Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Críticas e preconceitos

OI EM QUESTÃO

Agnaldo Charoy Dias (*)

Observando o Observatório, observei preconceitos incabíveis para a estatura de alguns articulistas, em particular o Sr. Alberto Dines. Primeiro o debate com Gilmar Antônio Crestani e depois com o professor Bernardo Kucinski. O preconceito? O fato de ambos se assumirem partidariamente.

O preconceito toma uma forma grotesca, na medida em que Dines deveria, por todo o conhecimento que acumula, compreender a necessidade do partido político como modo de organização de indivíduos que buscam um objetivo que deve ser atingido pelo conjunto da sociedade e suas instituições. A crítica é posicionamento e, portanto, a crítica que não se posiciona também partidariamente tem um perfil improdutivo e não passa de palavras vazias ao vento. A crítica deve produzir conseqüências positivas, de construção de uma nova realidade, e n&aatilde;o apenas de destruição. Senão fica fácil ser crítico.

A minha iniciação na crítica, no conhecimento, se deu através do partido, do PT. Identificado com as lutas propostas pelo PT, fui me envolvendo, conhecendo e percebendo coisas que antes não percebia. Entrei na universidade tardiamente, ao 24 anos, incentivado e despertado justamente por aquilo que começava a se construir em mim a partir do PT.

Como disse Crestani, a credibilidade está na informação, e não no seu agente transmissor. O fato de Crestani ou Kucinski terem partido, para mim, lhes dá mais crédito, e não ao contrário. E não porque pertencem ao mesmo partido que eu, mas porque pertencem a algum partido. Aliás, estigmatizar os críticos a partir da sua militância partidária tem sido lugar comum aqui nos pagos. Desconstituir o adversário, em vez de seus argumentos, é uma técnica de discurso velha como a pedra. Recentemente alguns “intelectuais” publicaram notas e mais notas nos jornais, na internet, criticando duramente o “petismo” e o governo democrático e popular. Cínicos, não dizem que eles próprios participam de outros partidos e que, portanto, agem em defesa e na busca, não de uma verdade que sintetize os conflitos contemporâneos, mas que atenda unicamente seus interesses particulares.

Dines faz como o discurso oficial da mídia, que se diz neutra para escamotear seus verdadeiros interesses. Dines tenta se colocar acima do bem e do mal. Se assumisse um partido, talvez pudéssemos colocá-lo no mundo dos mortais, como o meu, o do Crestani e do Kucinski. Desça daí de cima, Dines.

Questão filosófica

“A questão não é moral (…) A questão é técnica: o olho do dirigente partidário é obrigatoriamente parcial, enquanto o olho do crítico da mídia ? se politicamente engajado ? estará subordinado à ótica decorrente deste engajamento”, diz Dines sobre Kucinski. Ora, isso me parece o mais absoluto positivismo, na medida em que tenta separar a técnica da moral, a ciência da política. E a gente sabe, como marxistas medianos que somos, que a técnica é moral e que a ciência é política. O que são as técnicas, por exemplo, de organização dos trabalhadores no chão-de-fábrica a partir do toyotismo se não políticas de aumento da produtividade e do lucro a partir da redução da mão-de-obra? Se não fosse a política, o que seriam das inovações tecnológicas no campo da aeronáutica (super-aviões de guerra etc)?

Dines desafia Kucinski ? também Crestani ? a “provar que os seus textos (os do professor) naquelas epístolas estão isentos de qualquer comprometimento partidário”. Foi mal, cara-pálida! Kucinski prova o contrário: que assume um posição partidária e constrói objetivamente neste mundo de homens e mulheres reais uma alternativa ao neoliberalismo e que suas palavras não são apenas palavras ao vento. Como diria Gramsci, Kucinski é o intelectual orgânico.

Quanto a Crestani, é um absurdo Dines cobrar que fale sobre o imbróglio entre a TVE e o OI. Acho que é uma boa regra de conduta não se fazer de chupim para pôr ovos nos ninhos dos outros. E o que Dines usa como demérito também contra Crestani para mim é um elogio a sua coragem: seus textos são militantes, engajados e comprometidos com a verdade dos trabalhadores e dos lutadores sociais que se desenclausuram de sua torre de sabedoria para descerem ao mundo dos homens e construírem um conhecimento vivo, alimentado pelas lutas, pelos compromissos e pelo sofrimento da maioria do povo. Outro intelectual orgânico imprescindível para o mundo novo que estamos construindo.

Por fim, teria a dizer que me sinto bastante mal quando vejo impiedosa falta de educação da parte de meus interlocutores, especialmente quando se apresentam no campo da transformação social, da crítica. E tenho notado isso com freqüência aqui no OI. Dines diz que o OI não pauta ninguém ? “deslavada mentira”, diz ele ? mas está lá, para quem quiser ler: “Tem sido cobrada do observador gaúcho qualquer manifestação a respeito…” (do imbróglio TVE x OI). Mentira de quem mesmo, Dines?

(*) Jornalista

 

Este Observador sente-se muito bem “aqui em cima”. Tão bem que convida o signatário para juntar-se a ele. Vai gostar. O panorama é perfeito, sob todos os pontos de vista. Caso tenha alguma dificuldade, peça ajuda. Conditia sine qua non: aprender a ler ou a ler e apreender.

Foi explicado no pequeno texto que a resposta ao prof. Kucinski foi intencionalmente
atrasada para que não fosse publicada durante a campanha
eleitoral. A inesperada continuação da temporada
prejudicou este cuidado. Pretendia-se explicar por que na mesma
edição foram publicadas duas réplicas conceitualmente
iguais. Sutileza que escapou à acuidade do signatário.

A leitura desatenta ou a praxe de pinçar frases incompletas fez com que o signatário cometesse pelo menos uma injustiça ou inverdade. Tem sido cobrada do atentíssimo crítico gaúcho alguma manifestação (ou avaliação) a respeito da violência sofrida pelo Observatório na TVE-RS. Qualquer que fosse o seu ponto de vista. A mesma cobrança seria feita a um dos nossos companheiros nos cafundós que, eventualmente, assumindo-se como observador local deixasse passar em brancas nuvens algo relativo à mídia que ocorresse na sua seara. Em fevereiro deste ano, o ilustre crítico gaúcho apresentou-se como o observador local. Decisão que nos honra mas cria alguns compromissos com a perseverança. (A.D.)


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