Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Daniel Castro

GLOBO EM CRISE

"SBT, Record e Band atacam Globo e governo", copyright Folha de S. Paulo, 22/03/02

"O estatuto da União Nacional de Emissoras e Redes de Televisão, entidade que congrega SBT, Record e Band e que será lançada oficialmente na próxima terça, traz um ?ideário?, uma carta de princípios com 15 artigos.

O documento defende a democracia, o respeito à Constituição e a denúncia de corruptos. Mas dedica alguns artigos para alfinetar a TV Globo e o governo federal.

Em um dos artigos, afirma que a presença do Estado nos meios de comunicação deve se restringir à função de regulador do espectro de frequências. É um recado ao estatal BNDES, que socorreu financeiramente a Globo Cabo.

O estatuto condena o monopólio e a propriedade cruzada de veículos de comunicação praticados pela Globo. Diz que ?a leal concorrência é uma das garantias dos meios de comunicação diversificados e pluralistas?.

O governo é alvo de artigo que defende o Congresso como única fonte de leis. É um protesto contra o que as TVs chamam de excesso de portarias e medidas provisórias que afetam o setor. Outro artigo ?proclama? a independência dos concessionários de TV, ao repugnar a subserviência às autoridades. O documento, entretanto, não diz nada sobre código de ética e limites à baixaria na TV.

A União foi criada para defender os interesses das três redes, que acusam a Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV) de só servir à Globo.

OUTRO CANAL

Flashback

Ney Gonçalves Dias pode ser o ?novo velho? apresentador do ?Cidade Alerta?, da Record, no lugar de José Luiz Datena. Dias, que só aparece no SBT de madrugada, já foi apresentador do telejornal, que pode retomar ainda hoje. Sem Datena, o ?Cidade Alerta? vem perdendo audiência. Anteontem, ganhou do SBT por apenas um ponto de diferença.

Província

Os donos do canal 40, de Santo André, contrataram o escritório de advocacia Pinheiro Neto. Vão tentar na Justiça anular a portaria do Ministério das Comunicações que revogou a outorga do canal à TV Diário do Grande ABC. O Grupo Estado, que planeja criar uma rede nacional em dois anos, está na disputa pelo canal.

Balança

O martelo ainda não foi batido pela cúpula da TV Globo, mas são poucas as chances de um segundo ?Big Brother Brasil? ainda neste semestre. Já ?Operação Triunfo?, que reúne 12 candidatos a cantor solo e deverá se chamar ?Operação Talento?, pode estrear na segunda quinzena de abril.

Mala

Preta Gil esteve terça-feira no SBT. Foi acertar detalhes de sua possível entrada em ?Casa dos Artistas 2?, que já não está mais pagando aquele cachê de R$ 120 mil."

"BNDES contesta preço da Globo", copyright Jornal do Brasil, 20/03/02

"O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Eleazar de Carvalho, informou que, ao contrário do que publicou as Organizações Globo em nota oficial publicada na primeira página do jornal ?O Globo? de ontem, ainda não foi definido o preço da ação que será utilizado para oficializar a operação de salvamento financeiro de R$ 1 bilhão da Globo Cabo, maior empresa de televisão a cabo do país. O banco entrará com R$ 284 milhões, mais de 25% do previsto.

Segundo Eleazar de Carvalho, o valor da troca de debêntures, que o banco já tem hoje, por ações da Globo Cabo, será definida nos próximos meses. Isso dependerá da procura do mercado e das cotações futuras em um processo que analistas financeiros chamam de ?book building?. De acordo com a nota das Organizações Globo, o preço seria de R$ 0,65 contra R$ 1,60, que estavam fixados anteriormente. ?O valor só será definido mais a frente?, explicou Eleazar. A negociação está em andamento e, pelo histórico do banco, isso pode levar alguns meses ainda.

A operação de salvamento da Globo Cabo envolve o banco estatal e alguns outros sócios da empresa. O problema levantado por deputados e senadores – que convocaram Eleazar de Carvalho e dirigentes da Globo Cabo para depor no Congresso – é que o BNDES, administrador de recursos públicos, está aumentando sua participação como sócio da companhia em cerca de três vezes – dos atuais 4,8% para 12% -, mesmo havendo dúvidas sobre a viabilidade do negócio no futuro. A Microsoft, por exemplo, sócia da Globo Cabo com 7,5%, ainda não definiu se entrará no socorro financeiro. Analistas apostam que a empresa americana de informática, comandada pelo bilionário Bill Gates, ficará de fora da operação.

