Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Deonísio da Silva

ALMANAQUE ABRIL

"Estranha história da literatura", copyright Jornal
do Brasil, 9/03/03

"O Almanaque Abril 2002 (em dois volumes impressos, apresentando versão também em CD) está em sua 28? edição. Tornou-se ao longo dessas quase três décadas uma fonte muito consultada, principalmente nos circuitos escolares. A longo dos anos, algumas correções indispensáveis vêm sendo feitas. Durante vários lustros o Almanaque informava que a costa oeste do Brasil era banhada pelo Oceano Atlântico. Mas se foi corrigido um erro grave numa disciplina essencial como a Geografia, em Literatura os problemas se acumulam ano após ano. O Almanaque opera com um conceito controverso para definir o que é literatura, excluindo, por conseguinte, obras pertinentes de nossa historiografia literária e incluindo outras baseadas em conceitos ainda mais discutíveis.

Aos exemplos. A certidão de nascimento do Brasil, a Carta de Pero Vaz de Caminha, nossa primeira produção literária, é metida num espartilho teórico em que textos fundadores de nossas letras são espremidos e expressados assim: ?os primeiros registros de atividade literária escrita no Brasil não são obras literárias, e sim textos informativos?. Neste caso, por que o padre Antônio Vieira aparece no século seguinte com os seus Sermões? Sermão é literatura, mas relato de viagem não é? Por quê? Se excluirmos homens de letras como os viajantes, os padres, os cronistas (não foram nossos primeiros jornalistas?) e anônimos autores de relatórios destinados originalmente às vezes a um leitor apenas, mas que em seu conjunto expressaram a terra e o homem brasileiros, nossa literatura sofrerá a amputação de conseqüências nefastas a seu percurso histórico.

Nos registros do século 18, o equívoco conceitual leva a um desacerto maior. Com efeito, a redação incorre em falta ainda mais grave do que a da Inquisição que, ao degolar e queimar em auto-de-fé o nosso Antônio José da Silva, o Judeu, em praça pública, quando o dramaturgo tinha apenas 34 anos, pelo menos reconheceu-lhe, paradoxalmente, a existência e os escritos. O Almanaque destina-se à consulta, não à leitura. Ao indexá-lo fora de lugar, o AA complica a informação.

Nos registros do século 19, a coisa segue piorando. De nada adiantou o engenheiro e escritor Alfredo D Escragnolle Taunnay, mais conhecido como Visconde de Taunnay, ter nos legado o relato de uma das maiores retiradas militares da História, a Retirada da Laguna, e outros livros como o romance Inocência. Esta lacuna, apenas esta, sem alusão a outras igualmente graves nos apontamentos do mesmo século, inviabiliza o verbete.

No século 20, o tropeço conceitual do que seja literatura prossegue com seu séquito de tombos e contradições. Se nossas primeiras manifestações literárias, ocorridas ainda no século 16, foram jogadas ao limbo por serem obras de viajantes esclarecidos e padres letrados, no século 20 o conceito dá uma cambalhota e inclui, acertadamente, aliás, mas incoerente com o conceito abraçado pelo Almanaque, o relato de outro engenheiro, também militar e para sorte da memória nacional também escritor, sobre outra expedição, esta, sim, ao contrário de Retirada da Laguna, vergonhosa para nosso Exército, o massacre de Canudos, eternizado em Os sertões, de Euclides da Cunha.

Exclusões incompreensíveis e sobretudo inaceitáveis continuam no século 20. Excluem a ninguém menos do que quem inventou o monólogo interior antes de James Joyce, ignorado por ter a desvantagem de ter escrito em língua portuguesa, um dialeto da Galáxia Gutenberg. Refiro-me a Adelino Magalhães. Por ser de Niterói, talvez nossos pesquisadores, financiados pelo CNPq ou pelo que eu-não-sei-pra-quê pensem tratar-se de monólogo do interior, a quem ninguém dá a devida importância pelo único motivo de seu autor não estar ao alcance da capital paulista. Vários dos escritores citados pelo Almanaque na breve nota sobre o século 20 não têm a mesma importância desse excluído.

