade materna é a ordem de grandeza de seu coeficiente. Nos países desenvolvidos, está abaixo de 10 mortes para cada 100.000 nascimentos, chegando a cinco em países como Inglaterra e Canadá. No Brasil, ocorrem aproximadamente 140 óbitos em 100.000 nascimentos.

Enquanto nos Estados Unidos as mortes por causa materna representam 0,5% das mortes de mulheres de 15 a 49 anos, esse índice no Brasil é de 3,6%, chegando a 9,1% na região Norte. Para se ter uma idéia da ordem de grandeza, no Estado de São Paulo, levando em conta apenas os dados oficiais (sem correção do sub-registro), isso representa uma morte a cada dia, quase todas evitáveis. Estes dados revelam a forte associação entre morte materna e condições de vida e saúde da população e, mais importante, mostram que essas mortes poderiam ser evitadas.

Os avanços tecnológicos na área da saúde permitem afirmar que a maioria das mulheres que morreu durante o processo normal da reprodução poderiam estar vivas. O caráter evitável é reforçado quando analisamos as causas da mortalidade materna. Nos países onde o indicador tem os menores valores, os componentes principais são as doenças não relacionadas à gravidez (muitas vezes preexistentes, como as cardiopatias, por exemplo), agravadas pela gestação a ponto de culminar com o óbito. São as chamadas causas indiretas. Em contrapartida, nas populações mais desfavorecidas, são as doenças próprias da gravidez que causam a maioria das mortes: é a pressão alta desencadeada pela gestação, as hemorragias, o abortamento em condições precárias e a infecção ? causas reconhecidamente evitáveis pela adequada assistência médica.

As mulheres não são as únicas vítimas das precárias condições de assistência à saúde: as diferenças regionais do coeficiente de mortalidade infantil acompanham os indicadores de mortalidade materna e o seu principal componente é associado à assistência ao pré-natal, ao parto e à anticoncepção.

São também muito freqüentes os casos de gravidez indesejada por acesso inadequado aos meios contraceptivos, em que a dificuldade de aceitação retarda o início do pré-natal, quando muitas doenças podem ser diagnosticadas e tratadas sem prejuízos para mãe e feto. Muitas mulheres que, por motivos de saúde, não podem mais conceber, acabam engravidando por falta de informação ou por dificuldade em obter os meios apropriados para sua anticoncepção. E, ainda pior, são os inúmeros casos em que o recurso é o abortamento clandestino, realizado em péssimas condições, colocando em risco a vida das mulheres.

Na calçada

O aborto é terceira causa de morte materna no Estado de São Paulo, o que mostra que, a despeito das restrições legais e da pressão das igrejas, as mulheres continuam recorrendo a essa prática para contornar o problema da gravidez indesejada. É evidente que a redução do abortamento clandestino, e das conseqüentes mortes a ele associadas, não será conseguida através de proibições legais: é necessário, além da disseminação de informações, uma política eficiente de acesso irrestrito aos métodos anticoncepcionais para que a gravidez indesejada seja evitada e o recurso ao abortamento torne-se restrito apenas àqueles casos decorrentes da esperada falha dos métodos. Neste aspecto deve-se reconhecer a sensibilidade demonstrada por muitos jornalistas ao promover recentemente a divulgação de informações consistentes para o debate e a formação de opinião pública favorável às mudanças legais que se impõem nesse âmbito no Brasil.

Para concluir, vale retomar o debate com a mídia sobre mortalidade materna: afinal, como esquecer casos recentes, como o que ocorreu num hospital público de São Paulo, onde por absoluta falta de qualidade na assistência uma parturiente deu a luz na calçada defronte ao hospital. Não houve morte materna nem infantil, mas os fatores determinantes neste caso são os mesmos relacionados à mortalidade materna e infantil. A mídia destacou apenas a irresponsabilidade e inépcia profissional da médica. Foi perdido mais um gancho que poderia conduzir o olhar para o fenômeno da qualidade da assistência ao processo reprodutivo e da mortalidade materna como uma abrangente questão de saúde, ao invés de buscar apenas o inusitado, que pode render uma boa manchete. Como a queda de mais um avião.

(*) CCR: http://www.ccr.org.br

 

Enézio E. de Almeida Filho (*)

 

“Os biólogos devem ser encorajados a pensar sobre as fraquezas e extrapolações que os teóricos sugerem ou apresentam como verdades estabelecidas. O engano é… inconsciente, mas nem sempre… algumas pessoas devido ao seu sectarismo ignoram a realidade de propósito e se recusam admitir as inadequações e falsidade de suas crenças.” Pierre-Paul Grassé, in Evolution of Living Organism.

