Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

David Gonzalez

CUBA

“Cuba começa a julgar jornalistas e dissidentes”, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 5/04/03

“Ignorando as críticas internacionais, as autoridades cubanas começaram ontem a julgar dezenas de dissidentes acusados de subversão. Para alguns dos acusados, a pena pode ser prisão perpétua.

Defensores dos direitos humanos em Cuba e nos Estados Unidos dizem que até 38 pessoas já foram levadas a julgamentos em tribunais em que a presença de diplomatas e jornalistas estrangeiros foi proibida. Segundo eles, até 80 dissidentes detidos no mês passado podem ser julgados até amanhã.

O Departamento de Estado americano acusou o presidente cubano, Fidel Castro, de criar tribunais de fachada para punir pessoas que querem exercer o direito de liberdade de expressão. O departamento exigiu que todos os prisioneiros sejam soltos.

?Enquanto o hemisfério caminha para mais liberdade, o regime anacrônico do governo cubano parece regredir para o stalinismo?, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Reeker.

Especialistas afirmam que a economia abalada e a crescente insatisfação com a falta de oportunidades no país estão levando a tentativas desesperadas de cubanos de deixarem a ilha. Na quarta-feira, homens armados seqüestraram um ferryboat cubano e exigiram combustível para chegar aos Estados Unidos. No dia seguinte, eles ameaçaram matar os passageiros se as exigências não fossem cumpridas.

Segundo os especialistas, 12 dissidentes podem enfrentar penas perpétuas, incluindo Hector Palacios, um dos principais defensores do Projeto Varela, que busca reformas democráticas, e Ricardo González, jornalista independente que edita uma revista em Havana.”

“SIP denuncia ?pior momento?”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/04/03

“A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) convocou a comunidade internacional, incluindo seus mais de 1.300 membros, para se mobilizar contra a perseguição indiscriminada a jornalistas independentes em Cuba depois que 28 profissionais de imprensa foram indiciados em Havana em uma nova onda de repressão do regime cubano.

?O que estamos observando em Cuba é produto de anos de negligência internacional de um governo historicamente antidemocrático. É hora de levantar a voz e exigir a libertação desses jornalistas que deixam orgulhosos todos que têm o privilégio de exercer o jornalismo em sociedades civilizadas?, declarou o presidente da SIP, Andrés García, do México.

?Pedimos que todos nossos membros e simpatizantes nos ajudem a espalhar essa mensagem de solidariedade aos jornalistas cubanos em um dos piores momentos que a liberdade de expressão já experimentou na América Latina?, acrescentou ele.

Em uma carta para o diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, a SIP exigiu a libertação imediata dos jornalistas presos durante a detenção em massa de 78 dissidentes nas últimas semanas.

?Informamos a essa organização internacional de cultura e educação que os procuradores cubanos estão acusando os dissidentes de ?traição? e ?revolta contra-revolucionária?, termos que visam a disfarçar o descontentamento do governo cubano com críticas e mostrar sua preferência (por táticas que) explicitamente aterrorizam seu próprio povo?, observou García.

Um pedido parecido foi apresentado ao Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello.

A SIP ressaltou que a maioria dos jornalistas presos será julgada por violações da legislação penal cubana, o que inclui crimes contra a segurança nacional e impõe penas severas para quem ?colabora com governos inimigos?.

?Nosso representante em Cuba, Raúl Rivero, poeta e escritor reconhecido internacionalmente, está enfrentando 20 anos de cadeia. Pior ainda, seu colega Ricardo González pode receber pena de prisão perpétua simplesmente por editar uma revista contendo informações gerais sobre a vida cotidiana dos cubanos?, disse o presidente da organização.

As prisões e os julgamentos planejados pelo governo cubano foram classificadas por autoridades americanas de ?o ato mais extremo de repressão política na América Latina da última década?.

Essas ações do governo cubano provocaram protestos organizados pela União Européia, Sociedade Americana de Editores de Jornais (Asne, na sigla em inglês), e pelo AFL-CIO, o maior sindicato dos Estados Unidos.

A polícia cubana confiscou computadores, máquinas de escrever, livros e arquivos contendo fotografias e textos jornalísticos.

?Eles pegaram um rádio Sony como prova dos crimes cometidos na casa de Raúl Rivero. Eles o acusaram de crimes como ter trabalhado como correspondente da agência France Presse e colaborado com a página cubana na internet patrocinada pela SIP?, relatou Andrés García, citando a acusação formal recebida pela entidade ontem.

A lista de acusações contra Rivero inclui ?associações perigosas, desobediência a avisos oficiais e se opor ao governo?, segundo as acusações formalizadas pelo procurador-geral de Cuba.

García salientou que a comunidade internacional ?não deve ficar de braços cruzados esperando as condenações desses jornalistas depois de julgamentos que certamente decidirão (que os acusados) são culpados, já que eles não desfrutam de direitos?.

