Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Denise Flaim

ITÁLIA

"Berlusconi aperta controle sobre TV pública e pune seus críticos", copyright O Estado de S. Paulo / Newsday, 4/7/02

"O âncora disse precisamente isto: ?Um ano depois da vitória na eleição, está na hora de uma avaliação do governo Silvio Berlusconi.

Vamos ouvir os representantes do governo e os membros da maioria governista no Parlamento.? Foi em 12 de maio, no noticiário das 8 horas da RAI – TV pública da Itália – o mais popular telejornal do país.

O que podem ter dito os entrevistados? Teriam eles criticado a si mesmos?

?Fizemos um bom trabalho?, foi a resposta do vice-primeiro-ministro, de um deputado e de dois ministros. E a oposição? Nenhuma palavra, inexistente.

Essa é a Itália de Silvio Berlusconi. E é isso o que acontece quando o primeiro-ministro é também um magnata da mídia.

Os telespectadores italianos podem escolher entre sete grandes redes de televisão nacionais: três são públicas (para financiar cerca de metade do seu custo, os cidadãos que possuem TV pagam taxa anual de US$ 85; a publicidade cobre o resto) e quatro são privadas. Três delas são de propriedade do primeiro-ministro. E a quarta rede privada tem baixos índices de audiência em comparação com as demais. Assim, pode dizer-se que são três contra três. Há um empate. Mas a direção das redes públicas é nomeada pelos chefes das duas Casas do Parlamento, ambos escolhidos pelo primeiro-ministro entre membros da maioria de centro-direita. Esses administradores, por sua vez, nomeiam os novos diretores e o âncora.

Diante desse quadro, o primeiro-ministro acabou punindo funcionários da estatal que o desgostaram. Em entrevista, declarou que os jornalistas Enzo Biagi, de 80 anos e mais famoso repórter do país, Michele Santoro e o apresentador Daniele Luttazi se comportaram de ?maneira criminosa?.

Berlusconi disse que eles o difamaram ao entrevistar, antes da eleição do ano passado, seu ?inimigo? – o diretor e ator de cinema, Roberto Benigni.

Santoro recebeu sanções da Autoridade de Comunicação por ?informações tendenciosas?. Mas isso ainda não foi suficiente para Berlusconi. Ele acrescentou – embora não tenha autoridade para ordenar isso – que os três têm de ?mudar de atitude? para retornar à TV. Na segunda-feira, os programas de Biagi e Santoro foram suspensos. Quanto a Luttazi, está afastado há um ano.

?Isto é censura?, brada a oposição outra vez. A resposta dos novos diretores é que se trata de simples mudanças na programação. Com quem está a verdade e qual a solução? Há uma proposta radical feita por conhecido acadêmico, Giovanni Sartori: Berlusconi deve vender suas emissoras e tornar-se um cidadão como os outros. Mas o primeiro-ministro rejeita. apelando para direitos constitucionais.

A população parece disposta a acreditar que Berlusconi vai cumprir suas promessas de felicidade e dinheiro para todos. O problema é que terão de ver o que acontece por intermédio da mídia que controlada por ele."

 

CHINA

"Governo retira BBC do ar devido a reportagem", copyright Folha de S. Paulo, 5/7/02

"As autoridades chinesas suspenderam as transmissões via satélite da rede de TV britânica BBC, após uma reportagem sobre o movimento religioso Fa Lun Gong ser levada ao ar no domingo e na segunda-feira. A Fa Lun Gong foi banida pela China. Muitos dos seus integrantes já foram presos pela polícia chinesa. A reportagem sobre a Fa Lun Gong era parte da cobertura sobre os cinco anos da devolução de Hong Kong do Reino Unido para a China."

 

ISRAEL vs. MÍDIA

"CNN acusada de ceder a pressão de Israel", copyright Estado de S.Paulo/The New York Times, 2/7/02

"Não é fácil ser a TV CNN em Israel hoje em dia. De um lado, grupos israelenses de protesto distribuem adesivos ?CNN Mente?. O ministro israelense das Comunicações, Reuven Rivlin, chamou-a de ?má, tendenciosa e desequilibrada?. Do outro lado, palestinos inundaram a CNN com e-mails exigindo que a rede volte mais sua atenção para civis mortos por israelenses.

Outras organizações de mídia ocidentais foram apanhadas no mesmo fogo cruzado, incluindo The New York Times, The Washington Post e as maiores redes de radiodifusão. Mas a CNN e sua divisão global, a CNN International, tornaram-se o ponto central para os dois lados, que criticam a mídia. E, embora o lado israelense faça queixas até mais ruidosas contra a BBC, sob muitos aspectos a ignora por considerá-la impermeável (ler abaixo).

A mais recente crise começou duas semanas atrás depois que o fundador da CNN, Ted Turner, foi citado por The Guardian declarando que ?os dois lados estão envolvidos em terrorismo?. A declaração fez da CNN e sua longa e tensa história com Israel o principal assunto no país durante dias.

Walter Isaacson, o presidente da CNN, entregou então uma declaração a uma TV israelense sobre mídia, desautorizando os comentários de Turner. A mesmo tempo, anunciou que daqui para a frente só mostrará as declarações de homens-bomba ou de seus parentes em circunstâncias extremas. Numa decisão que disse não estar relacionada com a controvérsia, a emissora começou uma série especial em cinco partes sobre as vítimas de suicidas palestinos.

