Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cláudia Croitor e Leandro Fortino

MULHERES APAIXONADAS

“Final feliz pra quê?”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“Helena vai ficar com Téo ou com César? Rafaela e Clara vão viver felizes e longe do preconceito? O ciúme de Heloísa tem cura? Raquel quer se ver livre de Marcos ou gosta mesmo de apanhar?

O que vai acontecer nas três semanas que antecedem o final da novela das oito da Globo, ?Mulheres Apaixonadas?, é um segredo que só mesmo o autor, Manoel Carlos, sabe. E ele, claro, não conta para ninguém. Na verdade, o seu desfecho pouco importa.

Impressionante mesmo é ver o grau de envolvimento que o público tem com o enredo dessa novela. Parece que os personagens são amigos ou parentes de quem acompanha todos os dias os dramas daquela pequena fatia da sociedade carioca.

Algumas coisas, porém, já estão definidas. A novela das oito da Globo é campeã de repercussão, com seus personagens polêmicos, e o seu jeito de mostrar ?a vida como ela é? parece ter contaminado a audiência média de 51 pontos do Ibope, em agosto, equivalente a quase 2 milhões e meio de domicílios na Grande São Paulo.

?Mulheres Apaixonadas? pode ainda terminar como a maior audiência do horário dos últimos quatro anos, superando ?O Clone?, que teve 47 pontos no Ibope.

Além de ser campeã de repercussão, ?Mulheres Apaixonadas? é ainda o maior sucesso comercial da década. Criou fila de anunciantes esperando por uma vaga nos seus intervalos. A produção é ainda recordista de merchandising.

Apesar de ter poucas surpresas a serem reveladas, muita coisa ainda precisa ser resolvida no que pode ser a última novela do autor.

Helena, a protagonista de todas as novelas dele, dessa vez não foi das que mais chamou a atenção. Vivida por Christiane Torloni, decidiu se separar do marido T&eacueacute;o (Tony Ramos) no início da trama e deve acabar a história com o mulherengo César (José Mayer), seu grande amor da juventude, a quem largou justamente por Téo.

Mas o que parece chamar mais a atenção entre as 14 mulheres famosas ouvidas pela Folha sobre o final de ?Mulheres Apaixonadas? é a história de Raquel (Helena Ranaldi), professora que apanha do marido e tem caso com um aluno.

Marcos (Dan Stulbach), o marido espancador, deve morrer, mas ainda não se sabe quem será o assassino. E Raquel pode ou não levar para frente seu romance com o jovem Fred (Pedro Furtado).

?Acho que a Raquel deveria terminar a novela no divã do psicanalista, para saber por que gosta de apanhar?, palpita a jornalista Mônica Waldvogel, apresentadora do programa ?Saia Justa?, no canal pago GNT.

Há ainda a história da socialite Estela (Lavínia Vlasak), que se apaixona pelo padre Pedro (Nicola Siri), mas o desfecho o autor já revelou faz tempo: o padre larga a batina por amor. Junto também deve ficar o casal homossexual vivido por Aline Moraes (Clara) e Paula Picarelli (Rafaela).

Resta saber se a insuportável Paulinha (Ana Roberta Gualda) vai virar uma boa menina, se a professora Santana (Vera Holtz) vai conseguir parar de beber, se a enlouquecida Heloísa (Giulia Gam) vai conseguir segurar o marido (Marcelo Anthony)… ?Mulheres Apaixonadas? termina em 10 de outubro.

O final de ?Mulheres apaixonadas? segundo…

CARLA PERNAMBUCO

chef

?Nos dias de hoje, não existe final feliz, pois não sabemos como a vida dos personagens será depois da novela.?

RITA LEE

cantora

?O Dr. César vai abrir uma clínica com o Dr. Albieri (personagem da novela ?O Clone?) e se especializa em clonar Rodrigos Santoros e Camilas Pitangas.?

VERA LOYOLA

socialite

?Não é o que eu queria para mim, mas se Clara e Rafaela se amam, elas têm que ficar juntas.?