Um editorial do The Washington Post escreveu que as prisões e os indiciamentos em Cuba são convenientes para o regime de Havana ?já que o mundo em geral, e os Estados Unidos em particular, estão distraídos com (a guerra em) o Iraque?. Outro editorial do Los Angeles Times avaliou que ?o retorno à repressão parece ser uma tendência do governo cubano?.

O presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos, Elizardo Sánchez Santacruz, acredita que ?o governo (cubano) nunca tinha julgado tanta gente por suas crenças políticas, nem buscado penas tão draconianas?.

Outros observadores apontaram que, ao acabar com a liderança da oposição interna que se aglutinou em torno do Projeto Varela e a favor de eleições livres em Cuba, as autoridades da ilha optaram por silenciar a voz dos jornalistas independentes que haviam conseguido conquistar espaços mínimos dentro do país, mobilizando a opinião pública.”

 

MURDOCH & TELEPIU

“Europa aprova compra de TV por Murdoch”, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 4/04/03

“A Comissão Européia anunciou que Rupert Murdoch pode seguir em frente com seu primeiro grande empreendimento televisivo na Europa, a aquisição da Telepiu, emissora italiana via satélite que está dando prejuízo. Mas a comissão impôs condições que analistas consideraram extremamente duras.

A News Corp., controlada por Murdoch, concordou no segundo semestre do ano passado em comprar a Telepiu por US$ 970 milhões do conglomerado francês Vivendi Universal e fundi-la com a Stream, canal italiano rival conduzido como empreendimento conjunto dividido em partes iguais entre a News Corp. e a Telecom Italia.

Juntas, a Stream e a Telepiu terão praticamente o mercado inteiro de tevê paga via satélite na Itália. O comissário europeu para a concorrência, Mario Monti, responsável pela vigilância antitruste, disse à imprensa, anteontem, que teria sido melhor se houvesse concorrência entre várias companhias, mas o ambiente empresarial debilitado só permitia que uma sobrevivesse.

Analistas afirmaram que, se o acordo tivesse sido bloqueado, a Telepiu teria fechado.

?Nosso dilema era escolher o menor de dois males?, disse Monti. Ele acrescentou que, mesmo assim, a decisão da comissão ?estabeleceu as condições certas para que o mercado da televisão paga na Itália permaneça aberto e evolua de maneira competitiva, para o benefício dos consumidores?.

A comissão disse que, em troca da aprovação, a companhia – que se chamará Sky Italia – terá de vender suas participações em tevê que não seja via satélite e limitar sua capacidade de ditar tanto os preços que paga pelos direitos de programação de filmes e esportes quanto as taxas que cobra dos assinantes. As condições, que ficarão em vigor até 2011, exigem que a News Corp., entre outras coisas, dê aos concorrentes acesso à sua tecnologia de transmissão via satélite.

Além disso, a Sky Italia será proibida de expandir sua presença em tevê digital na Itália e terá de vender algumas freqüências de transmissão a rivais que querem oferecer serviços de tevê paga. ?As condições são pesadas e limitarão os benefícios do acordo que esperávamos quando ele foi anunciado pela primeira vez?, disse Mark Harrington, analista de mídia no escritório londrino do banco Bear Stearns.”

 

POLICIAL MILTON NEVES

“Apresentador do ?Cidade Alerta? é policial”, copyright Folha de S. Paulo, 4/04/03

“Apresentador do principal telejornal policial do país, o ?Cidade Alerta?, da Record, Milton Neves, 51, é um policial de carreira.

À frente do telejornal desde a última segunda, e no meio de uma guerrilha pela audiência popular com a Band, Neves chegou a anunciar uma reportagem – em que quatro supostos bandidos foram mortos pela PM – como se fosse um jogo de futebol: ?Quatro a zero para a polícia?, bradou.

O jornalista diz, no entanto, que não está ?instigando ninguém a matar?, que não influi na linha editorial do telejornal e que não deixará de criticar a polícia.

É ético um policial apresentar um telejornal policial? ?Não sei. Depende da linha de conduta. Se houver deslize, vai haver ajuste?, diz Luiz Gonzaga Mineiro, diretor de jornalismo da Record.

Um dos principais nomes do jornalismo esportivo, Neves trabalha até 18 horas por dia, tem três programas na Record e um no rádio e, estima-se, recebe pelo menos R$ 300 mil por mês.

Mesmo assim, faz questão de se aposentar, em 2004, como escrivão de polícia, cargo que diz ter exercido efetivamente entre 1976 e 1999, com salário de R$ 2.000. ?É uma questão de direito?, diz.

Desde 2001, Neves está lotado na Assembléia Legislativa, onde tem um programa semanal de esportes e faz comentários diários no telejornal da TV Assembléia. Ele doa seu salário de servidor a cinco entidades assistenciais.”