Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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ELITE PARLAMENTAR

A elite parlamentar do pós-Constituinte ? Atores e práticas, de Débora Messenberg, Editora Brasiliense, São Paulo, 2002

Não é sobre jornalismo nem é de jornalista. Mas A elite parlamentar do pós-Constituinte ? Atores e práticas, livro oriundo de uma tese de dissertação em Sociologia, em princípio deve interessar aos escolhidos que trabalham nas editorias de Política dos veículos de comunicação. Não só analisa as relações de poder e de representatividade no Parlamento ? quem de fato exerce influência decisiva no desenrolar das ações do Poder Legislativo? ?, como desvenda o perfil, as práticas políticas e as representações do grupo de pessoas que compuseram a elite do Parlamento brasileiro entre 1989 e 1994.

Estimula, também, a necessidade de mais e mais análises sobre a cultura política brasileira e a conformação das lideranças nacionais. As entrevistas concedidas à autora por estes protagonistas do cenário nacional são atuais e polêmicas. Alguns trechos:


** "Eu nunca lutei muito na vida para as coisas. (…) Não estou dizendo como uma coisa boa, não. Eu nunca lutei muito para obter coisas. E na carreira intelectual também. Quer dizer, eu fui dando saltos, fui para cá, fui para lá, sem nunca realmente ter me empenhado. A coisa veio meio que um pouco de graça, o que é ruim. Eu poderia ter sido mais brigador, mais treinado para a briga." (Fernando Henrique Cardoso)

** "O paulista é o mais cosmopolita de todos os políticos brasileiros. É o único que não pensa só em São Paulo, porque os outros só pensam em seus estados." (Delfim Netto)

** "O povo não gosta muito dessa mudança freqüente de partido (…) Mas acho que isso acontece em função do sistema eleitoral. O sistema eleitoral brasileiro não induz à fidelidade, pelo contrário, não vincula o eleitor ao partido político e o eleito não se considera, portanto, compromissado com o partido." (Marco Maciel)

** "O Collor é uma pessoa muito vaidosa. Nunca passou pela cabeça dele que ele ia ser cassado. (…). Ele não movimentou uma palha para evitar a CPI do Impeachment. Ele caiu com a maior dignidade. Não fez nada, nada. Abriu as portas do Banco Central, Banco do Brasil, Procuradoria, Polícia Federal… Tudo o que podia ser feito foi feito. Ele não evitou. Se tivesse evitado, se tivesse botado a máquina dele para impedir, a CPI não teria funcionado." (Pedro Simon)

** "Eu hoje já ultrapassei com meu eleitorado todas essas situações. É quase que uma relação do patriarca em relação às pessoas. Então eu já não tenho aquela relação que tinha quando deputado, do aliciamento, do voto, de ter que estar atento a isso." (José Sarney)

** "Acho que houve uma vontade majoritária na casa de fazer o corte da própria carne. "(…) Eu acho que esses processos, eles não se completaram porque nós não fizemos a segunda parte, que era exatamente a reforma na maneira de fazer o Orçamento, a reforma da imunidade parlamentar, a reforma do sigilo bancário e fiscal. Quer dizer, a gente fez um trabalho no sentido de tirar o tumor, mas não fizemos a assepsia do ponto de vista preventivo." (José Genoíno, sobre a CPI do Orçamento)


Débora Messenberg é carioca, mas vive desde a infância em Brasília. Graduou-se em Ciências Sociais na Universidade de Brasília (UnB). e lá mesmo fez mestrado em 1990, com a dissertação Os ?novos? capitalistas do agro brasileiro ? Estudo sobre a burguesia rural industrializada de Rio Verde, trabalho laureado com o Prêmio Sober de 1991 na área de sociologia rural, concedido pela Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Em 2000, defendeu a tese de doutorado A elite parlamentar do pós-constituinte: atores e práticas, no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Atualmente leciona no Departamento de Sociologia da UnB e desenvolve pesquisa na área de sociologia política.

Mais informações: <brasilienseedit@uol.com.br>