PRETA GIL

cantora

?O César tem de ficar com Laura, a louca que trabalha com ele no hospital. A Paulinha tem de ficar com o Rodrigo; e as lésbicas têm de ficar juntas e felizes.?

LEILA

jogadora de vôlei

?O Téo é apaixonado, dedicado. É tão raro existir um homem assim. Ele e a Helena ficarem juntos seria uma forma de mostrar que um homem que admite seus erros merece uma segunda chance.?

“Como é bom acreditar em novelas…”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“É incrível como a gente ainda acredita em novela! Outro dia, por motivos de força maior, fui parar na passeata pela paz no Rio de Janeiro (promovida com ?apoio? da TV Globo e com presença em massa do elenco de ?Mulheres?). O povo gritava quando via os artistas na rua. ?Helena!?. ?Raquel!?. Os personagens existiam de verdade. E com a gente, chiques, modernos, elitistas, formadores (ou deformadores) de opinião é igualzinho.

Entramos na trama e esquecemos nossos dramas. Em que eu vou pensar antes de dormir? Melhor pensar em com quem a Salete vai ficar para o resto da vida do que com quem eu vou ficar para o resto da vida. Muito mais fácil. Não corro o risco de ter insônia.

Então, vamos brincar que essa novela é de verdade. O que seria muito louco, porque no mundo real, infelizmente, duas garotas que namoram ainda não seriam aceitas numa boa na escola. E um homem jamais daria uma chance para uma mulher que deu uma facada em sua mão. Até mulher que grita um pouco ganha fama de barraqueira no mundo-cão em que vivemos.

Desde quando o Rodrigo, um menino bonito, legal e sensível iria ficar com uma chata como a Paulinha? Na vida de verdade, esse cara talvez nem existisse. Ou já teria namorada porque, como diz uma amiga minha, cão de raça sempre tem dono. E a torcida espera que eles acabem juntos. E que ela deixe de ser má e se transforme em uma pessoa de bom coração. Como se alguém mudasse assim. Como se príncipe encantado existisse, de fato.

Mas a grande maluquice de ?Mulheres? é que quase todas as moças são loucas. Até as boazinhas. Muitas das entrevistadas pela Folha querem que a professora Helena seja feliz com sua cara de sonsa. Espera aí! Mesmo a boazinha vem tentando roubar o namorado da enteada. Na vida de verdade, ela seria considerada uma vaca. E ainda tem quem ache que ela deveria criar o chato Luquinhas e a fofa Salete. Será que depois ela vai roubar o namorado da Salete?

Até o Téo, que mentiu descaradamente para a mulher e seria tachado de canalha por todas as amigas da envolvida -a sonsa Helena- é absolvido por algumas. Tony Ramos é um homem sensível, maduro, bom partido. Que eu não desejaria para minha pior inimiga. Além de canalha, é um ?loser? que vive de herança.

E namorar homem mais velho, não pode. Cesar, o canalhão, pode namorar a Luciana, com idade para ser sua filha, que ninguém fala nada. A Raquel com o Fred… algumas entrevistadas acham um absurdo. O mesmo vale para a sábia Lorena que, para algumas, deveria arrumar um homem mais velho. Por que? Homem pode namorar mulher mais nova e mulher não? E é surpreendente é ver a professora que apanha de raquete sendo condenada como uma das culpadas por apanhar.

É, melhor pensar na novela do que no mundo de verdade. Ele assusta mais do que o homem da raquete!”

“Usina de polêmicas”, copyright Época, 24/09/03

Realidade e ficção se misturaram na passeata pelo desarmamento, no Rio

Primeira cena do capítulo de estréia de Mulheres Apaixonadas, em 17 de fevereiro deste ano: Helena (Christiane Torloni), a protagonista, desabafa com as irmãs: seu casamento não era ruim, mas estava morno. Ela queria se apaixonar novamente. ?De preferência pelo homem errado, porque esses parecem ser melhores que os certinhos, bem-comportados.? A derrocada do príncipe encantado em horário nobre era apenas o abre-alas para um verdadeiro desfile de questões polêmicas, discussões sobre comportamento social e tabus. Em pouco mais de sete meses de novela, temas como homossexualismo feminino, ciúme patológico, câncer de mama, violência doméstica contra a mulher, discriminação de idosos, alcoolismo, virgindade, aborto, amor entre primos, pais que deixam os filhos dormir com os namorados em casa e até a sedução de um padre estiveram presentes nos capítulos da trama de Manoel Carlos – um autor que sempre se esmerou em trazer temas do cotidiano para suas novelas, mas que nunca havia acumulado tantos ao mesmo tempo.