Muitos autores do século 20 são nossos contemporâneos. É justo que um escritor como Rubem Fonseca não apareça nos registros, ainda que sumários, referentes à década de 1960, em que surgiu com sua obra inventiva e vulcânica, aprofundada na década de 1970, quando a proibição de seu livro de contos Feliz ano novo tornou-se um caso-síntese das lutas que escritores e censores travaram, inclusive nos tribunais?

Os equívocos não param. Pero Vaz de Caminha não fez literatura com a Carta, nem os padres letrados com suas poesias e obras de catequese, mas Fernando Morais fez com Chatô, merecendo o destaque negado a outros igualmente importantes.

De resto, não se conclua sem o reconhecimento de que o Almanaque Abril 2002, malgrado a irresponsabilidade editorial no item específico de Literatura – devemos dar às coisas os nomes pelas quais são conhecidas – é uma copiosa, complexa, rica e formidável fonte de pesquisa para os outros quesitos, sendo consultado principalmente nos circuitos escolares. (Deonísio da Silva é escritor e professor universitário, doutor em letras pela USP. Seu livro mais recente é o romance Os guerreiros do campo)"

 

PUBLICIDADE EM QUEDA

"Mídia cai 5,3%; TV aumenta concentração", copyright Folha de S. Paulo, 6/03/02

"Os investimentos publicitários em meios de comunicação no ano passado caíram 5,3% em relação a 2000. É o que revelam dados preliminares do Inter-Meios, o estudo mais confiável sobre publicidade em mídia, que a revista ?Meio & Mensagem? publica no dia 11.

Os 90% dos meios de comunicação que participam da pesquisa movimentaram R$ 9,322 bilhões em 2001, contra R$ 9,847 bilhões em 2000. A queda de 5,3% é nominal. Se fosse considerada a inflação, chegaria a 18%. Em relação ao dólar, a retração atingiria 25%.

O meio televisão aumentou a concentração das verbas publicitárias. Passou de 56% em 2000 para 57,3% sua participação no bolo dos investimentos, mas mesmo assim teve uma queda nominal de 3,3% no faturamento. Revistas mantiveram a fatia de 10,6%. Os demais meios caíram. A participação dos jornais caiu de 21,5% para 21,2%. A TV paga, que faturou R$ 172 milhões em 2000, teve queda de 18,1% no faturamento.

A Globo e suas afiliadas, que detêm 78% do mercado nacional de publicidade em televisão, teriam faturado cerca de R$ 4,2 bilhões.

O Inter-Meios é produzido pela Price-Waterhouse Coopers a partir de informações fornecidas por 90% dos veículos. A esse total, somam-se estimativa referente aos 10% dos veículos não-participantes e outra aos custos de produção de anúncios. Em 2001, esse número deve ficar em torno de R$ 12,5 bilhões (R$ 12,8 bilhões em 2000).

OUTRO CANAL

Panela 1

Diretora-geral da TV Globo, Marluce Dias da Silva não sofre pressão apenas dos acionistas da emissora, que na semana passada nomearam Henri Philippe Reichstul presidente da holding Globopar, com a missão de sanear as contas do grupo.

Panela 2

Marluce também sofre pressão do segundo escalão, os chamados diretores de centrais. Um deles, veterano, está demissionário. Já contratou advogado para estudar rescisão de contrato. Reclama da falta de autonomia.

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A participação de Pelé em ?O Clone? ajudou a novela a dar 50 pontos de média anteontem. Mas foi puro merchandising, um chute no ?padrão Globo de qualidade?.

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Pelé falou mal da seleção, divulgou sua exposição no Masp (que está indo para o Rio, anunciou) e ainda lançou uma ?música caça-níqueis? sobre a Copa do Mundo. O próximo esportista a aparecer na novela, sábado, será Oscar Schmidt.

Pendência

Jorge Kajuru criou um probleminha para a Rede TV!. Se recusa a estrear o ?Kajuru Reality Show?, dia 11, no horário do ?Gabi?, por volta das 23h30. Não quer ser acusado de antiético."