“Eu acredito que um dia o mito darwiniano será classificado como o maior engano na história da ciência. Quando isso acontecer, muitas pessoas farão a pergunta: Como isso aconteceu?” Soren Lovtrup, in Darwinism: The Refutation of a Myth.

A cruzada dos criacionistas contra Darwin e o evolucionismo, do professor Orlando Tambosi [veja remissão abaixo], foi historicamente atualizado por conveniência ideológica. O artigo “Desnudando Darwin: Ciência ou Ideologia? ou A relação incestuosa da mídia brasileira com a Nomenklatura científica” [veja remissão], salientou que a Academia não debate as dificuldades neodarwinistas e a mídia brasileira as omite dos leitores. Uma reação típica da Nomenklatura científica refuta Tambosi. Considerar o lado religioso não contribuiria para o debate. O diálogo não é entre surdos: Criacionistas x Darwinistas. A questão aqui é: como se faz jornalismo científico. A evolução é questionada por “evolucionistas agnósticos”. O artigo não causou surpresa. É a norma da Nomenklatura: “Na falta de argumentos científicos, refutem ad-hominem…!” A propósito, Nomenklatura é um termo emprestado de Milovan Djilas (1911-1995), líder comunista dissidente e escritor, nascido em Polja, Montenegro. Suas críticas ao Partido Comunista, em 1954, levaram à sua expulsão e prisão entre 1956 e 1966. O que Djilas contestou foram dogmas ideológicos de uma classe dominante. É nesse sentido que empregamos o termo.

Então por que o que é rejeitado intramuros não aparece na mídia? “O neodarwinismo [é] uma ortodoxia estabelecida, qualquer crítica …. é considerada como pouco menos do que lèse majesté.” C. H. Waddington, in Nature n? 218, p. 527.

Em “Uma reação típica da Nomenklatura científica” há uma pequena bibliografia sobre os evolucionistas agnósticos. Darwin se mostrou aberto para o diálogo e debate sérios. Contudo, Darwin engavetou a teoria por mais de 20 anos. Não por medo de chocar religiosos. Darwin era agnóstico. Boa ocasião para chocá-los. Darwin escondeu sua descoberta científica por temer ser desmascarado como plagiário da obra de Edward Blyth. Compilador de dados organizado como foi Darwin, é muito suspeito haver omitido Blyth. Logo Blyth, naturalista como ele.

A teoria da evolução não demonstra nada. Infere: o ser humano é um animal entre outros, teria evoluído de formas simples através do tempo, pelo acaso. O tempo é uma dificuldade capital à teoria da evolução: 1 seguido de 40.000 zeros. “O suficiente para enterrar Darwin e toda a teoria da evolução”, Sir Fred Hoyle. Mas “os cientistas freqüentemente…suprimem idéias com as quais eles discordam. Uma conspiração de silêncio é a arma mais eficaz da comunidade científica…a melhor resposta para um ataque é… nenhuma resposta. Somente se os ataques começarem a atrair convertidos podem os cientistas ser agitados a se defenderem”. Hull, D. L., The Metaphysics of Evolution, p. 276. A “cruzada”, quem diria, está nos porões da Nomenklatura e em muitas editorias de ciência da mídia…

Quanto aos genes humanos serem 99% idênticos aos dos chimpanzés, o 1% de diferença faz uma grande diferença. O jornalista científico precisa ser cético aqui ? é a busca do elo perdido. Mary Leakey, paleoantropóloga, disse: “Todas aquelas árvores da vida com os seus galhos de nossos ancestrais, é tudo um punhado de nonsense [bobagem]” (entrevista à Associated Press, 10/12/96). A semelhança de DNA não esclarece nada COMO a evolução ocorreu. O que é isso em termos evolutivos? O Projeto Genoma tenta desvendar o mysterium tremendum da mensagem biótica.

Se o tema é Darwin/teoria evolucionista, a Nomenklatura e a mídia se recusam “dissecar o defunto e o conto de fadas para adultos”. Alguns evolucionistas dissecaram Darwin. Origem das Espécies não é uma obra assim tão “explosiva”. Ernst Mayr afirmou que o pensamento na obra de Darwin era “desnorteado”, “irremediavelmente confuso” e que demonstrava “uma falta de compreensão da natureza das espécies” (Animal Species and Evolution, págs.13, 484 e 12). Mayr é basicamente quem ordena o smorgasbord evolutivo. (Smorgasbord é a palavra sueca que significa variedade de comidas para serem escolhidas na mesa.) Em 24 de novembro a obra de Darwin fará 140 anos. O que leremos? Encômios ou um definitivo epitáfio???

