Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Convocação aos estudantes


Concordo com a idéia de que se tem falado muito mais em educação nos veículos de comunicação devido ao aumento da demanda. Entretanto, questiono o verdadeiro valor destas noticias.

Em determinadas emissoras de TV ou jornais a educação acaba virando propaganda política ou forma de desmoralização de movimentos sociais (vide o caso da matéria do Jornal Nacional de julho de 1999, em que o projeto pedagógico do MST foi transformado em escola para formação de guerrilheiros e invasores).

Gostaria de sugerir que este tema fosse abordado pelo Observatório da Imprensa mais vezes, já que fazemos parte de uma rede pública de televisão e temos o compromisso público de defender a imagem da educação, seja reivindicando uma escola de qualidade para todos ou criticando o sistema.

Aqui no estado do Mato Grosso do Sul estamos tendo a oportunidade de colocar no ar uma vez por semana um programa de uma hora, interativo, dedicado a assuntos da educação, com notícia e debates a respeito do tema. Não tenho conhecimento de outros programas além do Salto para o Futuro. Gostaria, se fosse possível, de obter informações sobre outras iniciativas do gênero pelo Brasil e, se não fosse pedir demais, formas de intercambiar informações.

Claudia Girelli

 

Meu nome é Elder Tanaka, tenho 19 anos e sou calouro do curso de Letras da Universidade de São Paulo. Escrevo com o intuito de colocá-los a par da grave situação em que se encontra a faculdade.

Como todos já sabem, o ensino público superior em geral no Brasil vem sofrendo um processo de sucateamento por falta de recursos há um bom tempo. O grande problema é que muitas vezes tal fato não é amplamente divulgado como deveria. A discussão acaba sendo restrita, portanto, aos meios acadêmicos, não havendo desta maneira o envolvimento da opinião pública sobre o assunto, embora este seja de seu interesse também.

Os alunos da Letras-USP estão sofrendo o sucateamento do curso de forma cruel. Um dos piores problemas é o déficit de 85 professores, que deixaram o curso – as universidades particulares têm maiores salários – e não foram repostos nos últimos anos. Isso traz conseqüências graves:

  • Salas lotadas, com alunos assistindo às aulas até no corredor, e conseqüente diminuição da qualidade do curso;
  • Esvaziamento de algumas habilitações, já que não há professores para dar aulas;
  • Algumas matérias são ministradas por monitores (bolsistas), e não professores realmente contratados.

Outro problema surgiu com a implantação, no início deste ano, do Ciclo Básico na faculdade. Ou seja, os estudantes ingressam, através do vestibular, no curso de Letras-Básico, o qual consiste de quatro matérias semestrais. A média das notas obtidas pelo aluno durante o ano é que iria definir quem tem a prioridade de escolher a habilitação desejada (Português, Inglês, Francês, Alemão, Espanhol etc.) a partir do segundo ano.

Sim, iria, porque, sabe-se agora, nem mesmo a diretoria da faculdade tem a noção exata de como será realizado esse ranqueamento. Uma reunião da Congregação da faculdade decidiria hoje (21/10) as formas de seleção.

O problema é que o número de vagas de cada habilitação é limitado. E como há algumas habilitações com mais candidatos do que vagas oferecidas, acaba havendo uma disputa acirrada entre os calouros por notas altas. Uma situação muito parecida com a que enfrentamos no vestibular.

Esse processo, ao que parece, surgiu como uma solução à falta de professores, já que muitos dos alunos que não conseguirem as habilitações desejadas abandonarão o curso. Com a evasão, menor é a necessidade de a faculdade contratar professores e maior será o número de pessoas insatisfeitas cursando uma língua indesejada. Se isso continuar dessa maneira, o curso de Letras da USP irá simplesmente acabar.

Muito já foi feito pelos alunos contra a situação: passeatas até a reitoria, assembléias, pesquisas, reuniões com os professores e com o diretor da faculdade, professor Francis Aubert. Formou-se uma Comissão de Mobilização dos Alunos da Letras (da qual não faço parte) e a discussão em torno do ranqueamento e do ciclo básico tem durado o ano inteiro.

Embora uma das propostas tenha sido divulgar o problema para fora da faculdade, envolvendo jornais, revistas etc., não vi até agora nenhuma manifestação mais concreta por parte da Comissão quanto a isso. Portanto, tomo a iniciativa de pedir que os órgãos de imprensa tomem conhecimento do problema (que não é isolado, acontece com outros cursos da universidade também) e que, por favor, divulguem-no à sociedade, já que é o dinheiro público investido na educação que está em jogo. Entrem em contato com os membros da Comissão ou qualquer um dos calouros e alunos – as principais vítimas – a fim de esclarecer melhor o que anda acontecendo no curso. Tenho certeza de que a realidade com a qual irão se deparar não será nada parecida com a que sonham os vestibulandos ao disputar uma vaga na Universidade de São Paulo.

Elder Tanaka

 

Universidade Estácio de Sá: "Escola Superior de Terapias Naturais". Nivelar o ensino por baixo para "diminuir números sobre o analfabetismo", distribuir diplomas a semi-analfabetos, "ciências energizadas", Xuxas, Adriane Galisteus etc.: é o estilo "Quem-tem-Globo-tem-tudo" que dominou e inviabilizou o país.

Carlos Roberto M. Fauvel

 

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