Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Correio da Paraíba

CBN / CASO RUI MARTINS

"A CBN sem Rui Martins", copyright Correio da Paraíba, 28/02/02

"?Rui Martins é um jornalista sério e combativo. Seu ponto de vista é sempre equilibrado, as informações aprofundadas, e o tom de suas matérias jamais é dogmático. Acostumei a ligar a CBN para ouvi-lo. Agora, há um vazio no ar. Um jornalista com a credibilidade e o passado de Rui Martins tem que estar presente na rádio brasileira. Espero que a CBN entenda que algumas pessoas, como Rui, são imprescindíveis para um veículo de comunicação. Espero voltar a ouvi-lo, em breve, na CBN. Esta seria a melhor notícia que a rádio poderia nos dar?. Walter Salles

O caso Rui Martins

O Brasil inteiro acostumou-se a ouvir o seu melhor comentarista internacional pelas ondas do rádio: Rui Martins, pela CBN. Homem culto, profissional que sempre exercitou a acuidade no trato da informação para preservar sua independência, Rui firmou-se através de três décadas como um dos mais respeitados jornalistas brasileiros.

Anteontem, enviado de Genebra, na Suíça, onde mora há bastante tempo, recebi de Rui um curto e inesperado e-mail: ?Houve uma mudança da direção da CBN e acabo de ser demitido, por medida de economia. Um grande abraço?.

Rui foi educado em sua mensagem, pois considerou, profissionalmente, a demissão como uma questão interna da empresa pra qual trabalhava.

Mas, nos círculos internos da imprensa, começou a circular outra história que o próprio Rui não confirmou, mas não desmentiu. É a de que, por morar na Suíça, o jornalista vinha acompanhando de perto o caso das contas de Paulo Maluf e, periodicamente, fazia boletins na CBN sobre o caso, além de mandar matérias especiais para a Agência Estado. Teriam acontecido as famosas pressões ?por debaixo dos panos?, que terminaram pesando em sua demissão.

Essas pressões teriam iniciado desde um boletim especial sobre Maluf que Rui Martins levou ao ar em 28 de agosto do ano passado. Informou naquela data o jornalista, como verifiquei no arquivo d?Essas Coisas:

?A novidade no caso Paulo Maluf foi de ter partido de um banco, a filial do City Bank, em Genebra, na Suíça, a denúncia quanto a existência de sua conta secreta. Os bancos e agentes fiduciários suíços são agora obrigados a denunciar qualquer movimento estranho de seus clientes, sob pena de punição pela Comissão Federal Suíça de Bancos, como ocorreu no caso das contas bancárias do ex-presidente nigeriano Abacha. O City Bank informou o Controle Federal Anti-Lavagem de Capitais, da transferência de 200 milhões de dólares de Maluf para sua filial da Ilha de Jersey.

Quando a Polícia Federal Suíça pediu informações às autoridades financeiras brasileiras sobre o caso, indiretamente denunciou a existência da conta secreta de Maluf, pois não era conhecida. Se chegar a ser aberto o processo pelo promotor Jean-Louis Crochet, Maluf terá de responder em Genebra, sob pena de pedido de extradição, como ocorreu com Pavel Borodine?.

A partir da informação da possibilidade do pedido de extradição, dada ao Brasil em primeira mão pelo correspondente da CBN, foi que os grandes jornais começaram a investigar tudo sobre as contas do novamente candidato ao governo de São Paulo.

Com toda a responsabilidade profissional, desde agosto que Rui Martins vinha dando cobertura ao caso, incomodando figurões do PPB, do próprio Maluf ao ministro Pratini de Morais.

Rui tem recebido dezenas e dezenas de mensagens através da lista que há muito tem na Internet.

Respondendo a uma delas (da jornalista Maria Lydia), Rui falou, com grandeza: ?Esse filme de hoje já vi e vivi. A diferença é que hoje estou recebendo um apoio numeroso, que, imagino, servirá para alguma coisa. Como dizem os italianos (perdoe-me se houver erros na grafia), ?melior vivere un giorne leone qui centi anni pecora? (?é melhor viver um dia como leão do que cem como carneiro?).

Em tempo: como lembrou Gustavo Erlichman, Rui Martins foi o primeiro jornalista brasileiro a promover a interatividade do rádio com a Internet, através do envio de seus boletins diários a um grupo de ouvintes, promovendo debates, informações, etc.

Aliás, os boletins diários (e os especiais) de Rui sempre foram úteis também para a coluna ?Essas coisas?, para o acompanhamento correto que neste espaço se tenta fazer dos acontecimentos culturais. Recebi as melhores informações e interpretações do último festival de cinema de Locarno, em agosto do ano passado, por exemplo, justamente pela cobertura de Rui Martins. Não esqueço que ele definiu o festival como a vitória do cinema dos imigrantes. Mas, isso já é conversa pra outro dia."

 

OMBUDSMAN / FSP

"Ombudsman tem mandato renovado por mais um ano", copyright Folha de S. Paulo, 10/03/02

"Se tivesse de pregar uma frase nas paredes vazias de seu escritório, Bernardo Ajzenberg afixaria uma placa com a inscrição: ?Aproximar-se mais do leitor?.