O ser humano e o universo ? por um processo cego, sem finalidade, através de causas e leis naturais? São apenas inferências de inobserváveis explicando efeitos observáveis. O Big Bang é um exemplo. Implica começo, um Planejador Inteligente se faz necessário… Suas características metafísicas não diferem dos mitos religiosos. Teorias ad hoc criadas para manter/salvar o paradigma diferem do Deus-das-lacunas dos religiosos? Hesitam reconhecer o design inteligente, não por convencimento empírico, mas ideológico. Reconhecer seria afirmar: causas e leis naturais não têm capacidade criativa para a origem e evolução da vida na terra. Situação Catch 22. Rumor de anjos na epistemologia…

A reação às teses de Darwin foi imediata. Primeiro, os cientistas. Em 1860 é que suas idéias ganharam audiência da Academia. Cientistas relutaram e relutam aceitá-las hoje, por razões científicas: “alguns críticos se voltaram contra Darwin por razões religiosas, mas eles eram uma minoria; a maioria dos seus oponentes…discutiu numa base …científica” (Lovtrup, Soren, in Darwinism: The Refutation of a Myth, p. 275). O mais célebre dos críticos foi St. George Mivart ? On the Genesis of Species. Vide o capítulo “The Incompetency of Natural Selection to account for the Incipient Stages of Useful Structures”. Por que Mivart não é citado nos textos sobre a contribuição de Darwin à ciência? A Nomenklatura prefere omitir. Nada diferindo dos métodos stalinistas na remoção de personagens incômodos da História da Revolução Comunista de 1917… A mídia vai lidar com esses aspectos históricos da ciência?

A teoria da evolução é apresentada pela mídia como FATO quando há divergências entre os maiores especialistas no assunto se a evolução macromolecular ocorreu… Os leitores tendem a aceitar como DOGMAS as afirmações de alguns cientistas/jornalistas científicos. As “persistentes e apaixonadas controvérsias” existem porque as teorias não conseguem responder às anomalias da mensagem biótica. Stephen Jay Gould declarou em 1980 que a teoria sintética “estava … morta, apesar de sua persistência como ortodoxia nos livros-textos” (“Is a New Theory of Evolution Emerging?”, Paleobiology 6:119-130, 1980). Em ciência e em jornalismo científico, o que fazer quando as evidências são contrárias? Suprimir as descobertas? “Nada é tão acientífico quanto a mentalidade inquisitorial [de cientistas e jornalistas científicos] que serviu, como imaginou, a verdade, procurando suprimir ou ocultar a dissensão, em vez de lidar com isso” (Davis, P. William e Salomon, E. Pearl in The World of Biology, p. 414).

As dificuldades estão em todo o processo evolutivo. Evolução significa “mudança no tempo”. Os proponentes do design inteligente não discordam desse FATO. O segundo, descendência com modificação ? organismos vivos seriam “relacionados por um ancestral comum”. Há somente evidências circunstanciais. Não há como verificar a evolução nos registros fósseis. Inferência não é FATO. O último tem a ver com o mecanismo de mudança biológica ? variação randômica e seleção natural (a tese do relojoeiro cego): macroevolução. Aqui a ciência especula. Segundo Darwin, mesmo que houvessem evidências favoráveis à teoria da evolução nesse terceiro significado, não existir esse mecanismo tornaria a conclusão insatisfatória (p. 36) Jornalistas científicos devem ouvir atentamente as sábias palavras de Darwin. Já leram alguma vez Darwin? Não se sintam envergonhados. Muitos biólogos nunca leram Darwin…

O registro fóssil é importante no estabelecimento da teoria da evolução como FATO. Darwin sabia e expressou preocupação com essas lacunas ? “… se minha teoria for verdadeira… por que não encontramos registros desse imenso período primitivo…podendo ser usado como argumento de peso contra as idéias que aqui defendemos…As pessoas que consideram como relativamente perfeitos os registros geológicos naturais… sem dúvida rejeitarão completamente minha teoria” (págs. 236-238). Darwin reconheceu uma evidência empírica devastadora e capital [FATO] contra sua teoria [HIPÓTESE ]. São o tendão de Aquiles da teoria da evolução. Darwin abriu a porta para a investigação da teoria. Não fazê-lo, é obscurantismo e desonestidade intelectual-jornalística. Não há ávida exploração das lacunas pelos oponentes. São interpretadas à luz da teoria da evolução. O apelo feito por Darwin aos mortos [fósseis] não é respondido pelos vivos [paleontólogos]… Por evolucionistas! Nenhum quinta-coluna! Nenhum religioso! Darwin foi pesado e encontrado em falta pelo rigor do método científico. Nosso jornalismo científico também…Se não clamarmos, as pedras (fósseis) clamarão…

São muitas as dificuldades neodarwinismo. Muitos, os cientistas questionando sua validade como paradigma científico. Leitores poderão encontrar esses questionamentos, em inglês, no site <http://www.arn.org>, seção Quotes. Todas as Quotes.

