Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cristina Padiglione

MULHERES APAIXONADAS

“Uma esperança para a faixa nobre”, copyright O Estado de S. Paulo, 16/02/03

“Você assiste às cenas que anunciam a próxima novela das 8 – na prática, das 9 – e pensa que já viu isso antes. Sim, Mulheres Apaixonadas, que estréia amanhã, às 21 horas, na Globo, tem todo o jeito de Laços de Família e de Por Amor. Mais que isso, tem o mesmo autor, o mesmo diretor, o mesmo cenário, a mesma bossa nova na trilha sonora e mistura atores dos dois elencos anteriores.

?A história é outra?, defende o diretor de Núcleo, Ricardo Waddington. A julgar pelos antecedentes, é de se esperar que seja outra mesmo. Tanto ele como Manoel Carlos, o autor, já se repetiram em todos esses quesitos, sem contudo reprisar argumentos e papéis em suas produções. Com todas as semelhanças entre Por Amor e Laços, a troca de bebês de uma em nada lembra a filha que se interessa pelo namorado da mãe, na outra. O conflitão da vez, ainda guardado sob suspense por Maneco – como Manoel Carlos é chamado pela equipe – é bem outro.

Além disso, para a platéia disposta a se deixar viciar nos folhetins, Mulheres Apaixonadas já estréia sob vantagem: é a produção que permitiu o ponto final de Esperança, novela que trocou de autor no meio do caminho, inverteu o caráter de vários personagens e se desdobrou em flash-backs para preencher o horário.

Agora, a esperança está no Leblon, onde vive o autor e por onde ele passeia por duas horas diárias, em busca das histórias de seus personagens. ?Alguns?, admite ele, ?aparecem nas minhas novelas até com seus próprios nomes.? Difícil é escrever para todos. Mulheres começa com 104 nomes no elenco. É gente. ?As minhas novelas têm muita gente. Laços de Família chegou a 300 personagens. Eles vão entrando, entrando…. Nessa, eu segui um método diferente: coloquei, já na sinopse, 104 pessoas. Na sinopse de Laços, tinha 60, 70. Nessa, entrarão 300, 400.?

Não é uma novela, ?é um boeing?, emenda o autor. Com 70 ou 400 pessoas, Helena, a heroína, agora nas mãos de Christiane Torloni, mantém seu batismo inabalável. Todas as protagonistas de Manoel Carlos se chamam Helena.

E aí estão, sem receio do autor e diretor, vários dos atores vistos em outras produções da dupla. Alguns, como Umberto Magnani, já são questão de superstição. Tem ainda Suzana Vieira – que volta como uma ?Branca (a vilã de Por Amor) do bem? -, José Mayer, Tony Ramos, Carolina Dieckman, Vera Holtz, Regiane Alves, Regina Braga e Walderez de Barros, além de Helena Ranaldi, mulher do diretor, e Julia Almeida, filha do autor, com quem ambos fazem questão de trabalhar sempre.

Some a esses Giulia Gam, Maria Padilha, Paloma Duarte, Marcelo Antony, Cláudio Marzo, Carolina Kasting, Camila Pitanga, Natália do Valle, Lavínia Vlasak, Elisa Lucinda, Marcos Caruso e, entre outros estreantes, Rafael Colomeni e o italiano Nicola Siri, que fará um padre.

O trunfo – Entre os troféus exibidos pela produção, impossível não destacar Rodrigo Santoro. É sua primeira novela depois de uma incursão por Hollywood, onde fez breve participação no próximo filme de As Panteras. Mais que isso, ele agora é o moço do cinema, porque, em dois anos longe da TV, endossou seu talento em alguns títulos da melhor safra brasileira (Bicho de Sete Cabeças e Abril Despedaçado). Em abril, deve estrear Carandiru, de Hector Babenco, baseado no livro de Dráuzio Varella, onde ele interpreta um travesti.

Pergunte a ele se isso faz aumentar sua cotação na Globo. ?Não, de jeito nenhum?, responde. ?Isso é uma imagem criada pela mídia. Eu tive oportunidades atípicas, mas estou aqui, fazendo o que eu sempre fiz?, afirma. O fato é que, de cada dez chamadas que a Globo tem feito da novela, pelo menos cinco exploram o perfil dom-juan de seu personagem e quase todas têm no mínimo um close seu. Para um elenco de 104 atores, convenhamos, é atenção extra, sim.

Santoro jura que não é de defender o caráter de seus papéis. Por isso, reivindica isenção ao avaliar que seu Diogo não é um cafajeste. ?Ele é apaixonado pelas mulheres e não consegue resistir à tentação de estar com elas, mas ele se mete em encrencas e sofre por isso?, argumenta. A audiência feminina não reclama.

Terceira idade – Habituado a abordar temas que resultem em merchandising social em suas novelas – o mais eficaz deles foi incentivar o transplante de medula, com base no drama de Camila (Carolina Dieckman) em Laços de Família -, Maneco vai discutir agora a terceira idade. A bandeira será empunhada por Oswaldo Louzada, de 90 anos, e Carmen Silva, de 86. ?Somos os mais velhos do elenco?, orgulha-se ela.

