Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crítica da mídia é incompatível com pornografia

M.M.

 

S

ugestão de um amigo deste redator: o sub-site do UOL (empresa dos grupos Folha e Abril) que contém material pornográfico não deveria de modo algum chamar-se “Novelas”, mas claramente “Pornografia”, ou “Sexo”, ou que diabo for.

Em março de 1998, após denúncia do OBSERVATÓRIO e artigo do promotor de justiça criminal Jorge Assaf Maluly intitulado “A Internet e a pornografia envolvendo criança e adolescente” (ver remissões abaixo), as fotos de garotos que ilustravam a obra literária “Abuso sexual”, abrigada na página “Novelas”, foram removidas.

Em fins de novembro, depois que este mesmo OBSERVATÓRIO pediu conselhos ao Ministério Público para impedir o UOL de continuar veiculando pornografia num site que procura atrair crianças, as páginas de pornografia deixaram de ser abertas (ver remissão abaixo).

A Folha passou a fazer campanha contra pedofilia na Internet (dando, diga-se de passagem, boas informações para quem quer obter o material denunciado).

La Rochefoucauld, século XVII: “A hipocrisia é o tributo que o vício paga à virtude”.

Money, money

Só existe uma explicação para a insistência do UOL em oferecer material pornográfico sob rótulo inocente: os usuários ficam longamente nas páginas e isto dá… dinheiro. O UOL corre atrás de dinheiro. Foram feitos investimentos consideráveis para lhe dar a dimensão atual.

A Internet, como todo território de fronteira, tem uma concentração peculiar de pioneiros e aventureiros. Andam vendendo miragens.

Capa da revista The Economist com data de 5/2/99: “Why Internet shares will fall to earth” (“Por que as ações de empresas da Internet vão cair”).

Frenesi americano de jogar com ações. Entre dezembro de 98 e janeiro deste ano, as ações da Amazon Books subiram 150% e seu valor chegou a passar de 30 bilhões de dólares, superando, por exemplo, o da Texaco. Há duas semanas, o valor das ações da broadcast.com bateu nos 5 bilhões de dólares, para uma receita de 16 milhões de dólares em 1998. A Marketwatch.com atingiu o valor de 950 milhões de dólares uma semana após seu lançamento em bolsa.

Yellow Kid, bandido de Chicago entrevistado por Saul Below depois de uma longa carreira de trambiques com papelório e contos do vigário, não sentia qualquer remorso: “As pessoas queriam alguma coisa por nada; eu dava nada por alguma coisa”.

Anote-se à margem do relato que o Yellow Kid bandido da vida real ganhou o apelido em homenagem ao personagem de história em quadrinhos que inspirou a denominação “imprensa amarela”.

Hora de fazer a mudança

Mas isto é problema do mundo dos negócios e dos trambiqueiros.

No mundo da cidadania, empresas como a Folha e a Abril, se tivessem algum pudor, jamais, repito, jamais concordariam em divulgar material pornográfico. Os trocados que recolhem com isso não compensam a perda de prestígio e auto-respeito.

Há lugar para pornografia no mundo, com certeza, mas há muitos séculos é um lugar bem definido.

E há lugar para crítica da mídia. O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA é hoje principalmente um programa de televisão em canais públicos, as redes da TV Educativa e da TV Cultura. Será que tem cabimento que sua matriz, o OBSERVATÓRIO eletrônico, esteja hospedado num site que não se respeita?

Não tem cabimento. Desviar o olhar não muda o fato de que o rei está nu.

Humildemente, devemos pedir desculpas aos leitores por nos termos deixado ficar tanto tempo em má companhia, fazer a nossa trouxinha e mudar de pouso.

Isto, como se dizia no jargão de antigamente, é uma proposta concreta.

 

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