Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Corrupção e liberdade de informação

REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS

Claudio Weber Abramo (*)

A organização internacional de jornalistas Repórteres sem Fronteiras divulgou em outubro de 2002 o primeiro ranking mundial de liberdade de imprensa, englobando 139 países.

De acordo com a RsF, o índice baseia-se num levantamento conduzido entre jornalistas, pesquisadores e advogados, os quais responderam a 50 perguntas relacionadas a violações da liberdade de imprensa (como assassinatos ou detenções de jornalistas, censura, pressões, presença de monopólio estatal em diversos setores, aplicação de punições por violação de leis e regulamentos referentes à imprensa). A íntegra do relatório, bem como comentários, pode ser consultada em <www.rsf.fr/article.php3?id_article=4116>.

É interessante aquilatar a possível relação existente entre o índice da RsF e o Índice de Percepções de Corrupção (CPI) da Transparency International.

O CPI de 2002 incluiu 102 países. Os países que ocorrem em ambos os índices totalizam 84. A tabela a seguir relaciona os dois conjuntos de números, organizados por ordem decrescente do CPI (o índice RsF foi transformado linearmente da escala original de 0-100 ? em que 0 corresponde a máxima liberdade de imprensa ? para uma escala de 10-0, semelhante à do CPI):

  
País
  
CPI
  
RsF
  Finlândia 9,7 10,0
  Dinamarca 9,5 9,7
  Islândia 9,4 10,0
  Suécia 9,3 9,9
  Holanda 9,0 9,9
  Canadá 9,0 10,0
  Reino Unido 8,7 9,4
  Austrália 8,6 9,7
  Noruega 8,5 10,0
  Suíça 8,5 9,6
  Hong Kong 8,2 9,5
  Áustria 7,8 9,3
  EUA 7,7 9,5
  Chile 7,5 9,4
  Alemanha 7,3 9,9
  Israel 7,3 7,0
  Bélgica 7,1 9,7
  Japão 7,1 9,3
  Espanha 7,1 9,2
  Irlanda 6,9 9,9
  Portugal 6,3 9,7
  França 6,3 9,9
  Eslovênia 6,0 9,6
  Namíbia 5,7 9,2
  Taiwan 5,6 9,1
  Itália 5,2 8,9
  Hungria 4,9 9,4
  Malásia 4,9 6,2
  Belarus 4,8 4,8
  África do Sul 4,8 9,3
  Tunísia 4,8 3,2
  Costa Rica 4,5 9,6
  Maurítco 4,5 9,1
  Coréia do Sul 4,5 9,0
  Jordânia 4,5 6,7
  Grécia 4,2 9,5
  Polônia 4,0 8,1
  Peru 4,0 9,0
  Bulgária 4,0 9,1
  Brasil 4,0 9,2
  Gana 3,9 7,7
  Croácia 3,8 9,1
  República Tcheca 3,7 8,9
  Sri Lanka 3,7 7,1
  Marrocos 3,7 8,4
  México 3,6 5,9
  Colômbia 3,6 7,5
  Etiópia 3,5 6,3
  China 3,5 0,3
  El Salvador 3,4 6,6
  Egito 3,4 9,1
  Tailândia 3,2 7,7
  Turquia 3,2 6,7
  Senegal 3,1 8,6
  Panamá 3,0 8,5
  Malawi 2,9 7,2
  Uzbekistão 2,9 5,5
  Argentina 2,8 8,8
  Tanzânia 2,7 7,4
  Índia 2,7 5,2
  Rússia 2,7 7,9
  Zimbabwe 2,7 5,2
  Romênia 2,6 5,5
  Zâmbia 2,6 7,1
  Filipinas 2,6 8,7
  Paquistão 2,6 7,3
  Venezuela 2,5 7,3
  Guatemala 2,5 7,5
  Ucrânia 2,4 6,0
  Vietnã 2,4 1,9
  Cazaquistão 2,3 5,8
  Equador 2,2 8,6
  Bolívia 2,2 7,1
  Camarões 2,2 9,5
  Haiti 2,2 6,4
  Uganda 2,1 8,3
  Azerbaijão 2,0 6,6
  Indonésia 1,9 8,0
  Quênia 1,9 7,5
  Paraguai 1,7 7,0
  Madagascar 1,7 7,7
  Angola 1,7 9,2
  Nigéria 1,6 8,5
  Bangladesh 1,2 5,6

A correlação estatística entre CPI e RsF
nesse conjunto é de 0,53. Eliminando-se Belarus, China, Israel, Jordânia,
Malásia, África do Sul, Tunísia e Vietnã (países
cujos índices situam-se muito fora do conjunto dos restantes), verifica-se
que entre os 76 países restantes há uma forte correlação
positiva, de 0,70, entre o CPI e o RsF. O gráfico ilustra o que acontece.
É evidente que, quanto maior a integridade do país, maior sua
liberdade de imprensa.

No entanto, é interessante observar que se a atenção é restrita a países com CPI menor do que 5 (a área em destaque, que corresponde aos países com CPI abaixo da Hungria), então a correlação é muito menor, de 0,41 ? ao passo que, no subconjunto dos países com CPI maior do que 5, a correlação é de 0,61.

Tal conclusão tende a enfraquecer a relação, muito mencionada, entre uma imprensa atuante e a presença de padrões elevados de integridade, ao menos entre países situados nas regiões inferiores de ambas as escalas.

(*) Secretário-geral da Transparência
Brasil <http://www.transparencia.org.br>. E-mail: <cwabramo@uol.com.br>