Foi assim que os atores de Mulheres Apaixonadas, na pele de seus personagens, foram a atração da passeata contra o desarmamento, que reuniu, no domingo 14, quase 60 mil pessoas na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. ?O ato foi a coroação de todo o meu esforço para levantar temas que acredito ser relevantes para o Brasil?, diz Manoel Carlos. Já no primeiro mês da novela, o autor trocou uma cena em cima da hora da gravação para incluir um diálogo que fazia referência a um ato de violência no Rio de Janeiro: ?Incendiaram mais de 100 ônibus e jogaram bombas aqui do lado, na Avenida Vieira Souto!?, dizia Lorena, a personagem de Suzana Vieira, apenas 24 horas depois de os fatos terem ocorrido.

Maria Teresa Monteiro, diretora da Retrato Consultoria, que promove discussões de grupo sobre novelas, afirma que as mulheres, em especial, estão maravilhadas com os temas abordados nas novelas. ?Mas os homens também ficaram extremamente mobilizados com as situações de fragilidade feminina, como no caso da personagem Heloísa (Giulia Gam), que nutre um sentimento doentio pelo marido?, diz. ?Pela novela, eles encontraram uma espécie de atalho para conversar com suas esposas e namoradas.? De acordo com as pesquisas da Retrato, a grande maioria dos telespectadores acha que os temas são condizentes com a realidade e merecem ser discutidos abertamente. ?Até a Silvia (Natália do Valle), uma mulher de meia-idade, classe média alta, que trai o marido e busca satisfação sexual com um taxista, é tratada sem maiores preconceitos?, diz Maria Teresa. O mesmo se dá em relação a romances entre mulheres mais velhas com rapazes – caso de Suzana Vieira com Expedito (Rafael Calomeni) e da professora Raquel (Helena Ranaldi) com o aluno Fred (Pedro Furtado).

Um dos temas mais delicados de Mulheres Apaixonadas, a relação homossexual entre duas estudantes – Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) – não foi recebida com antipatia pelo telespectador, informa a Retrato , embora a maioria dos participantes dos grupos se recuse a falar profundamente sobre o tema. A neutralidade já representa um avanço. Em Torre de Babel (1998), de Silvio de Abreu, duas lésbicas, vividas por Silvia Pfeiffer e Christiane Torloni, sofreram tamanha rejeição do público que foram eliminadas precocemente. Uma pesquisa da Qualibest mostra que 18% dos entrevistados consideram positiva a exposição do tema do homossexualismo. A mesma pesquisa revela, no entanto, que o telespectador considera mais relevantes debates sobre a professora alcoólatra (Santana, vivida por Vera Holtz) e o drama de Raquel, que apanha do marido e não o denuncia por medo de escândalo. Consultados sobre que assunto tirariam da trama, 35% responderam que o caso da socialite com o taxista é o menos relevante em termos de conscientização social.

Doutora em ciências da comunicação e coordenadora do Núcleo de Telenovelas da Universidade de São Paulo (USP), Maria de Lourdes Motter acredita que o grande número de temas polêmicos anula o impacto deles. ?Acaba sendo um ótimo expediente para atrair o telespectador, mas a verdade é que nenhum deles é aprofundado como deveria?, critica. Ela compara Mulheres Apaixonadas com O Clone, sua antecessora. ?Glória Perez (autora de O Clone) focou na questão das drogas e conseguiu mobilizar o país inteiro, criando discussões reais e fazendo com que muita gente tivesse coragem de admitir seu problema e procurar tratamento.? Mas, mesmo havendo um acúmulo de temas, algumas questões importantes levantadas por Manoel Carlos chegaram ao Congresso. Durante a exibição de Mulheres Apaixonadas, foi aprovado o Estatuto do Idoso e começou a tramitação da Lei do Desarmamento. Manoel Carlos acredita que o simples fato de colocar o tema na mídia já tem grande significado, mesmo que não haja tempo para desenvolvê-lo à altura na novela. ?Os temas foram tocados obviamente sem profundidade, mas com responsabilidade?, diz.

