Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Como ficou o caso Folha X Mendonça?

HÁ POUCO MAIS DE UM MÊS, a Folha fez um escarcéu investigativo tentando provar que o ministro das Comunicações havia pernoitado num luxuoso hotel de Madri por conta da Telefónica de Espanha, uma das empresas que participaram da privatização do Sistema Telebrás.

O ministro desmentiu, ameaçou processar a Folha, a ombudsman do jornal cobrou: alguém errara e deveria dar mão à palmatória.

E não se falou mais no assunto. Com base em matérias publicadas pelo correspondente em Paris do Jornal da Tarde e informações nos dois lados pode-se concluir que a Folha errou – tinha a informação de que a reserva para o ministro fora efetivamente feita pela empresa espanhola mas achou que essa “evidência” era o bastante para concluir que a empresa também pagara a conta.

Resta saber por que a Folha não deu a mão à palmatória. Houve acordo com o ministro? É assim que deve comportar-se um jornal de prestígio, a consciência crítica da nação?

 

1) A EDIÇÃO LATINO-AMERICANA da revista Time de 9/11/98 publicou na capa um sensacional dossiê sobre as ligações do caudilho argentino Juan Perón e os nazistas. A matéria tem nove páginas de informações e fotografias, tudo baseado num livro recém-lançado Peron and the Germans, de Uki Goñi. É complementada por um estudo de Mark Falcoff, professor americano especializado em questões argentinas (1930-1945).

Além das revelações sobre as ligações do peronismo com o nazismo e a enxurrada de criminosos de guerra que se abrigaram na Argentina a matéria da Time trata do Brasil, que, desde 1941, fizera uma opção em sentido contrário e apoiava ostensivamente os Aliados.

As revelações da Time tiveram grande repercussão na Argentina. A imprensa tratou delas durante vários dias até o que a Casa Rosada anunciasse a constituição de uma Comissão Especial para levantar e publicar a documentação sobre o assunto.

A grande imprensa brasileira ignorou o assunto. A Folha tem ligações especiais com a revista americana e publica semanalmente uma Time tropicalizada. O assunto não chamou a atenção de ninguém.

O Economist de 7-13 de novembro publicou matéria de página inteira sobre os investimentos do “pastor” coreano-americano Sun Myuong Moon no Brasil (Mato Grosso do Sul). Trata-se de um área perto do Pantanal onde o investidor quer criar uma espécie de paraíso místico-turístico.

O pastor Moon é amigo do peito do ex-presidente George Bush (republicano) e sempre andou muito próximo das alas mais extremadas da direita americana. Ultimamente foi acusado por uma de suas ex-noras de tráfico de drogas e outros negócios escusos.

Nem uma palavra nos grandes jornais brasileiros sobre a chegada de Moon.

Em Tempo: dez dias depois da publicação da “Time”, o Estadão publicou materia de seu correspondente em Buenos Aires sobre a repercussão das revelações — sem citar a fonte (18/11, pg. A-18).

 

ESTÁ ARMADA UMA CONTROVÉRSIA no maravilhoso mundo das revistas americanas: a revista Time programou para 1/1/99 uma edição especial denominada “O Futuro da Medicina” que terá apenas um anunciante – a Pfizer. Além dessa edição especial, haverá um “ciclo” de outras, sob o mesmo tema e com o mesmo e único patrocinador.

Não é a primeira vez que a Time publica “suplementos especiais” patrocinados por um único anunciante. A concorrente, Newsweek, já fez o mesmo.

Só que agora a American Society of Magazine Editors (ASME) entrou no assunto. E o New York Times fez extensa matéria (16/11/98, seção “Business”) revelando as visitas que repórteres da Time fizeram aos escritórios da Pfizer

Seria interessante saber a opinião das entidades americanas sobre certos procedimentos comerciais da mídia brasileira. A começar por certos patrocínios da Copa do Mundo.