Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Compra reforça grupo do Le Figaro

L?EXPRESS VENDIDO

Leneide Duarte, de Paris

A mais antiga revista semanal de informação da França acaba de mudar de dono pela quinta vez. L?Express, fundado em 1953 por Jean-Jacques Servan-Schreiber e Françoise Giroud, foi vendido ao grupo Socpresse na sexta-feira (30/8) pelo grupo Vivendi Universal, conglomerado gigante com ramificações na comunicação e endividado até a alma. A Socpresse, que a partir de agora editará o L?Express, é um grupo poderoso (do qual Serge Dassault detém 30% do capital) que publica o jornal Le Figaro, além de outros diários regionais.

A notícia da venda tem impacto enorme na mídia francesa. Mesmo se ela não é mais a combativa revista dos anos 50 e 60, quando François Mauriac, Albert Camus e André Malraux eram colaboradores fixos, continua sendo a segunda opção dos franceses em matéria de news magazine. O conteúdo mudou, assim como a forma, adaptando-se ao que se pensa ser o gosto do leitor moderno. As matérias são menores, há mais fotos, a diagramação se adaptou à tendência de fazer revistas semanais com muita imagem e pouco texto. A esquerda prefere o Nouvel Observateur, mais à gauche e menos superficial.

A transação teria custado, segundo a imprensa, 300 milhões de euros, e inclui outros veículos, como a revista mensal L?Expansion e jornais gratuitos de classificados. Mas o que conta nesse pacote é L?Express, com tiragem de 429 mil exemplares semanais, contra os 508 mil vendidos por Le Nouvel Observateur.

Independência editorial

A venda das revistas teve imediata repercussão na Bolsa: o valor da ação da Vivendi Universal, que não pára de despencar há alguns meses, deixou de cair e teve ligeira alta, de 1,59%. Mas ainda não é a salvação da Vivendi, que precisa vender bens no valor de 10 bilhões de euros para sair do buraco que seu antigo presidente, Jean-Marie Messier, cavou com sua conhecida megalomania.

O grupo Vivendi Universal atua nas áreas de cinema (Universal Studio), televisão (Canal Plus), disco (Universal Music), telecomunicação, transportes, construção, edição (Larousse, Nathan, Robert, Bordas, Plon, Laffont), publicidade, energia, água e até mesmo coleta e tratamento de lixo. A empresa do grupo na internet, chamada Vizzavi, também foi vendida ao grupo britânico Vodaphone, que já detinha 50% do capital da Vizzavi.

O grupo de imprensa que detém agora os títulos L?Express e Le Figaro (primeiro diário mais vendido da França) passa a principal concorrente do outro gigante da mídia francesa, o grupo do Le Monde, que edita o mais prestigioso diário francês (mais vendido que o Figaro, considerando-se a venda no estrangeiro), além de Cahiers du Cinéma, Courrier International e Midi Libre, jornal que circula no Sul do país. O grupo de imprensa Le Monde, que tem também participação no capital da revista Le Nouvel Observateur, está em negociação com o grupo católico Publications de la Vie Catholique (PVC) para a compra das revistas Télérama e La Vie.

Uma das grandes diferenças na venda de jornais e revistas na França em relação a outros países é a influência da redação. O presidente e diretor do L?Express, Denis Jeambar, preserva o controle da redação, apesar da mudança de proprietário. E a sociedade de jornalistas que integra a redação da revista (120 profissionais) pediu garantias de total independência da redação quanto à gerência econômica do empreendimento. Em 1997, quando Jean-Marie Messier pensou em vender L?Express, a redação manifestou-se contra os pretendentes de então ? o jornal Le Monde e o milionário Serge Dassault (filho do falecido construtor de aviões Marcel Dassault).

Como proprietário de 30% do capital da Socpresse desde janeiro deste ano, Serge Dassault volta a ligar sua história pessoal ao L?Express, cujos jornalistas esperam que ele mantenha a redação nas mãos dos profissionais que a dirigem atualmente. Oficialmente, as redações das revistas vendidas manterão total independência editorial. Uma reunião da sociedade dos jornalistas do L?Express estava prevista para segunda-feira, 2/9, para discutir o futuro da redação.