A demora na resolução de alguns impasses na novela irrita o telespectador. A polêmica sobre a bala perdida que matou a personagem Fernanda (Vanessa Gerbelli) foi tema recorrente na mídia por tanto tempo que extenuou o público. Nos grupos de discussão, a indecisão da Edwiges (Carolina Dieckmann) sobre manter ou não sua virgindade já é tratada com impaciência. Manoel Carlos parece já ter percebido.

Tanto que, em capítulo recente, o pr&oacutoacute;prio pai da personagem reclamou da indecisão da filha e a criticou por estar tratando mal seu par na trama, Claudio (Erik Marmo). ?O autor foi magistral, pôs a voz do povo na boca do personagem?, analisa Maria Teresa, da Retrato. Reclamando ou não, a três semanas do fim da novela, o espectador está de olho no desfecho de cada uma das polêmicas – novas não haverá, pois criatividade tem limites. Segundo as pesquisas mais recentes, de todos os aparelhos de televisão ligados no horário, 70% estão em Mulheres Apaixonadas.

Sucesso do visual romântico

Onde comprar os óculos esverdeados usados por Lavínia Vlasak, a Estela de Mulheres Apaixonadas, na cena em que ela se molha com a mangueira para seduzir o padre? Qual é a marca das batinhas românticas usadas por Carolina Dieckmann, a Edwiges? Mulheres Apaixonadas é o programa recordista de telefonemas e e-mails recebidos pela Central de Atendimento ao Telespectador (CAT), da Rede Globo. Ao todo, são 50 mil ligações e 35 mil mensagens por mês, com solicitações das mais variadas. De simples elogios a artistas a pedidos de endereço e nome de músicas, passando por informações sobre figurino e mobiliário.

?A equipe é treinada para ser ágil, mas muitas vezes há solicitações surpreendentes?, diz Mirian Clark, coordenadora do CAT. Neste mês, uma telespectadora quis saber a origem de um anel que havia sido usado por Christiane Torloni em apenas uma cena. Mas não era parte do figurino, e sim uma jóia particular, antiga, da própria atriz. Onde comprar um igual, hoje, era impossível precisar.”

“Domésticas entram na Justiça contra novela”, copyright Folha de S. Paulo, 22/09/03

“Mais uma polêmica em ?Mulheres Apaixonadas?. O Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Jundiaí e Região (São Paulo) entrou na Justiça contra a novela das oito da Globo na última sexta.

A ação cautelar, em julgamento, requer liminar para impedir a exibição de cena em que Zilda (Roberta Rodrigues), uma empregada doméstica, tem relação sexual com Carlinhos (Daniel Zettel), filho adolescente dos patrões.

Na novela, o garoto tenta perder a virgindade, e um de seus ?alvos? é a moça. No início, ela cortava as investidas do menino, mas agora dá corda. Para o sindicato, ?Mulheres? gera preconceito. ?Tem inserido na cabeça de adolescentes o desrespeito e insinuado que a categoria de empregadas domésticas, além de servir à família com seu trabalho e dedicação, deve servir aos desejos sexuais dos pequenos iniciantes, como se fossem meretrizes à espera do patrãozinho?, diz trecho da petição.

Informado pela Folha sobre a ação, o autor da novela, Manoel Carlos, disse: ?Isso é normal. Quando há na novela uma enfermeira e um sujeito se interessa, pronto, lá vem o sindicato. As secretárias, a mesma coisa. Também tivemos problemas com as massagistas. É como se essas profissionais não fossem capazes de provocar interesse em um homem, a não ser por suas qualidades profissionais. Ainda não sei se farei o Carlinhos transar com a Zilda, mas, se tiver, faço.?”