Somadas, as duas providências foram interpretadas por funcionários israelenses e palestinos, comentaristas de mídia e repórteres que cobrem o conflito, como um meio de apaziguar críticos da CNN em Israel e nos EUA. E levaram à animosidade entre alguns funcionários da CNN. ?Parece que estamos numa pressa indecorosa tentando consertar coisas, e penso que vamos nos enfiar num buraco mais profundo se continuarmos nesta via?, disse um funcionário da CNN em Jerusalém. Ele acrescentou que as queixas de israelenses à sucursal da emissora ali chegam do modo mais ruidoso e feroz.

Mas executivos da emissora disseram não estar apaziguando críticos, só consertando as conseqüências da fala de Turner e esforçando-se para que serem imparciais."

 

"BBC não pretende mudar linha editorial", copyright Estado de S.Paulo/The Guardian, 2/7/02

"A BBC não tem planos de mudar sua linha editorial sobre o Oriente Médio como fez a CNN. Mark Damazer, subdiretor de jornalismo, disse que cobrir a região ?é tarefa muito difícil?. Mas não acredita que a imposição de restrições sobre vídeos de homens-bomba seja resposta apropriada a críticas. ?Não aceito o argumento de que dar tempo na TV a certas pessoas legitime sua causa.?"

 

KISSINGER GENOCIDA

"Chega ao País o livro que colocou Kissinger na lista dos genocidas", copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 1/6/02

"Finalmente chega ao Brasil o livro ?O julgamento de Kissinger? (Boitempo Editorial), escrito pelo jornalista britânico radicado nos EUA Christopher Hitchens. A obra traz todo o dossiê de acusações contra o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, complementado com um prefácio à segunda edição inglesa do livro, em que Hitchens atualiza as acusações contra Kissinger. Foi um dos livros mais vendidos no passado nos EUA e na Inglaterra.

Agora podemos julgar quem é o maior genocida vivo. As acusações contra Pinochet se encontram no processo de Baltasar Garzón sobre o ex-ditador chileno e aquelas contra Milosevic estão no processo do Tribunal Penal Internacional, em Haya. Não somente falta alguém neste Tribunal, como um dossiê que fundamente o processo. É o que o livro de Hitchens faz com grande profissionalismo e acuidade.

No prefácio à nova edição, escrito este ano, Hitchens retoma cada um dos capítulos do dossiê ? Indochina, América Latina, Timor Leste, Washington ?, agregando novas provas e desdobramentos das acusações. Tudo enquadrado na constatação com que Hitchens inicia seu prefácio: ?Quando surgiu no que hoje parece ser a pré-histórica primavera de 2001, este livro provocou certo desprezo de alguns setores, e por duas razões. Alguns se recusaram a acreditar que as evidências apresentadas contra Henry Kissinger pudessem ser verdadeiras. Outros, ainda que admitindo a veracidade dos documentos oficiais, mesmo assim duvidavam da simples idéia de colocar figura tão poderosa ao alcance da lei.?

Hitchens observa, na conclusão do seu prefácio, como Kissinger se preocupa, em seu último livro ? ?Os EUA precisam de uma nova política externa?? ? com os perigos de uma nova doutrina legal da ?jurisdição universal?. Essa preocupação, segundo Hitchens, se revelou real quando um magistrado argentino convocou Kissinger para responder sobre a Operação Condor, quando ele foi visitado, de passagem por Paris, em maio de 2001, por um policial francês, que o convocou a comparecer no dia seguinte ao Palácio de Justiça para responder sobre o desaparecimento de cinco cidadãos franceses no Chile. Vale lembar que Kissinger fugiu rapidamente na tarde desse mesmo dia.

Os tribunais chilenos já escreveram várias vezes a Kissinger pedindo sua colaboração para esclarecer o caso Horman ? o jornalistas norte-americano seqüestrado e desaparecido no Chile, cujo caso foi relatado no filme ?Missing?. A própria Corte Federal dos EUA acusa Kissinger de ?execução sumária? do general chileno René Schneider. O Arquivo de Segurança Nacional dos EUA intima Kissinger a devolver 50 mil páginas de documentos públicos que ele havia retirado ilegalmente ao deixar o cargo, o que faz Hitchens prever que novas revelações assustadoras de crimes e de mentiras cometidos por Kissinger possam vir à tona nos próximos anos, propiciando assim ?a justa oportunidade de que algumas das vítimas, por iniciativa própria, busquem por justiça nos tribunais americanos e de outros países?.

Nós mesmos protagonizamos aqui um dos episódios significativos dos novos e duros tempos com que se enfrenta Kissinger. Tendo aceito um convite do rabino Harry Sobel para discursar numa cerimônia da colônia judaica em São Paulo, quando seria condecorado pelo presidente FHC, Kissinger acabou desistindo, depois de ter confirmado sua vinda, após saber que estava em curso um campanha pública contra sua viagem, que prognosticava grandes manifestações de repúdio a ele, a FHC e a seus anfitriões.

Alegava problemas de saúde, mas pouco tempo passou até que se revelou, no The New York Times, que, como se imaginava, sua decisão veio do temor de ter que responder a algumas das requisições de depoimento e, eventualmente, até mesmo de ordens de prisão que poderiam ser postas em prática contra ele. E que teria sido aconselhado pelo governo FHC para não vir, deixando de correr o risco que agora corre Kissinger em qualquer país do mundo para o qual viaje, ficando tolhido do que mais lhe agradava: viajar e exibir-se para a grande mídia, o que não lhe foi possível, nem sequer para o lançamento do seu novo livro.

Finalmente Hitchens oferece, para os que desejem aprofundar-se ainda mais nas pesquisas e no tema, que se valham do seu site: www.enteract.com/~peterk. Antes, que leiam o livro e votem. Quem é o maior genocida vivo: Pinochet, Milosevic ou Kissinger?"