Popper, Kuhn e Feyerabend, continuam úteis para se fazer ciência (Horgan, John. O fim da ciência, p. 67). Popper reviu sua posição, mas os evolucionistas não acreditaram nela (Ruse, Michael, in Darwinism Defendend: A Guide to the Evolution Controversies, p. 133.), dizendo que os darwinistas teorizam tautologicamente ? “organismos que deixam mais descendência, deixam mais descendência”, in Pocket Popper, p. 242, 1983. Ora, tautologia não explica nada em ciência, por isso a desconfiança na sinceridade da revisão de Popper…Um exemplo de cristão novo evolucionista? Que tal o jornalismo científico investigar?

Quanto a Kuhn ? a mudança paradigmática decorre quando um modelo científico não consegue mais responder às anomalias que a teoria não previu. Kuhn não especificou o tempo para mudanças paradigmáticas. Sir Fred Hoyle salienta que “quando um padrão de fatos se tornam dispostos contra uma teoria, a experiência demonstra que a teoria raramente se recupera”. Kuhn afirma: um paradigma instável omite suas anomalias (?). Hoyle diz que não se recupera! E o jornalismo científico brasileiro o que diz? Nihil!

E Feyerabend? Sua anarquia epistemológica parece com o espírito do professor John Scopes, julgado por ensinar evolução, disse: “Eu acredito em ensinar todo aspecto de cada problema ou teoria” (citado por Davis, P. e Solomon, E., in The World of Biology, p. 610). Liberdade para ensinar/divulgar só a teoria sintética vai de encontro com a liberalidade deste evolucionista. A Nomenklatura e as editorias de ciência favorecem o veicular de apenas uma visão…Diferente da atitude fundamentalista dos religiosos que condenaram Scopes? Não! Os detalhes sobre os criacionistas procedem, mas desviam a atenção para o que, cientificamente, nos interessa: A teoria da evolução é um FATO ou apenas uma INFERÊNCIA? Seria capaz de passar no rigoroso teste do método científico? Testável no mundo empírico? Falsificável? Os jornalistas científicos deveriam questioná-la. Perguntar não ofende…

A teoria da evolução demanda muita FÉ. Não há modelo sobre a origem da vida que funcione. Nem a seleção natural e as mutações randômicas escapam de suas dificuldades na ilusão evolucionista : “… a teoria que somente ela sozinha pode explicar a mudança evolucionária é ou falseável, ou é, além disso, não falsificável, daí uma teoria metafísica. Eu acho que ninguém negará que é uma grande calamidade se um ramo inteiro de ciência se tornar adicto a uma teoria falsa. Mas foi isso que aconteceu em Biologia…” (Lovtrup, Soren. Darwinism: The Refutation of a Myth, p. 422).

A biologia evolucionária recebeu um categórico não uns quarenta anos atrás numa conferência em Chicago: “A origem de nenhuma inovação de ampla significância evolucionária é sabida…. Nenhuma tem sido observada, e nós não temos nenhuma idéia se alguma possa estar em progresso. Não há um bom registro fóssil de nenhuma” (Wesson, R., in Beyond Natural Selection, p. 45 e 206). A proposição “não havia gente para observar” [no passado] não é um recurso utilizado tão-somente por oponentes. É usado também por evolucionistas…só que baseada nas pesquisas atuais [no presente]…

Foi Darwin quem propôs o desafio à sua teoria ? “Se se pudesse demonstrar a existência de algum órgão complexo que não pudesse de maneira alguma ser formado através de modificações ligeiras, sucessivas e numerosas, minha teoria ruiria inteiramente por terra” (Darwin, C. R., Origem das Espécies, p.161). Diante de uma multidão de testemunhas mortas [fósseis] que teimam em dizer NÃO às conjecturas de Darwin, sua teoria ruiu inteiramente por terra…Ironia do destino: ruiu pela terra [registro fóssil]!