?A questão é: como os brasileiros tratam seus pais, seus avós, como o Brasil trata seus velhos?, explica Waddington. ?Nós queremos fazer chegar ao público da terceira idade todas as leis que existem para protegê-los, porque existem muitas leis, que são ótimas, mas as pessoas não lançam mão disso?, conclui o diretor.

No primeiro capítulo, conta Louzadinha, ?somos atropelados por um garoto que passa de bicicleta e diz: ?eu disse pra ele sair da frente!? e vai embora?. ?Isso é uma denúncia, como tantas outras que devemos fazer ao longo da novela?, emenda o ator.

Embora o merchandising social seja hoje praxe nas novelas da Globo, Maneco é um dos poucos autores que seleciona o tema por conta própria. É só uma de suas modestas prerrogativas. A mais notável é o poder de escolher, em parceria com o diretor e sem interferência do mercado fonográfico, as músicas que compõem sua trilha sonora – aí está Pela Luz dos Olhos Teus, de Vinícius de Moraes, nas chamadas da novela, que não desmente o autor. A canção é um clássico. Passa longe do furor dedicado aos hits que embalam nossa TV.

?Com 70 anos de vida e 52 de TV, acho que tenho algumas prerrogativas?, justifica. Também faz questão de promover livros, peças e filmes que considera bons, colocando comentários sobre esses na boca de seus personagens, em cena. É o chamado merchandising cultural.

Isso não significa fazer o que quer e como bem entende, independentemente da opinião do público. A maestria está justamente na habilidade de chamar a atenção da platéia para aquilo que quer. Nadando contra a maré de autores e diretores que se esmeram em dizer que suas obras estão acima da importância dada ao ibope, o autor é taxativo: ?É claro que eu tenho uma grande preocupação com audiência?. ?Costumo dizer que não sou pago para escrever novela, apenas, sou pago para escrever novela que dê certo.? De certa maneira, continua ele, ?milhões de pessoas podem escrever novela, em tese, mas é preciso escrever novela que emplaque?. ?É muito comodismo escrever e dizer ?dane-se o público, não quer ver, não veja?.?

Ok. Como ele mesmo diz, com 52 anos de TV e 70 de vida, Maneco vale nossa aposta no que vem aí.”

“Manoel Carlos traz sua nova Helena”, copyright Folha de S. Paulo, 16/02/03

“HELENA é novamente a protagonista, que circula pelo recorrente bairro do Leblon, zona sul carioca, dividida entre os mesmos Tony Ramos e José Mayer. Por perto, há sempre um médico chamado Moretti, e uma mulher que atende pelo nome de Rita (homenagem a Santa Rita de Cássia). Claro, as personagens femininas são mais fortes do que as masculinas.

Tudo já visto, revisto e aprovado pelos índices de audiência de outras novelas do autor, Manoel Carlos, 69. A partir de amanhã, no horário das oito da Globo, estréia ?Mulheres Apaixonadas?, uma reunião de todos esses ingredientes que ganhará novas cores pelas mãos do mesmo novelista. A nova receita inclui um merchandising social abordando a terceira idade (veja texto abaixo), uma socialite excêntrica apaixonada por um padre, clima romântico entre aluno e professora e, claro, uma filha arrogante com vergonha do pai porteiro.

A trama

O ponto de partida são os questionamentos da quarentona Helena (Christiane Torloni), que vê seu casamento com o músico Téo (Tony Ramos) entrar numa rotina insuportável e se sente tentada a resgatar a paixão antiga pelo neurocirurgião César (José Mayer). Através da principal personagem feminina, Manoel Carlos quer abordar a eterna busca do amor idealizado e da felicidade. ?Mulheres Apaixonadas? pretende ser um painel, pode-se dizer também uma galeria, de vários perfis femininos, tendo o amor como tema. São várias histórias que se cruzam?, diz o autor. Helena é diretora da Escola Ribeiro Alves. E no rotineiro trajeto casa-trabalho, ela descobre que o grande amor de sua juventude está viúvo, trocou São Paulo pelo Rio e tem uma filha naquele colégio. Só que César está envolvido com sua assistente, Laura (Carolina Kasting). Enquanto isso, Téo está mais interessado em tocar sax com sua banda. Como crooner, está a seu lado a antiga namorada Rita de Cássia, a Pérola (Elisa Lucinda), com quem tem uma filha, a médica Luciana (Camila Pitanga). Todos são como uma grande família. Aliás, são essas teias envolvendo parentes que Manoel Carlos quer tecer. ?Serão muitas histórias, todas circunscritas ao círculo familiar, como nas minhas novelas anteriores. Relações de pais e filhos, irmãos, marido e mulher?, observa. E, entre os laços de família de Helena, estão ainda a exuberante cunhada Lorena (Suzana Vieira), interessada no filho do caseiro, e a prima Estela (Lavínia Vlasak), que passa o tempo dando festas. Até que reencontra um amor platônico da infância, o padre Pedro (Nicola Siri). Na escola, a professora de Educação Física Raquel (Helena Ranaldi) e seu aluno Fred (Pedro Furtado) se aproximam demais para o gosto dos pais dele. E o porteiro Oswaldo (Tião D?Ávila) é humilhado pela filha, Paulinha (Ana Roberta Gualda), que o ignora quando está com suas amigas ricas.”