Não é a primeira vez que o BNDES participa de operações com TVs a cabo. Quando divulgou uma nota sobre a reestruturação da Globo Cabo, há dias atrás, o banco informou que vem apoiando projetos de instalação ou expansão de outras redes de TV por assinatura, internet e TV aberta. O que chama a atenção no caso Globo Cabo é o tamanho do aporte: o maior já feito pelo banco estatal numa empresa do ramo. Empresas como o SBT de Sílvio Santos, por exemplo, recebeu financiamento limitado ao valor de R$ 16,8 milhões.

Em São Paulo, o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Globo Cabo, Leonardo Pereira, frustrou os analistas que participaram de uma reunião esta semana, na sede da Associação Brasileira de Mercado de Capitais (Abamec). Alegando estar impossibilitado legalmente de comentar a operação de socorro à empresa, Pereira apenas justificou o balanço do ano passado, que mostra prejuízo de R$ 700 milhões.

?Infelizmente não posso comentar os planos para o futuro. Todo o projeto de capitalização já foi veiculado na mídia e agora precisamos esperar que seja aprovado pelos órgãos competentes. É como se fosse uma quarentena?, explicou. Procurada ontem, a diretoria da Globo Cabo, através da assessoria de imprensa, informou que não iria atender o Jornal do Brasil porque todas as perguntas já tinham sido esclarecidas nas duas reuniões com analistas financeiros."

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"Horizon não recebeu R$ 202 milhões", copyright Jornal do Brasil, 20/03/02

"A Horizon Cable Video do Brasil negou que tenha recebido R$ 202 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como foi citado em editorial publicado no jornal O Globo. Segundo o diretor financeiro da empresa, Marcos Rocha, o valor corresponde ao total de um financiamento aprovado pelo banco, mas que será liberado ao longo de dois anos e meio. Até agora, a empresa recebeu cerca de R$ 50 milhões para implantação de TV a cabo e internet de banda larga no interior de São Paulo.

A Horizon pertence à Brasil TV a Cabo, de São Paulo, e à Horizon Telecom International, empresa com sede nos Estados Unidos que tem fundos de investimento americanos como sócios. Diferentemente do que ocorrerá com a Globo Cabo – que aumentará seu capital, levando os sócios a injetar dinheiro no negócio -, a operadora recebeu um empréstimo. Dos R$ 202 milhões, R$ 172 milhões têm garantias reais dada pela empresa e ou outros R$ 30 milhões serão repassados na forma de debêntures."

 

"Globo ?ataca? a parceira do SBT nos EUA", copyright Folha de S. Paulo, 21/03/02

"Nada melhor do que ?Vale Tudo? para estrear a nova estratégia da Globo: com a produção da versão espanhola da novela de 1988, a emissora quer faturar com o mercado hispânico e concorrer diretamente com a Televisa, a parceira mexicana do SBT.

?Vale Todo?, como a trama foi rebatizada, começa a ser gravada no Rio de Janeiro no dia 8 de abril. O elenco, 100% latino, é uma mistura de colombianos, cubanos, argentinos, mexicanos, numa proporção que busca se equiparar à formação da comunidade hispânica dos Estados Unidos.

A produção é uma parceria entre Globo e Telemundo, emissora porto-riquenha comprada pela rede norte-americana NBC em 2001 por US$ 2,68 bilhões.

A novela estréia nos EUA em 17 de junho. Será exibida pela Telemundo, que possui 32 emissoras abertas e 151 afiliadas na TV fechada, cobrindo 90% dos domicílios hispânicos do país. A Globo, que dividirá meio a meio os custos de produção com a Telemundo, espera faturar US$ 6 milhões.

Todos esses números, impressionantes (veja outros no quadro ao lado), são a primeira pista do ?vale tudo? armado pela Globo para aumentar seu faturamento no exterior e driblar a crise no mercado publicitário brasileiro.

Para dar um tiro certeiro, a Globo levou cerca de dois anos ensaiando essa parceria com a Telemundo. O contrato, que já prevê a produção de uma segunda trama, abre à emissora muitas possibilidades de faturamento. Pelo acordo, a Globo poderá vender ?Vale Todo? a outros países um mês após a estréia nos EUA. E torce para que o mundo tenha pela versão espanhola o mesmo interesse que teve pela brasileira, já comprada por 32 países.

Pelo contrato, a Globo também receberá por cada ponto de audiência que a novela, exibida às 21h, horário nobre, alcançar nos EUA. Para a Telemundo, fica o lucro com a venda publicitária dos intervalos. As duas redes também dividirão o faturamento com merchandising. O ?encaixe? de produtos na história está sendo elaborado em conjunto.

