Victor Gentilli
cidadão Uchoa de Mendonça é o único capixaba com poder de expressar suas idéias e opiniões diariamente. No jornal impresso, sua coluna compartilha a página de horóscopo, palavras cruzadas, quadrinhos e outros desperdícios de papel (com raríssimas exceções em uma ou outra tira capixaba). A regra geral é um texto ruim, cheio de erros de português e com assuntos e argumentos de botequim. Muitos leitores do Espírito Santo já aprenderam a não dar valor aos seus textos. Infelizmente nem todos.
Há uma única exceção na página que abriga o senhor Uchoa: ao lado do sempre anacrônico colunista, há um espaço para crônicas, escondido, mal aproveitado e oscilante. Alguns bons cronistas dividem o espaço com outros que parecem estar lá por motivos onde, sabe-se apenas, a qualidade literária ou jornalística não é o critério.
Descuidos editoriais elevaram Uchoa de Mendonça a uma posição nobre na edição on-line do jornal. Sua coluna está visível, ostensiva, acessível por poucos cliques. Onde, aliás, as crônicas do jornal impresso estão de fora. Como que para compensar, a edição on-line publica uma seção de crônicas primorosa – não acessível ao leitor do jornal impresso, infelizmente escondida e difícil de achar (sequer coleciona as atrasadas).
Parecem descuidos editoriais. Pode haver outros motivos.
Na última edição do ano passado, comentou-se neste OBSERVATÓRIO uma série de três artigos onde o colunista em pauta destilava um anti-semitismo raivoso. Pois bem, no mesmo dia 11 de dezembro em que saiu o primeiro artigo, o jornal recebeu pelo menos duas cartas, uma de Nahum Sirotsky, de Jerusalém; outra de Isak Bejzman, de Porto Alegre. A primeira foi publicada (na seção de cartas) poucos dias depois e imediatamente recebeu réplica do autor (que não costuma responder cartas).
A tréplica foi enviada no mesmo dia e até hoje não foi publicada. A carta de Isak Bejzman simplesmente não foi publicada. O jornal publicou uma terceira carta de um leitor de Vila Velha, criticando Uchoa e elogiando o primeiro texto de Nahum Sirotsky. E só.
Ironia do destino: dia 27 de janeiro, o velho Uchoa volta à carga anti-semita com um novo artigo intitulado “O direito de cada um”. O artigo lembra que a liberdade é um bem importante e defende o direito dos alunos do Colégio Militar de Porto Alegre de admirarem Adolf Hitler. Neste novo artigo, afirma textualmente: “Quem leu Minha Luta, de Adolf Hitler, não pode deixar de admirá-lo, considerá-lo como uma das grandes personalidades do século.”
Pena que o mesmo jornal que abriga Uchoa diariamente impeça Nahum Sirotsky e Isak Bejzman (entre outros) de expressarem suas opiniões, nem que seja na seção de cartas.
Parecem descuidos editoriais. Pode haver outros motivos.