Aos 43 anos, o jornalista paulistano acaba de ter seu mandato de ombudsman da Folha renovado por mais um ano e escolheu como meta de sua segunda temporada no cargo diminuir a distância com o leitorado do jornal.

Para alcançar o objetivo, Ajzenberg já está se programando a deixar olhos e ouvidos bem abertos para dois temas que estarão no centro da atenção do brasileiro este ano: eleições e Copa do Mundo.

?A campanha eleitoral, que já começou, promete uma guerra de dossiês. Esse é um desafio para o jornal. O leitor deve ser o fiscal do seu comportamento, e o ombudsman é o canal privilegiado para isso?, diz o jornalista.

Para a cobertura do principal campeonato de futebol do planeta, o desafio é um pouco diferente. Ajzenberg pretende atuar como pivô entre a Redação da Folha e um público específico: o iniciante.

?A Copa do Mundo é um momento em que muitos leitores jovens começam a ter contato com o jornal. É um momento decisivo. Quero criar mais aproximação com esse leitorado, inclusive buscando novas formas de ele dialogar com o jornal, por exemplo via internet, com bate-papos?, declara o ombudsman.

Futebol foi, por sinal, o tema da reportagem que rendeu mais reclamações durante o primeiro período como defensor dos interesses do leitor da Folha, que começou em março de 2001.

O último jogo do Campeonato Brasileiro do ano passado, entre o Atlético do Paraná e o São Caetano, de São Paulo, foi apresentado na capa do caderno Esportes, em 11 de dezembro, como ?a menor final do Brasil?.

Segundo Ajzenberg, muitos leitores, sobretudo paranaenses, alegaram que os textos teriam sido discriminatórios com relação ao futebol dos seus clubes.

As manifestações só não foram mais numerosas do que as resultantes da cobertura dos ataques terroristas de 11 de setembro.

Em um primeiro momento, ele diz ter recebido mais críticas de que a Folha teria uma atitude pró-Estados Unidos. Mais adiante, o leitorado reclamou que o jornal estaria defendendo excessivamente o Afeganistão. Até que as reclamações se equilibraram.

Descontados os grandes temas, o ombudsman diz que a maior fatia das cerca de 8.000 manifestações que recebeu neste ano por e-mail, fax, carta ou telefone foi com relação ao noticiário de assuntos do cotidiano, sobretudo quanto a erro de informações de serviços.

?O jornal muitas vezes subestima informações tidas como menores que, no entanto, repercutem diretamente na vida das pessoas. Vale para os serviços, mas também para assuntos políticos ou econômicos. Espero contribuir para reduzir essa distância?, diz o sexto ocupante do cargo de ombudsman da Folha.

O jornal foi o primeiro órgão da imprensa latino-americana a destacar um profissional para atuar como defensor dos interesses do leitor, o que ocorreu em 1989.

O ombudsman, termo que surgiu na Suécia, em 1810, para designar o defensor dos cidadãos ameaçados pelo Parlamento, tem, na Folha, mandato de um ano, que pode ser renovado duas vezes. Ele não pode ser demitido no período -nem pelo prazo de seis meses após deixar o cargo. A estabilidade visa garantir a autonomia do profissional.

Para o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, 44, essa independência do ombudsman ganha ainda mais importância em um ano de eleições.

?Nesses anos é habitual que as paixões partidárias se conflagrem e que aumentem, por isso, reclamações em relação ao jornal. A Folha, como é sabido, procura se pautar por uma política editorial crítica e apartidária. Esperamos que o ombudsman seja um fiscal tão severo quanto possível da implementação diária dessa política?, sustenta Frias Filho.

Casado, pai de duas filhas, Ajzenberg, começou a carreira de jornalista em 1976 e trabalha na Folha há mais de 15 anos.

Em seu primeiro mandato, ele brinca que se dedicou tanto ao leitor do jornal que deixou de lado, pela primeira vez em muitos anos, o leitor de seus livros. É que além de ombudsman, Ajzenberg também é escritor, com quatro romances publicados e o quinto, escrito antes de assumir o cargo, prestes a sair."

 

CÁTEDRA OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA

"Seminário sobre história da Folha inaugura cátedra", copyright Folha de S. Paulo, 10/03/02

"A história da Folha será tema de seminário marcado para as 20h30 de amanhã pela Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado). Será a primeira atividade da Cátedra Octavio Frias de Oliveira, publisher deste jornal e que foi homenageado no dia 25 com o título de professor honoris causa daquela instituição.

O seminário, aberto apenas a estudantes e professores da Fiam, terá a participação de Maria Helena Capelato, professora de história da América independente na USP, de Nicolau Sevcenko, professor de história da cultura da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e de Boris Fausto, presidente do conselho acadêmico do Gacint (Grupo de Análise de Conjuntura Internacional, da USP). A mediadora será a professora de história do jornalismo da Fiam Gisele Hime.

A cátedra foi criada como homenagem ao publisher da Folha, que em agosto próximo completa 40 anos à frente da empresa.

A cátedra promove até setembro seminários mensais sobre questões ligadas à imprensa, lançará concurso de reportagens e outras iniciativas ligadas à área."