Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Das planilhas às partituras

BATE-BOLA

Luiz Egypto

O Menino do São Benedito e outras crônicas, de Luís Nassif, Editora Senac-São Paulo, 2002

Experiente jornalista, especializado em economia, Luís Nassif nunca negligenciou sua paixão pela música e pela arte popular brasileiras. Na coluna diária que mantém na Folha de S.Paulo (caderno Dinheiro, pág. B 3), acostumou-se, aos domingos, a brindar seus leitores com algo mais do que as análises e interpretações que destila durante a semana, em geral pautadas por assuntos graves, avaliações complexas, derrapadas morais e números cabeludos. Como um refresco domigueiro, publica ali fragmentos de sua infância e adolescência em Poços de Caldas (MG), perfis de músicos geniais (famosos e ilustres desconhecidos) e reminiscências de um repórter que jamais abandonou o bandolim e as rodas de choro.

Nassif reuniu seus textos dominicais no livro O Menino do São Benedito e outras crônicas ? sempre saborosas, plenas de informação e de afeto pelos personagens que retrata. Sobre o livro, respondeu a quatro perguntas do Observatório da Imprensa.

Como surgiu a idéia do livro?

Luís Nassif ? Comecei escrever crônicas aos domingos sobre temas culturais. Achava que o país estava passando por um processo grande de transformações, nos quais se costumam jogar no lixo valores anacrônicos e os valores legítimos. Minha idéia foi fazer um levantamento dos valores que nesses anos todos, desde a minha adolescência, ajudaram a consolidar a idéia de nação. No início, buscava temas contemporâneos como gancho para as crônicas.

O Menino do São Benedito é apenas uma reunião das colunas de domingo na Folha ou você incluiu textos inéditos? E qual o critério de escolha e amarração das crônicas?

L.N. ? Basicamente os textos das crônicas domincais. O livro foi dividido em "Cenas Brasileiras", "Poços de Caldas", "Música Popular", "Ídolos do Esporte" e "Personagens do País".

Como convivem o bandolinista Luís e jornalista econômico Nassif? Qual dos dois é mais feliz?

L.N. ? O músico é mais feliz por não ter que tratar das pressões dos problemas diários. E agora estou agregando um lado compositor que andava meio abandonado. No segundo semestre deverá sair um CD com composições próprias. Mas ainda assim prefiro o jornalista.

Câmeras e microfones abertos para você dizer o que quiser.

L.N. ? Dizer que nesses últimos dez anos o Brasil se internacionalizou, mudou as instituições, teve avanços e cometeu bobagens. Mas o que resta claro é que o melhor que o país tem a oferecer ao mundo e aos seus filhos é a cultura popular brasileira. Enquanto a cultura erudita sempre cultivou o pessimismo mais acendrado, foi através da música e da arte popular que o Brasil reuniu as condições para poder competir em um mundo globalizado.