Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Críticas de um ex-colega


CBS NEWS

Bernard Goldberg, correspondente da CBS News por 28 anos, decidiu revelar os bastidores da emissora que deixou no ano passado. No livro intitulado Bias (preconceito, inclinação), a ser lançado em breve pela editora Regnery Publishing, o jornalista relata conversa com o presidente do canal, Andrew Heyward, em que este admite que a CBS tem inclinação liberal. "Todas as redes se inclinam à esquerda", teria justificado Heyward, ressaltando: "Se você repetir isso, eu vou negar."

Goldberg já acusou a emissora de ser tendenciosa em artigo para o Wall Street Journal, em 1996. Howard Kurtz [Washington Post, 3/12/01] conta que alguns funcionários da CBS ficaram abalados com a declaração do ex-colega, especialmente porque Heyward, amigo antigo, se recusou a demiti-lo após a publicação do artigo e o manteve na lista de pagamento até que completasse 55 anos e tivesse direito a aposentadoria maior.

Atualmente trabalhando para o Real Sports, da HBO, Goldberg diz ter escrito o livro porque se importa com o jornalismo, e afirma que "deixou de fora um punhado de coisas que realmente podem embaraçar as pessoas". Em "Bias", descreve o âncora Dan Rather como um homem generoso, mas "brutal e inflexível". Rather não quis comentar, mas em 1996 disse ao Dallas Morning News que não se deixaria intimidar por ninguém, ao que Goldberg escreveu em resposta: "Por que é que quando jornalistas escrevem algo duro sobre outras pessoas isto se chama ?notícia?, mas quando escrevem sobre jornalistas como Dan Rather se chama ?intimidação??"

Outro ponto ao qual dedica atenção é a questão racial na emissora. Segundo ele, em 1999, durante matéria para o 48 Hours sobre uma adolescente presa, um chefe perguntou ao produtor: "Como ela é?" "Ela é negra", respondeu o outro, "mas de pele clara". Para Goldberg, o produtor sentiu que devia dizer isto para receber permissão para continuar com a matéria. Cita também um trecho revelador do guia do programa: "A aparência conta, também. Isto é televisão, afinal. Você pode ter a personalidade mais articulada do mundo, mas se tiver barba ou não tiver dentes, ninguém vai escutar o que ela diz." Susan Zirinsky, produtora executiva do 48 Hours, afirma que o jornalista faz acusações sem provas, e diz que o documento citado não é de "sua era" e não está mais em uso.

 

REVISTAS

O jornalismo em língua inglesa na Ásia perdeu uma revista semanal e viu outra ser drasticamente reduzida no último mês. A AOL Time Warner anunciou o fechamento da Asiaweek, que controlava desde 1985, por causa do colapso no mercado publicitário americano. Já a Dow Jones & Co., que publica Far Eastern Economic Review, juntou a equipe editorial desta à da Asian Wall Street Journal, cortando 36 empregos, a maioria na Review.

Na opinião de Mark Landler [The New York Times, 3/12/01], as medidas indicam a decadência de uma tradição de revistas independentes que cobrem a Ásia com a familiaridade dos nativos e a distância crítica dos estrangeiros. Philip Bowring, colunista do International Herald Tribune, acredita que houve uma "deterioração da diversidade de opiniões e análises dos eventos políticos e de negócios" nos países do sudeste asiático, embora muitos de seus habitantes falem inglês e desejem vozes alternativas à mídia local, freqüentemente controlada pelo governo.

As duas revistas em questão tinham, a princípio, a política regional como foco, mas passaram a enfatizar a cobertura de negócios e tecnologia. O novo formato, observa Bowring, veio em hora errada: a maioria das economias asiáticas enfrenta mau tempo e a crise das empresas pontocom foi devastadora.

Os editores das publicações defendem a mudança editorial, insistindo que foi bem-sucedida, ao menos no que diz respeito aos leitores: a Economic Review viu sua circulação crescer em 2,8% na primeira metade de 2001; ainda assim, continuou a perder dinheiro.