Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Diego Assis

PASQUIM 21

"Ziraldo faz ?O Pasquim? renascer", copyright Folha de S. Paulo, 18/02/02

"?Temos a redação mais bem localizada do Brasil?, ufana Ziraldo Alves Pinto, 69, em Botafogo, no mais novo Q.G. do nem tão novo assim semanário ?O Pasquim?, símbolo da resistência contra o regime militar que volta a circular nas bancas de todo o país a partir de amanhã. ?Você está vendo o Pão de Açúcar daí??, provoca.

Com 44 páginas em formato standard, tiragem inicial de 100 mil exemplares e distribuição em todo o território nacional, ?O Pasquim 21?, como passa a ser chamado, terá também ?a maior charge jamais publicada no país?, garante Ziraldo.

?O Aroeira fez a caricatura de cada um dos 46 eleitores da Roseana, já que, até agora, ela não disse ainda de que lado está?, ironiza o cartunista.

E não é só isso, a nova versão do jornal oferece ainda uma opção de anúncios personalizados para os assinantes empresariais.

?Já estou sentindo saudades de quando éramos acusados de receber ouro de Moscou. Agora, não sei mais onde arrumar dinheiro?, brinca Ziraldo, que, na verdade, conta com a ajuda da Sirius Sistemas Digitais e da Prefeitura do Rio de Janeiro, que comprou uma página para divulgar eventos culturais da cidade. ?É o que sustenta o jornal. A idéia é tentar fazer isso também com São Paulo, Porto Alegre, Brasília etc.?

Quem conhece a trajetória de ?O Pasquim? sabe que dinheiro nunca foi o forte de ninguém que estivesse no comando. Não que ele não entrasse, ainda mais em uma publicação que atingia a marca de 200 mil exemplares em plena vigência do AI-5, o problema era administrativo.

?A censura hoje é econômica. Se eles saírem por aí malhando todo mundo, não vai sobrar anunciantes nem gráfica para rodar?, pondera Gualberto Costa, cartunista e dono de ?quase todas as edições do ?Pasquim?, que em breve farão parte do primeiro Museu de Artes Gráficas do país, que está sendo montado em São Paulo.

?No caso de ?Bundas?, a escolha do nome foi um erro. Acabamos afastando os anunciantes com isso?, afirma Ziraldo. ?Achava que as pessoas iriam se acostumar, como fizeram com ?Casseta? (publicação carioca que antecedeu o humorístico da Globo).? Coisa que não aconteceu. Depois de pouco mais de um ano de existência, a revista foi sumindo aos poucos das bancas e aumentado cada vez mais a dívida do cartunista. ?Ainda devo uma baba na praça, algo em torno de R$ 1 milhão?, diz.

Divergências pessoais, profissionais e o medo de entrar em mais uma fria tiraram da jogada outros veteranos de ?O Pasquim?, como Millôr Fernandes e Jaguar. ?O Jaguar acha que eu estou exumando um cadáver. É natural, ele deu o nome, que a gente comprou agora, mas ?O Pasquim? criou vida própria há tempos?, fala Ziraldo. O assunto, de fato, ainda divide opiniões. ?Acho que eles poderiam ter escolhido outro nome. Para quem acompanhou de perto, a lembrança dos últimos anos de ?O Pasquim? não é muito boa. É como se o Pelé tivesse continuado jogando e resolvesse voltar 20 anos depois?, opina Gual.

?Não vejo problema, é só uma tentativa de recuperar o espírito de irreverência da época. Se vai dar certo, eu não sei?, afirma Luís Fernando Verissimo, que participou dos tempos áureos da publicação e que, agora, contribuiu com texto de abertura da nova. ?O importante é apresentar essa gente que não tem espaço para mostrar seu trabalho?, diz Veríssimo.

O PASQUIM 21 – nova versão semanal da publicação dos anos 70. Lançamento: amanhã, nas bancas de SP, RJ, MG e outros. Preço: R$ 2,90 (44 págs. cor)."

 

MÍDIA & FUTURO

"Os caminhos da mídia", copyright Folha de S. Paulo, 15/02/02

"Embora a internet e a chamada confluência de mídias já sejam um fenômeno consolidado, nos próximos anos ainda haverá longo caminho a ser trilhado pelas empresas jornalísticas em nível mundial. Esgotou-se o modelo atual, das super-redações e superestrutura. É questão de tempo para que a mídia se dê conta disso, ainda mais agora em que o embricamento mídia-entretenimento exige capitalização intensiva -e capitalização exige rentabilidade.

A tendência das grandes corporações mundiais -mídia à parte- é centrar o foco no seu miolo estratégico e valer-se dessas vantagens para promover associações e parcerias em áreas não-estratégicas, visando rentabilizar a empresa como um todo. Nenhuma empresa, por melhor que seja, conseguirá se tornar especialista em todo o leque de atividades que sua posição estratégica lhe faculta.

A vantagem comparativa dos bancos comerciais reside na rede de agências. O fato de serem bons varejistas não os torna automaticamente bons gestores de cartões de crédito, de planos de previdência, de seguros etc. Muitos bancos se associam então a especialistas da área, entrando na sociedade com um valor intangível e relevante: sua rede de agências.

Da mesma maneira, em países avançados são comuns parcerias de grandes empresas com predomínio de mercado com pequenas empresas especializadas atuando em nichos. A razão é a mesma. A grande empresa tem canais de distribuição, marca, força de venda, mas não tem quadros que lhe permitam atuar eficientemente em todos os nichos de mercado. A pequena empresa não tem canais de venda, mas tem agilidade e capacidade de inovar em sua área específica. O potencial de crescimento aumenta vertiginosamente, porque não mais limitado pelo estoque de cérebros e de recursos da empresa-mãe.

A mídia brasileira ainda atua de forma verticalizada, da mesma maneira que a maioria das empresas brasileiras do período pré-abertura. E não apenas ela, mas muitas de suas congêneres mundiais. Disso resulta um modelo de organização inviável nas condições modernas da economia: super-redações demandando infra-estruturas gigantescas, prédios, equipamentos; capacidade de expansão do produto condicionada a limitações de ordem financeira e de pessoal. E incapacidade de avançar em diversas outras áreas, como entretenimento, produtos especializados etc.

Em geral, a mídia é muito ciosa na preservação do controle de qualidade editorial das notícias. E notícias são menos padronizáveis do que, por exemplo, tênis da Nike. Mas há diferenciações na produção jornalística.

O coração de um jornal é sua imagem, marca, penetração de mercado, estrutura comercial, padrão editorial (conjunto de regras e padrões que precisam ser seguidos) e gestão estratégica diária de produto, com pauteiros para controlar a produção e editores e redatores para garantir e homogeneidade da edição.

Já a produção propriamente dita pode ser dividida em três níveis. Há as reportagens especiais, estratégicas, cuja definição tem que partir dos pauteiros da casa e, de preferência, serem cobertas por repórteres especiais da empresa. Um segundo nível é o noticiário ?commoditizado?: reportagens simples, coberturas de eventos, coletivas, cobertura de mercado, que pode ser terceirizado sem maiores implicações. Um terceiro nível é o dos cadernos especializados, especialmente os de serviço, que podem ser terceirizados com supervisão editorial do jornal.

Esse caminho é inevitável. Apenas há dúvidas sobre o tempo necessário para que se tome consciência dele."