Lamentável a ciência ser defendida e definida em tribunal. A definição do juiz Overton que ciência é “…o que é aceito pela comunidade científica” é dúbia na sua interpretação. A comunidade científica da época de Galileu aceitava o geocentrismo, a do tempo de Pasteur aceitava a abiogênese. O que a comunidade científica aceita tem que ter o respaldo empírico dos fatos naturais. A teoria evolucionista parece não tê-los. O juiz definiu o termo com imprecisão…Nenhum proponente do design inteligente discorda da definição do juiz. Seus três últimos pontos colocam uma pesada lápide sobre as teorias evolucionistas: são testáveis no mundo empírico?; por que suas conclusões não são apresentadas nos livros-textos de Biologia e na mídia de forma não provisória sobre o tema?; e a teoria da evolução é falsificável? O juiz Overton sentenciou: a teoria da evolução também não é considerada ciência. Catatau, ninguém percebeu isso???

O discurso demarcatório é aplicado só para quem questiona o valor de ciência do modelo evolucionista. Duplo padrão: rigor para os oponentes. Testabilidade para o neodarwinismo, nem pensar. É heresia científica…O critério de demarcação é controverso e problemático. Tambosi, filósofo, deve saber disso, pois citou nominalmente o livro editado por Michael Ruse, But is it Science? O filósofo de ciência Larry Laudan, lidou com o tema em The Demise of the Demarcation Problem. Sugeriu que termos como ?pseudo-ciência? fossem abandonados. Emotivos demais. A verdadeira questão não é mais se uma teoria é científica, mas se ela é verdadeira ou justificada pela evidência. O neodarwinismo como teoria científica, é justificada pelas evidências? Parece que não…

Embora a genética molecular nos tenha revelado a natureza química do gene, os processos evolucionários em nível molecular não são ?vistos?. Até hoje a teoria da evolução não foi testada pela evidência molecular. O “relógio molecular” continua sendo teoria controversa dentro do corpus evolucionário. A analogia do citocromo c feita por Dawkins nos dá a idéia que a subida do rio descrita no livro O rio que saía do Éden foi feita sem remos…Dawkins é mais um contador de estórias do que cientista. Reducionista demais. O DNA não é tudo em Biologia.

A reação de não se discutir o design inteligente como inferência científica em biologia é comparável às trevas medievais… Michael Behe nem precisa responder a Jerry Coyne: as microevoluções acumuladas não redundam em macroevoluções. Os proponentes do “Design Inteligente” ? vide <http://www.arn.org> e <http://www/discovery.org> para biografia e textos dos cientistas ?, inclusive este autor, nunca pretendemos explicar o(s) mecanismo(s) pelos quais surgiram o universo, a terra, os seres vivos, ou a humanidade. Criticamos a teoria da evolução, destacando os aspectos teóricos e não testáveis ou em conflito com os dados empíricos. Nenhum de nós recusa a definição de scientia qua scientia. Seguindo-a, a inferência que se dispõe é que os processos mecânicos são insuficientes para explicar a ordem e complexidade da vida e do cosmo. Quantas evidências contrárias a uma teoria são necessárias para uma mudança paradigmática? Uma só bastaria…

Infeliz atitude de Darwin, no final do capítulo XIII de Origem das Espécies, p. 332, se sua teoria não fosse empiricamente verificada: “Eu até poderia sem hesitação adotar esta idéia [evolução gradualista] estribado tão-somente nisto, e ainda que não encontrasse outros fatos e argumentos que lhe dessem sustentação e respaldo”. Difere da Nomenklatura atual? Só os religiosos é que são pessoas que não se rendem às evidências empíricas… Há necessidade de uma revisão profunda nas teorias da evolução. Como são ensinadas e veiculadas na mídia. Não se pode mais tampar o sol [das evidências naturais contrárias] com uma peneira [de teorias ad-hoc insustentáveis].

James A. Shapiro entendeu o questionamento à teoria da evolução: “O presente debate sobre o darwinismo será mais produtivo se acontecer no reconhecimento do fato que os avanços científicos não são feitos pela canonização de nossos predecessores [nem teorias], mas por criar as oportunidades intelectuais e técnicas para nossos sucessores” <[http://bostonreview.mit.edu/archives.html>. Carta intitulada “A Third Way”. A cruzada é da Scientia qua scientia ? Wissenschaft! Não considerar as evidências da mensagem biótica contrárias à teoria sintética, revela posicionamento ideológico que pode muito bem ser nomeado de fé cega no relojoeiro cego e inconsciente…

(*) Bacharel em Letras, mestre em Artes (como Darwin…) e Estudos Bíblicos, pesquisador em Educação em Ciências.

 

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