Segundo a Folha apurou, já há no Brasil uma negociação avançada com a Embratur, já que a novela será uma bela vitrine para o turismo do país. A idéia é que os personagens façam muitas viagens ao longo dos 150 capítulos para que sejam mostradas várias cidades. Como consequência, a trama, que originalmente teria as primeiras cenas em Foz do Iguaçu, começará em Petrópolis, no Rio -mais perto e mais barato.

Assim, Foz, ponto turístico dos mais batidos, poderia entrar na história depois, já com o merchandising fechado com a Embratur e o lucro garantido.

Outro subproduto da novela que pode gerar muito lucro é a trilha sonora, elaborada por José Paulo Vallone, diretor responsável pela parceria de ?Vale Todo?.

O lançamento, claro, será da Som Livre, o braço fonográfico das Organizações Globo. Nada está fechado, mas é provável que o CD traga versões em espanhol de hits da MPB, como ?Eu Sei que Vou te Amar? e ?Samba do Avião?. Fora isso, haverá presença garantida de ídolos hispânicos pop, como Julio Iglesias e Luis Miguel. A Globo também está de olho em novidades do mercado musical da língua espanhola e deve incluir o novato e campeão de vendas Alejandro Rodriguéz.

Para facilitar as vendas da novela e não ter problemas com países onde já foi implantada a TV digital, ?Vale Todo? será gravada digitalmente. As paisagens (é claro que os gringos não vão ficar sem as mulheres de biquíni nas praias) devem ser feitas em alta definição, deixando o merchandising turístico com ares de cinema.

Tudo parece ?mega?, mas não poderia ser diferente. As produções da mexicana Televisa, parceira do SBT, têm a preferência da audiência hispânica nos EUA.

Para mudar o hábito do telespectador, não acostumado à estética brasileira de teledramaturgia (leia texto abaixo), a Globo tem algumas armas. A primeira delas foi contratar estrelas da Televisa e de outras concorrentes. Chamou também um ex-diretor da Televisa, Fidel Monroy, para fazer parte da equipe de produção.

Outra estratégia foi colocar Antonio Fagundes para uma participação especial no primeiro capítulo. O ator, que fez na versão brasileira o papel do protagonista Ivan, namorado de Raquel Aciolly, agora será pai da heroína. O objetivo é aproveitar o sucesso nos EUA de ?Terra Nostra?, protagonizada por Fagundes. Ele está treinando espanhol, mas também poderá ser dublado pelo mesmo ator responsável pela sua voz na saga dos italianos. Afinal, vale tudo. Principalmente em dólar. (A jornalista Laura Mattos viajou ao Rio a convite da Globo)"

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"Emissora cria o ?padrão México de qualidade?", copyright Folha de S. Paulo, 21/03/02

"Com ?Vale Todo?, a Globo pretende criar o ?padrão México de qualidade?, uma mistura entre a estética mexicana de dramaturgia e o jeito global de fazer novelas.

A idéia é não chocar os telespectadores hispânicos, acostumados às tramas mexicanas, e aos poucos levá-los a se adaptarem ao jeito brasileiro de teledramaturgia.

Além de readaptar a audiência a uma nova estética, podendo ?roubar? telespectadores das histórias da Televisa, a Globo também pode, assim, promover um aumento de vendas de novelas e minisséries brasileiras dubladas.

O mix México/Brasil de ?Vale Todo? deve ser, no mínimo, divertido. A começar pelos nomes readaptados da versão original de Gilberto Braga. Odete Roittman, por exemplo, vira Lucrécia Roittman. E entram na história os personagens Octavio e Mercedes.

A releitura da trama está sendo feita pelo escritor Yves Dumont, que escreveu novelas recentemente para a Record.

?É claro que teremos de carregar mais nos romances, apimentar as relações amorosas. E não vai faltar a velha questão de amores entre ricos e pobres?, diz.

O cenário é o Rio de Janeiro, mas a idéia é valorizar pouco as questões regionais. Outra novidade será um núcleo latino, que não havia na versão original.

A base da história continua sendo o dilema da trama brasileira: vale a pena ser honesto? O final, na época, chocou o país ao mostrar os vilões se dando bem, fugindo com dólares para o exterior. Dumont sabe que o efeito pode não ser o mesmo e, por isso, pretende mudar pontos cruciais, como a identidade do assassino.

A história está aberta, com apenas 30 capítulos já escritos, e irá caminhar de acordo com a audiência. Para isso, a Globo leva aos Estados Unidos as discussões de grupo, em que telespectadores debatem a novela.

Outros pontos do ?padrão México de qualidade? serão cenário e figurino, que abusarão de cores fortes. Mas o maquiador, a Globo promete, será brasileiro."